O cenário eleitoral brasileiro começa a adquirir contornos mais claros e seus sinais não são nada alvissareiros para a esquerda e para o povo brasileiro. Um novo golpe eleitoral da burguesia paira sobre nossas cabeças. A estratégia da chamada terceira via, isto é, a política do mais importante setor da burguesia em aliança com setores imperialistas, notadamente, os Estados Unidos, para levar ao poder um candidato da direita neoliberal tradicional, chega a algumas definições.
O tucano e governador de São Paulo, João Doria, que dispõe de um gigantesco aparato político e financeiro, aparece como o candidato mais cotado deste bloco político para concorrer às eleições presidenciais de 2022, seu nome, aparentemente, já estaria escolhido. Com isso seguirão, ao que tudo indica, um roteiro já utilizado com sucesso em outras eleições no mundo. Trata-se de fazer um candidato sem votos, como João Doria, chegar ao segundo turno das eleições polarizadas.
Assim, como foi feito em outras eleições, como na França que elegeu Emmanuel Macron com baixíssimo percentual de votos. Para isso necessitam reduzir o coeficiente eleitoral ao máximo possível, a estratégia consiste em multiplicar os candidatos para pulverizar os votos, ao mesmo tempo desencorajar, por meio de campanha intensa na imprensa capitalista, a população de ir votar. Assim, um candidato com votação baixa, por exemplo 20%, tem chances de ir ao segundo turno.
De outro lado, a burguesia unificada, ao menos importantes setores, e somada a máquina administrativa e financeira de São Paulo, com o controle de currais eleitorais e com muitas verbas e campanha, por meio destas manobras, consiga alcançar um patamar de votação, que embora baixo, lhes permita levar seu candidato ao segundo turno.
O cenário ideal para a terceira via, seria ir ao segundo turno, não contra o ex-presidente Lula, mas contra Bolsonaro. Assim, a contragosto, poderia arrastar para si parte significativa dos votos do ex-presidente Lula, inclusive com apoio de setores da esquerda que desde já apoiam a terceira via. Assim, o milagre de eleger um candidato minoritário tornar-se-ia uma vez mais realidade.
Coloca-se a questão fundamental: a candidatura do ex-presidente Lula. Fica evidente que a burguesia pretende retirar o ex-presidente do pleito, o que de maneira nenhuma pode ser subestimado. De todo modo farão uma campanha implacável contra o ex-presidente Lula para diminuir ao máximo sua votação, e na hipótese de um terceiro turno Lula contra terceira via, unificarão toda a burguesia, a direita e a extrema-direita contra a candidatura da esquerda.
Aí levanta-se mais um questionamento importante, a luta em torno do voto impresso. Bolsonaro que há décadas é membro do baixo clero do Congresso Nacional, portanto, conhece bem os meandros das eleições, levantou, por pura demagogia, a questão de fraude eleitoral e pediu que fosse criado um dispositivo de aferição a mais, isto é, a impressão do voto para ser depositado em uma urna e permitir a comparação.
Criou-se por isso uma verdadeira guerra entre as instituições e os partidos da direita que fazem parte do bloco político da terceira via e o bolsonarismo, inclusive setores da esquerda, ao invés de ter uma posição independente, passaram para o bloco da terceira via nesse quesito.
A direita tradicional se opôs de maneira absoluta ao voto impresso. Mas a impressão do voto é uma questão completamente razoável: se há suspeita sobre possibilidade de fraude eleitoral, porque não adotar um instrumento a mais que permita comparar os resultados?
Fica evidente que a fraude eleitoral, com a manipulação dos resultados das urnas, é um dos dispositivos que contam e talvez o mais importante na estratégia eleitoral da terceira via para chegar ao poder. Se não é assim, por que temem tanto o voto impresso?