De olho nas eleições de 2022, a burguesia articula suas alternativas com todo o apoio da imprensa golpista. Essa manobra, no entanto, não é nenhuma novidade: vale tanto para a esquerda quanto para a própria direita ou extrema-direita. Nesse caso, o escolhido para fazer o papel de lobo mal no teatro das eleições é Bolsonaro, enquanto gradualmente a figura de João Doria (PSDB) vem se tornando na inocente Chapeuzinho Vermelho.
Obviamente, tudo isso é uma grande farsa. Tanto Doria como Bolsonaro bebem na mesma fonte, são os candidatos da burguesia num provável confronto com o candidato mais temerário para os golpistas, sendo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Caso Doria, o provável candidato da terceira via, não se mostre um candidato viável, Bolsonaro deixará de ser o vilão da história e será a alternativa real aos planos da burguesia, mesmo a contragosto. Doria e Bolsonaro são duas faces da mesma moeda na luta para dar sequência ao plano de destruição da economia nacional e a entrega do país aos gringos.
É fácil perceber a propaganda em torno do tucano João Doria. O governador de São Paulo passou de parceiro de Bolsonaro (BolsoDoria) para defensor dos LGBTs em poucas semanas. Mas esse plano não surgiu de maneira repentina. É bem verdade que desde o início da pandemia a burguesia vem usando e abusando de seus jornais golpistas (Estadão, Folha de S. Paulo, Globo etc.) para convencer a todos das grandes façanhas do novo ditador do Estado de São Paulo. Seja através de um suposto combate ao coronavírus, a criação de secretarias para adornar os identitários etc., os planos da direita golpista sempre giraram em torno de uma figura confiável aos seus olhos. Diferentemente de Bolsonaro, Doria é um candidato de um partido que levou até as últimas consequências o neoliberalismo no país. O epígono de FHC promete terminar o serviço que o príncipe do neoliberalismo deixou como legado.
Para que Doria deixe de ser o vilão e seja o mocinho, é necessário todo um esforço. Para isso, toda a burguesia (imprensa, políticos, empresários etc.) estão forçando a barra em uma campanha de terror que diz que Bolsonaro é um demônio e vai instaurar uma ditadura nesta terça, 7. Essa campanha, no entanto, é para salvar as instituições decadentes e reacionárias com esse alarde, visando principalmente fisgar a esquerda pequeno-burguesa, que já tem, por si só, uma disposição em se agarrar à saia da burguesia em campanhas histéricas “em defesa da democracia” e “contra o fascismo”. Isso é uma chantagem da burguesia contra a esquerda e os trabalhadores. Em resposta a isso, é preciso organizar o povo independentemente da burguesia. A luta contra Bolsonaro e todos os golpistas exige independência política e uma unidade entre os setores progressistas para criarmos um amplo movimento de massas.