Como parte de sua campanha histérica contra a Rússia, a imprensa burguesa hoje apresenta Vladimir Putin como um verdadeiro monstro. Ontem (24), o vice-presidente do governo Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, chegou a compará-lo a Hitler. A Folha de S.Paulo e o Estado de S. Paulo, que procuram a todo custo descredibilizar a esquerda que denuncia as atrocidades do imperialismo, agora — pasmem — criticam o “imperialista” Putin.
Trata-se de uma campanha cínica, obviamente, aos moldes do que foi feito com Lula — “o comandante-chefe da corrupção” — e com Nicolás Maduro — um “narcotraficante”. No entanto, revela, ainda mais do que em outros casos, o pavor que a burguesia mundial está criando do presidente russo.
E não é para menos. Líder de um país bastante atrasado economicamente, menos industrializado que o próprio Brasil, Putin tem se destacado por sua imensa capacidade política. Qualquer um que conheça política minimamente a fundo deve reconhecer que Putin é o maior estrategista geopolítico dos últimos séculos.
Ao contrário da decadência total do imperialismo, Putin e sua equipe são pessoas com o pensamento muito mais estratégico do que o imperialismo. Tudo indica que toda a operação militar que está em curso no momento já havia sido previsto por Putin, como um enxadrista que antecipa várias jogadas com sua experiência.
Em um primeiro momento, quando a situação se encontrava em um grande impasse — o imperialismo se recusava a voltar atrás no plano de incluir a Ucrânia na OTAN, pois seria mais uma derrota humilhante, e a Rússia se recusava a voltar atrás porque isso mostraria uma fragilidade diante dos Estados Unidos —, Putin retirou as tropas da fronteira com a Ucrânia, em um gesto de boa vontade para que o conflito se dissipasse. Eis que, no entanto, por motivos pouco esclarecidos, a Ucrânia disparou uma bomba na região do Donbass, onde estão as repúblicas autodeclaradas de Lugansk e Donetsk, de maioria russa e de oposição ao governo neonazista ucraniano.
O ataque ucraniano, ainda mais em um momento em que a Rússia havia acabado de retirar as tropas, forneceram as condições ideais para que Putin organizasse uma ofensiva. A Duma russa, sob comando de Putin, votou pelo reconhecimento de Lugansk e Donetsk como nações soberanas. Putin segurou o reconhecimento do território até o momento ideal, além de ter tratado com muita habilidade as tentativas de golpe no Cazaquistão e na Bielorrússia, conquistando uma estabilidade decisiva para o conflito com a Ucrânia.
Agora, Putin está com todas as ferramentas para uma invasão legal à Ucrânia, pois o Tratado de Minsk diz que a Ucrânia deve respeitar, e não atacar o Donbass. Com Donbass reconhecida como independente, Putin tem o pretexto para invadir a Ucrânia, o que efetivamente fez. E fez ainda no melhor momento, em que ficou claro que os ataques partiram da Ucrânia, ao mesmo tempo em que o imperialismo ficou completamente desmoralizado por não ter conseguido o seu ingresso na OTAN.
Na medida em que vai organizando uma série de iniciativas defensivas para libertar a Rússia e seus aliados da dominação imperialista, Putin, além de grande enxadrista da política mundial, vai se consagrando como uma espécie de Richelieu moderno. Isto é, assim com o Cardeal de Richelieu, uma das grandes mentes de sua época, unificou a França, preparando o país para se tornar uma das maiores potências da história, Putin hoje se coloca no centro de uma articulação mundial dos países que se rebelam contra o imperialismo.