Duas figuras do Departamento de Estado dos Estados Unidos vieram ao Brasil para participar de reunião intitulada “Diálogo de Alto Nível EUA-Brasil”: A vice-secretária de Política Externa Victoria Nuland e o vice-secretário de Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente Jose Fernández. Na pauta oficial, as maravilhas “democráticas” do imperialismo, como “justiça racial”, “governança democrática”, “direitos humanos” e, em se tratando do colosso tropical que é o Brasil, “proteção ao meio ambiente” e “mudanças climáticas”.
Independentemente do que foi de fato discutido a portas fechadas, chamou a atenção um destaque feito por Nuland a respeito da “democracia” brasileira. Segundo a vice-secretária os Estados Unidos depositam enorme confiança nas instituições democráticas e no sistema eleitoral do Brasil. Acrescentando que o Brasil teria um histórico de eleições “justas e transparentes”.
Para quem não acompanhou o golpe de Estado na Ucrânia em 2014, vale lembrar que Victoria Nuland teve papel bastante ativo nesse episódio, que iniciou a crise que hoje explodiu na forma de guerra. Trata-se de uma golpista profissional, que deixou escapar em áudios vazados que os Estados Unidos já haviam escolhido o próximo presidente ucraniano e que pouco importava a opinião da União Europeia sobre essa questão, com o emblemático “foda-se a União Europeia”.
Vindo de quem veio, o elogio à lisura do processo eleitoral brasileiro é para causar enorme desconfiança. O Brasil teve dois episódios importantes do processo do golpe de Estado ligados às eleições nos últimos anos, primeiro a derrubada de um governo eleito e depois a fraude eleitoral em 2018 que tirou o candidato mais popular do pleito. É exatamente isso que Nuland considera “justo” e “transparente” e a Organização dos Estados Americanos (OEA) não denunciou como fraude eleitoral.
Para quem acha que a eleição de Lula ainda vai ser um passeio, uma vitória tranquila e até no primeiro turno, está alheio aos fatos concretos. A defesa feita por Nuland das “instituições democráticas brasileiras” deveria chamar a atenção da esquerda que defende apaixonadamente as arbitrariedades do STF. Os Estados Unidos confiam no STF com conhecimento de causa, não por desespero como faz a esquerda.
A esquerda pode ter esquecido o papel do STF e do TSE no golpe de Estado de 2016, mas a burguesia imperialista, muito mais lúcida, não. Bolsonaro segue sendo uma opção, mas se tudo der certo para os donos do mundo as eleições de 2022 podem colocar um governo mais integralmente alinhado e menos problemático no poder. Como colocado diversas vezes neste Diário, a manobra da “terceira via” envolve passar um candidato com muito poucos votos para o segundo turno e então incorporar a ele os votos da esquerda. Se existe um cenário mais propício à manipulação eleitoral é aquele com pequenas margens entre candidatos.
As “instituições democráticas” oficias do país estão alinhadas aos monopólios da comunicação em torno da proibição ao questionamento da lisura do processo eleitoral no Brasil. Esse é um dos pontos da política divulgada recentemente pelo YouTube e tende a ser um ponto importante para as arbitrariedades do STF e do TSE. Mas que a esquerda fique tranquila, o Departamento de Estado dos Estados Unidos confia nas eleições brasileiras.
