Na noite da última quarta-feira (03), a Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, a PEC dos Precatórios, com 312 votos a favor e 144 contra. Eram necessários dois terços dos votos totais para a aprovação da emenda e o presidente da Casa, Arthur Lira (aliado de Bolsonaro), conseguiu quatro a mais do que necessitava.
A medida foi aprovada após uma grande reviravolta. Na semana passada, em uma votação teste em plenário, apenas 256 deputados haviam votado favoravelmente à PEC. Desta vez, 82 parlamentares que, na semana passada, haviam faltado na votação ou sido contrários à proposta, agora votaram a seu favor.
A PEC é um recurso de Bolsonaro para driblar o teto de gastos a fim de assegurar a aplicação do Auxílio Brasil. Ela permite ao governo parcelar o pagamento dos precatórios aos credores, garantindo dinheiro para o auxílio.
O teto de gastos é uma imposição dos capitalistas para impedir o Estado de gastar o dinheiro público com quem deveria gastar ─ isto é, o povo ─ e garantir a “responsabilidade fiscal”, o enxugamento do Estado, que significa o desvio de dinheiro do Estado para os capitalistas estrangeiros, particularmente os banqueiros e especuladores.
Bolsonaro, por sua vez, revela-se novamente o que é. Demagogo, para conseguir dinheiro a fim de fazer campanha eleitoral, ele frauda o teto de gastos sem, no entanto, romper essa imposição arbitrária dos capitalistas. Bolsonaro está driblando o teto sem atingir diretamente os bancos, apenas indiretamente, por isso, mesmo assim, a burguesia é contra sua manobra. Se depender dos capitalistas, o teto de gastos deveria ser rebaixado ainda mais e nenhum dinheiro, mesmo que mínimo, deveria ser gasto com a população.
Os partidos da oposição de esquerda, em sua sanha de se opor cegamente a Bolsonaro, bradam contra a PEC, seguindo a burguesia. O problema é que, no final das contas, Bolsonaro conseguiu, em português bem claro, comprar os deputados do centrão (mais uma vez!) e acabou vencendo a votação. Isso mostra como eles são fisiológicos.
Agora, Bolsonaro abre caminho para poder garantir o Auxílio Brasil (de 400 reais) e se apresentar como o grande pai dos pobres, aumentando seu prestígio eleitoral. Com o apoio dos heróis da nação, como a esquerda enxerga os parlamentares do centrão. PSDB, PDT, MDB e outros votaram majoritariamente ou praticamente de forma paritária a favor da PEC de Bolsonaro.
A esquerda, por sua vez, ao não se posicionar criticamente, defendendo a quebra total do teto de gastos e um auxílio verdadeiro, ao simplesmente querer rejeitar qualquer proposta de Bolsonaro, preferindo nada do que o que Bolsonaro oferece, ela se apresenta ao público como inimiga da população, que está passando fome e necessidades.
Além disso, sua crença no apoio do centrão ao Fora Bolsonaro e mesmo a uma candidatura de Lula é novamente posta em xeque, porque se viu mais uma vez (assim como na questão do voto impresso e outras) que o centrão, no final das contas, pode facilmente ser comprado por Bolsonaro.
Quem garante que isso também não vai ocorrer nas eleições de 2022? E agora a esquerda fica com o mico na mão: Bolsonaro vai atacá-la dizendo que é contra o auxílio aos pobres.
A burguesia, por sua vez, faz forte campanha contra a PEC dos Precatórios, a favor da manutenção do teto de gastos sob o princípio da responsabilidade fiscal. Ela não quer nenhum gasto com os pobres.
Isso comprova que não vai aceitar um governo Lula, que é um governo que necessitaria fazer uma política social mínima para a população.
A esquerda precisa deixar de lado o cretinismo parlamentar, as ilusões com os partidos da direita “democrática” e com a propaganda da burguesia supostamente anti-Bolsonaro. Porque, até o momento, está caindo como um patinho no jogo do golpe. E o golpe é contra ela.