No último período, a hostilidade do imperialismo norte-americano ao governo nicaraguense ficou mais que evidente. Sem sucesso, os Estados Unidos, principalmente por meio de seus porta-vozes na imprensa, tentaram pressionar o presidente Daniel Ortega nas eleições. Ortega não cedeu à pressão, reagiu e colocou na cadeia alguns dos conspiradores.
A campanha contra a Nicarágua é muito semelhante à campanha contra a Venezuela. Diferentemente de países como o Brasil e o Paraguai, a Nicarágua tem um governo popular, estabelecido em meio a um verdadeiro movimento de massas: o sandinismo (mesmo após a capitulação que levou a revolução de 1979 à derrota). Como todo governo popular, Daniel Ortega é incapaz de levar adiante um programa de completa submissão ao imperialismo, como têm feito Bolsonaro e Temer no Brasil.
Daniel Ortega é uma típica expressão do nacionalismo burguês latino-americano. É apoiado por amplas massas, mas seu programa é contraditório. Ao mesmo tempo em que é incapaz de romper com a burguesia, está em constante contradição com o imperialismo.
Uma das mais importantes contradições no caso da Nicarágua é a construção do Canal da Nicarágua. O projeto é apoiado em peso pelo povo nicaraguense. Segundo as palavras do próprio Ortega, a construção “teve o apoio da maioria da população, embora sempre haja um setor que o questione, especialmente esses grupos que hoje estão prejudicando o país, que também são contra o canal”. O presidente considera o projeto tão importante que acredita que será capaz de fazer com que a Nicarágua deixe de ser “o segundo país mais pobre da América Latina”.
A animação não é para menos. Com o canal, abrir-se-á uma nova rota marítima entre os oceanos Atlântico e Pacífico, o que beneficiaria a China, forte concorrente comercial dos Estados Unidos e aliada da Nicarágua. Estima-se que o projeto, o maior da história da Nicarágua, terá um custo de US$40 bilhões (cerca de R$85 bilhões), o que equivale a quatro vezes o PIB nicaraguense!
O objetivo da construção do canal é fazer com que os mares nicaraguenses cumpram o mesmo papel para a China que hoje cumpre o Canal do Panamá para os Estados Unidos. O canal, afinal, possibilitará ampliar o comércio de produtos chineses na América Latina como um todo.
Mas não se trata apenas de uma conquista do governo nicaraguense ou do governo chinês. O Canal da Nicarágua é uma das maiores conquistas da história dos povos latino-americanos. Ao contrário do Canal do Panamá, não é uma medida imposta pelo imperialismo. Nesse sentido, é um símbolo de soberania e afronta ao imperialismo norte-americano.
A construção do Canal da Nicarágua, passando por cima dos embargos norte-americanos, é um passo da Nicarágua e de todos os povos latino-americanos para a liberdade. Uma derrota para o imperialismo norte-americano e uma porta escancarada para o desenvolvimento nacional e conjunto, na luta pela libertação e emancipação de nossos povos.