Neste momento político do Brasil, Lula é um ponto fundamental para a derrota da direita. Lula é uma liderança popular e o único capaz de mobilizar os trabalhadores e se torna quase que imbatível no processo eleitoral, caso este tenha o mínimo de processo democrático e que a população possa escolher o seu representante, não necessitando de grandes acordos ou outros apoios políticos. Ou seja, Lula é o calcanhar de Aquiles da burguesia nacional e da direita golpista.
É por esse motivo que o PCO defende e apoia incondicionalmente Lula, e mais ainda no processo eleitoral. Esses são os principais motivos do apoio a Lula pelo Partido da Causa Operária.
Inclusive com os encontros que Lula está realizando com membros da direita golpista para tentar articular uma aliança para 2022, com a ilusão que receberá apoio desses setores golpistas. Lula sempre foi uma figura da conciliação de classe e de acordos políticos com o que há de mais repugnante na política nacional, mas isso não é motivo para nesse momento atacar Lula e apoiar a frente ampla como defende o PCdoB e o PSOL.
Isso porque Lula é amplamente rejeitado pela burguesia nacional porque sua política de “bem-estar social” é inviável neste momento de crise capitalista. Nesse ponto, a política proposta por Lula tem diferença fundamental da política proposta pela esquerda da frente ampla.
Como é uma liderança muito popular, sabe que receberá amplo apoio dos trabalhadores nas eleições e vai se apoiar grandemente nesse fato e não terá quase nenhum apoio da burguesia. Por isso sua proposta de “frente popular” tem uma diferença fundamental para a frente ampla: enquanto Lula quer o apoio da direita para a sua candidatura, a frente ampla propõe o apoio da esquerda à candidatura da direita.
É claro que o PCO, como partido revolucionário que é, não concorda com a política de ir atrás de figuras da direita. Pelo contrário, o PCO apoia Lula mas com seu próprio programa político, revolucionário e socialista.
O exemplo dessa política vem da França
A frente popular proposta por Lula guarda semelhanças com a Frente Popular francesa de 1936. Aquela também era uma aliança entre setores da burguesia (os chamados “fantasmas da burguesia”, segundo Trótski) com a esquerda reformista, do Partido Socialista ─ que encabeçou a coalizão.
Mas o que, nos cálculos da burguesia e da esquerda pequeno-burguesa, era para ser meramente uma estratégia eleitoral, transformou-se no desembocar de uma revolução. A classe operária, diante da vitória eleitoral da Frente Popular, não perdeu tempo e disse: conquistamos o governo, agora vamos nos apoderar dele!
E foi o que quase ocorreu. Os trabalhadores franceses tomaram as fábricas em uma poderosa greve geral com ocupações. Em sua mente, a vitória eleitoral da Frente Popular era a materialização da vitória geral da classe operária contra a burguesia, era a consolidação de um governo dos trabalhadores.
A vitória eleitoral da conciliação de classes, na conjuntura extremamente polarizada e radicalizada da França de 1936, abriu o caminho para uma revolução socialista que pusesse fim a essa mesma conciliação e entregasse o poder integralmente nas mãos dos trabalhadores.
O grande problema é que foi traída pela social-democracia e pelo stalinismo. Não foi, portanto, levada às últimas consequências, instalando um verdadeiro governo operário.
Essa política é bem semelhante ao que ocorre neste momento no Brasil. Os trabalhadores, e em particular a base do PT, do MST e da CUT (principais organizações populares do país) não concordam com a política levada adiante por Lula e pela direção petista de ir atrás de apoio da direita, pelo contrário, o que observamos é que essa base tem uma concordância muito grande com a política levada adiante por organizações como o PCO de apoiar Lula, mas com uma política de independência de classe, sem a direita e a burguesia.
Há possibilidades reais de mobilização revolucionária da classe trabalhadora através da figura de Lula e contra a direita golpista. Não apoiar Lula é deixar os trabalhadores sem uma orientação política independente e a mercê da política da frente ampla colocada em prática pela direita e por setores da esquerda.
A vitória eleitoral de Lula sob a pressão das massas de trabalhadores radicalizadas e com ataques da direita pode se transformar numa forte tendência à mobilização revolucionária e de crise terminal do regime político.