As articulações políticas no interior da esquerda nacional, ou em setores dela, para as eleições estaduais em 2022 mostram claramente a tendência política geral: a formação de um polo político forte contra o Partido dos Trabalhadores e, sobretudo, a candidatura do ex-presidente Lula. Polo que agrupe a direita tradicional e setores de esquerda ─ o resultado dessa política será a derrota da esquerda. Guilherme Boulos e o PSOL, ao que tudo indica, terão um papel importante na conformação desse bloco.
Um sinal dessa aliança entre setores da direita e setores da esquerda contra o PT é o caso de São Paulo, que poderá ser seguido ainda em outros Estados. Fernando Haddad (ex-ministro da educação, ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato à presidência) deverá ser o candidato ao governo de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores, um candidato eleitoralmente forte e que no plano ideológico corresponde perfeitamente à concepção da maioria da esquerda pequeno-burguesa como o PSOL, por exemplo.
No entanto, não houve aliança em torno de Fernando Haddad, mesmo as pesquisas mostrando que candidatura única estaria na frente na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes. Boulos pretende emplacar sua própria candidatura ao governo do Estado. E mais, mostrando claramente a tendência supracitada, Boulos procura firmar uma aliança com a direita, com o PDT, partido de Ciro Gomes. Cumpre papel ainda o aliado do PDT, o PSB, partido de direita que agrupa agora dois elementos de destaque da esquerda pequeno-burguesa, o ex-psolista Marcelo Freixo, possível candidato a governador no Rio de Janeiro e Flavio Dino, governador do Maranhão, que deixou o PCdoB recentemente.
Assim, em três estados criaram uma oposição à candidatura petista, e não se trata de uma diferença de propostas ou programa, existiria mesmo uma maior familiaridade esquerdista de Boulos, por exemplo, com Haddad, do que com o PDT, pelo menos aparentemente. É mero cálculo político, utilizando a possível candidatura como elemento de barganha.
Outro aspecto essencial dessas alianças que estão se formando é a questão da candidatura presidencial.
Uma vez conformada a aliança entre PSOL, PDT e PSB, estes estariam ligados à candidatura de Ciro Gomes, em oposição à candidatura Lula. Teríamos assim três Estados importantes, cujos candidatos de esquerda com algum respaldo popular estariam em campanha contra Lula e em favor de Ciro Gomes, ou seja, da direita. Fica evidente o objetivo político das candidaturas da esquerda: dividir a votação e a base social do PT em favor da direita tradicional.
Outro aspecto do caráter direitista da manobra é que o possível candidato Boulos teria convidado o apresentador de extrema-direita José Luiz Datena, hoje no PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu, para ser vice em sua chapa, segundo palavras do próprio Datena, o que não foi desmentido pelo possível candidato psolista.
Boulos e o PSOL tornam-se, com essas alianças firmadas com a direita e até com a extrema-direita, instrumentos nas mãos da direita para serem usados contra a esquerda e o povo. Para a burguesia é decisivo derrotar Lula e o PT, que expressam neste momento o rechaço das massas ao golpe e à política neoliberal dos golpistas. Para isso utilizam-se de setores da esquerda dispostos a dar uma mão.
Alguns poderiam objetar, contudo, que também o PT e Lula fazem acordos e alianças com a direita, no entanto, há uma diferença que torna a situação do PSOL e de Boulos muito pior.
A da esquerda com a burguesia e seus partidos, salvo em situações muito excepcionais, como uma guerra contra o imperialismo etc., é sempre algo negativo, uma capitulação e uma traição em grande medida aos trabalhadores. Porém, nem toda aliança é igual, os termos dessa aliança, ou seja, o que cada setor terá de abrir mão em prol da aliança, se dá somente mediante a avaliação da força de cada campo. Se os dois campos são fortes haverá concessões de ambas as partes, embora a burguesia sempre imponha a manutenção de seus status quo. Se um dos campos é fraco, no caso a esquerda, a aliança é meramente formal, trata-se mais de uma servidão voluntária, muitas vezes em troca de míseros benefícios pessoais.
Essa é a diferença entre Lula e Boulos, o ex-presidente é uma força social, pois é, por assim dizer, expressão do desenvolvimento da classe operária e setores mais pobres do país e a eles permanece ligado. Boulos ao contrário, representa somente ele mesmo, e sua aparente notoriedade se deve mais à campanha da burguesia em torno dele, para contrapô-lo à liderança do ex-presidente Lula, do que a qualquer outra coisa. Assim uma liderança artificial, que não tem condições de impor absolutamente nada nos termos do acordo e tão somente seguir o que foi determinado.
Os revolucionários, como é o caso do PCO, rechaçam veementemente qualquer acordo ou aliança ficando à reboque da burguesia para chegar ao poder acreditando que se chegará ao poder. Queremos mesmo derrubá-los e extingui-los como classe social, expropriando e socializando os meios de produção. No entanto, não se pode furtar de enxergar a diferença entre aqueles que não sendo revolucionários veem na aliança a forma de conquistar pequenas coisas para o povo e aqueles que estão somente a serviço dos capitalistas.
