“É, meus caros…”, diriam alguns. O impossível aconteceu! O Talibã, um agrupamento altamente confuso politicamente e quase sem recursos, foi bem sucedido na tarefa de expulsar do Afeganistão o poderoso imperialismo norte-americano, com o apoio do povo, que há tempos estava farto da dominação estrangeira que acorrentava o desenvolvimento do seu país.
Esse é o tipo de fato que entra para a história, e que serve de exemplo para os oprimidos de todo o mundo. Logo, a esquerda, o setor que está do lado dos oprimidos na luta de classes, naturalmente está em festa, e prestando ampla solidariedade ao heroico do povo do Afeganistão, que agora que conseguiu se libertar das garras do imperialismo, sofre duros ataques na imprensa internacional no intuito de preparar o terreno para um retrocesso nessa conquista. Não está? Na realidade… não! Não só não há solidariedade nenhuma com a complexa situação do povo afegão, como chovem ataques, coisa que é, no mínimo, surpreendente.
A inusitada situação, nos leva a repensar um pouco o caráter da esquerda nacional, pois o Brasil é um dos poucos países hoje onde a esquerda não está vibrando com a derrota do imperialismo. Isso nos leva a repensar até se a definição de esquerda é adequada para essas organizações que estão escandalizadas com a conquista dos afegãos e saem em defesa do imperialismo.
A maneira que a esquerda se posicionou com relação ao que aconteceu no Afeganistão é terrivelmente alinhada com os setores “civilizados” da direita, que são sabidamente capachos do imperialismo.
Esse coro com a direita imperialista é inaceitável, visto que é a obrigação daqueles que reivindicam defensores dos explorados, defender a afirmação dos povos oprimidos contra o imperialismo. Esse é um princípio essencial para quem quer ser de esquerda de verdade.
Para se justificar, e manter as aparências, a esquerda se apoia em mil e uma acusações contra aqueles que estavam à frente da insurreição dos afegãos, o Talibã. Ela diz que estes são antidemocráticos, machistas, homofóbicos, e entre outras colocações identitárias laterais que servem para desviar a atenção do real problema. O imperialismo foi derrotado no Afeganistão, e a esquerda brasileira está contra isso, está contra a libertação dos oprimidos das garras dos opressores e está apoiando a opressão imperialista, usando o identitarismo como pretexto.
Se a esquerda pretende fazer política desta maneira, podemos afirmar sem medo de errar que o insistente discurso da esquerda em defesa e em solidariedade aos oprimidos, que ultimamente não tem sido uma defesa do conjunto, mas sim de uma parcela bem específica destes oprimidos, é apenas conversa mole para enrolar o povo e arranjar um cargo muito bem pago no Congresso Nacional, local onde não se fala nos interesses do povo, apenas nos interesses da burguesia exploradora.