No momento em que esta matéria foi redigida, as últimas informações oficiais da apuração das urnas em Honduras contabilizavam 51,45% das atas eleitorais, pouco mais de 1,86 milhão de votos. A candidata da esquerda golpeada em 2009, Xiomara Castro (Libre) já contabiliza 53,61% desses votos, mais precisamente 961.694 votos. O candidato do governo golpista, Nasry Asfura (Partido Nacional), conquistou 20 pontos percentuais a menos, 33,87%. Esse panorama tem se mantido estável desde o começo das divulgações pelo Conselho Nacional Eleitoral de Honduras (CNE).
Radicalizar é possível e necessário
Segundo informações do próprio CNE, a participação dos eleitores atingiu a marca histórica no país de 62%, o que indica que a polarização levou mais gente do que o normal para o processo. Isso é reflexo direto da campanha mais radicalizada de Xiomara Castro de Zelaya( esposa do presidente Manuel Zelaya, deposto por um golpe em 2009), após duas eleições anteriores que a esquerda foi derrotada através de fraudes. A fraude é sempre mais fácil de ser operada em cenários mornos, que é o que buscam até agora sem sucesso os promotores da “terceira via” no Brasil.
Seguindo o clima empregado durante a campanha eleitoral, Xiomara já se apressou em declarar vitória. A aprendizagem é um fator imprescindível na vida e decisivo na luta política. Nas eleições de 2017, houve toque de recolher, 20 mortos em protestos e até um “apagão informático” que afetou o sistema de contagem de votos e trouxe o candidato da direita na liderança quando o sistema foi restabelecido.
Mesmo com as limitações características dos partidos nacionalistas burgueses, o Partido Liberdade e Refundação (Libre) fez uso da maior arma da qual dispõem esses partidos, as massas populares. E, como não poderia deixar de ser, são levados mais à esquerda pela mobilização do povo, algo que setores da esquerda pequeno-burguesa universitária teimam em não compreender.
Ainda na noite de domingo (28), quando 30% das urnas haviam sido apuradas e Xiomara estava com 19 pontos à frente de Asfura, a candidata do Libre fez um pronunciamento oficial autoproclamando sua vitória. “Ganhamos”, disse. “Vamos por uma democracia direta, vamos por uma democracia participativa.”
A luta contra a direita se faz junto ao povo
Sempre aparecem “geniais estrategistas” no meio dessa esquerda para explicar que só é possível triunfar eleitoralmente se unindo justamente a setores direitistas. Mas a realidade é completamente distinta dessas fórmulas mirabolantes, a onda de vitórias eleitorais da esquerda latino-americana no começo dos anos 2000 ocorreu em meio a grandes manifestações populares contra os governos neoliberais.
O último golpe de Estado na Bolívia, da mesma forma, só foi revertido parcialmente nas eleições porque a população se insurgiu contra o regime golpista, fechou estradas, fez greves. Cuba e Venezuela permanecem independentes politicamente (principalmente Cuba) porque os governos desses países mobilizam o povo contra as provocações golpistas.
Xiomara Castro dá uma importante amostra para toda a esquerda nacionalista no continente. Ao invés de capitular e apostar em alianças que deixem sua candidatura a reboque da direita, a esposa do presidente deposto em 2009 fez grandes atos de rua e mostrou para a população que era possível superar o regime golpista com a mobilização das massas. Suas pautas avançaram para a promessa da legalização do aborto e a convocação de uma assembleia constituinte para consolidar o que chamou de “socialismo democrático”, com mecanismos de “democracia direta” para se contrapor ao autoritarismo do regime golpista. Para conseguir governar, Xiomara deve se manter apoiada nas massas, caso contrário perderá completamente sua sustentação política.
O mesmo caminho deve ser seguido no Brasil por Lula e pela esquerda. Não será através de “alianças” parlamentares que a esquerda conseguirá impor um candidato que se contrapõe em muitas questões ao imperialismo. Lula só pode contar com o povo, é essa a aliança capaz de levá-lo novamente ao governo.