As pesquisas eleitorais sempre foram, mais do que uma forma de efetivamente saber o que pensa a população durante as eleições, uma forma de a burguesia, através da imprensa, manipular a opinião pública em favor de seus interesses políticos do momento, fato que vem sendo gradativamente mais mal compreendido pela esquerda, que não consegue identificar os interesses políticos da burguesia e quais manobras estão sendo empregadas pela classe dominante, as quais, apesar de engenhosas, passam longe de ser tão complexas a ponto de justificar as interpretações e consequentes ações esdrúxulas e totalmente desconectadas da realidade que a esquerda adota sobre tais pesquisas.
Em recente pesquisa do DataFolha, os dados apontariam em um sentido que os incautos, como é a turma do “já ganhou” que hoje impera na campanha de Lula, achariam maravilhoso, pois aparentemente, a terceira via estaria em declínio e Bolsonaro, derretendo. Chovem matérias analisando os dados, levantando variáveis que apontam contra Bolsonaro e a favor de Lula, Seria possível, sendo muito ingênuo, interpretar isso como um apoio da burguesia a Lula, algo que evidentemente passa muito longe da realidade quando analisamos o panorama político, que apresenta um cenário de isolamento do PT, apesar de suas tentativas de se alinhar com setores da chamada “sombra da burguesia”, como foi o caso do anúncio da candidatura de Geraldo Alckmin para vice de Lula.
Esses dados apresentados pelo DataFolha agem no cenário político gerando dois resultados. Primeiramente criam uma sensação de superioridade e suposta tranquilidade em setores apoiadores de Lula, ideias que, apesar de falsas, levam a um perigoso imobilismo da campanha do ex-presidente, que neste momento deveria estar a todo vapor, visto que a burguesia a cada dia que passa progride com suas articulações e manobras no sentido de se unificar, seja em torno de Bolsonaro, que nem de longe está descartado, seja em torno de uma terceira via, que apesar de ainda muito débil, ainda vive e nem de longe está fora do jogo eleitoral.
O outro efeito que a pesquisa procura ter é o de causar pânico nas bases bolsonaristas. Utilizando-se da ameaça da possibilidade da volta de Lula e do PT ao poder, ela procura desorganizar a base bolsonarista pelo pânico de modo que esta possa ser parcialmente cooptada para uma manobra da terceira via. Essa manobra em especial tem um efeito reduzido, pois diante da polarização, a base bolsonarista se tornou mais firme e menos suscetível a esse tipo de manobra, diferente da base eleitoral de Lula, que neste momento possui um setor expressivo que apenas se posiciona junto ao PT em pura oposição a Bolsonaro, mas sem grande simpatia política à candidatura do ex-presidente, algo que com certeza deixa a candidatura de Lula vulnerável a manobras como a da terceira via.
Isso nos trás de volta à questão do imobilismo. O clima de “já ganhou” imobiliza a campanha, que neste momento deveria estar energicamente focada no trabalho de politizar o voto e reforçar a polarização, forçando a burguesia a um confronto direto com Lula, utilizando-se de Bolsonaro para poder polarizar, algo que estabeleceria uma tendência de esquentamento e saída do imobilismo não só das bases do PT, mas do movimento operário como um todo. É pelo enfrentamento que Lula será presidente do Brasil novamente