Ocorreu neste domingo (21) o primeiro turno das eleições no Chile. Para o segundo turno, passaram um candidato de extrema-direita e um pseudoesquerdista. José Antonio Kast (Partido Republicano) com 27,92% dos votos, seguido do adversário da “esquerda” Gabriel Boric (Convergência Social), que teve 25,80%. A próxima etapa será no dia 19 de dezembro. O país também realizou votação para 155 assentos na Câmara dos Deputados chilena, 27 dos 50 assentos no Senado e todas vagas para os 16 conselhos regionais do país.
Boric é um político da tática da “frente ampla”, uma espécie de Ciro Gomes que se finge de esquerda. Durante a campanha o candidato fez questão de condenar o governo de Maduro na Venezuela e de reprovar os cumprimentos de um líder comunista chileno à recente vitória de Daniel Ortega na Nicarágua. “Em nosso governo, o compromisso com a democracia e os direitos humanos será total, sem endossos de qualquer espécie a ditaduras e autocracias, quem quer que as incomode. A Nicarágua precisa de democracia, não de eleições fraudulentas ou perseguição de oponentes”, declarou Boric em suas redes sociais.
É preciso perceber que a burguesia conseguiu o que queria: colocar esses dois candidatos no segundo turno para obrigar a esquerda a apoiar Boric utilizando o fascista Kast como espantalho. A imprensa em geral pinta Boric como uma liderança que está lutando contra um ditador ligado ao nazismo. Mas na realidade estamos diante de um burguês direitista que irá buscar a continuidade do modelo neoliberal, com medidas no máximo paliativas supostamente em favor da população, mas é uma clara tentativa de estabilizar o regime político apodrecido chileno. Porém, se sentir a necessidade, a burguesia também poderá eleger Kast, que é um fascista pior que Piñera.
O que é necessário salientar é que há menos de dois anos o Chile teve levantes populares de características revolucionárias que colocou em xeque todo o governo de Sebastián Piñera e tudo que ele representava. A esquerda, no entanto, se recusou a romper com o regime político e a intensificar as mobilizações, traiu o movimento e fez um acordo com a burguesia para levar a luta para as instituições a fim de controlá-la. Assim, ela acordou uma constituinte fraudulenta, muito demagógica, que atenderia a interesses identitários mas que não modificaria em nada. Inclusive um dos lemas principais de campanha de Boric é que este “será o primeiro governo ecologista do Chile”.
Toda essa manobra conjunta da burguesia com a esquerda pequeno-burguesa e reformista levou ao esfriamento das mobilizações e possibilitou que a burguesia se reagrupasse. Logo, a burguesia conseguiu controlar as eleições e colocar no segundo Boric e Kast. A burguesia conseguiu, em certa medida, reverter momentaneamente a situação gravíssima em que se encontrava ─ graças ao apoio da esquerda.
O caso chileno comprova o quão nociva é a política de setores da esquerda, também no Brasil, de ficar a reboque da direita “democrática” em uma frente ampla, bem como abandonar a luta nas ruas para levá-la para as instituições, controladas rigorosamente pela burguesia.