No último período, quem acompanha as redes sociais, a imprensa golpista e propagandas na televisão percebeu que há uma campanha intensa pela participação dos jovens nas eleições. Para que os adolescentes acima de 16 anos tirem o título de eleitor e vote.
O próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está fazendo a campanha institucional. No último dia 17 de março, um artigo no sítio do Tribual anunciava que “Tuitaço para incentivar os jovens a tirar o título movimenta a internet e alcança mais de 88 milhões de pessoas”.
Até a multinacional imperialista Burger King está na campanha, com um comercial na TV aberta chamando os jovens a tirarem o título de eleitor.
Algum despercebido poderia acreditar que se trata de campanha democrática, que esses setores da burguesia estão realmente preocupados com a participação da juventude. Seria uma grande ingenuidade! Porém, a esquerda pequeno-burguesa, como sempre, é a primeira a acreditar na campanha da burguesia. Há um verdadeiro entulho de postagens, artigos, memes, músicas e piadas voltado para convencer os jovens. O lema comum é: “tire o título para tirar Bolsonaro”.
Realmente não ter uma política própria e ficar a reboque da burguesia é um problema! Os craqueiros eleitorais não enxergam nada diferente à frente além da própria eleição e isso é uma armadilha que faz a esquerda reproduzir a campanha da direita. Por isso, em vez de chamar o jovem para se mobilizar, chama o jovem para tirar o título de eleitor e votar. É um reformismo de baixíssima intensidade, uma política infantil e cretina, mais infantil do que os adolescentes que não podem ou não querem votar.
No entanto, o mais perigoso no momento nem é a deseducação política que esses setores da esquerda está promovendo. Uma deseducação criminosa, que incute inclusive nos jovens a ideia de que basta apertar o botão na urna eletrônica que os problemas estarão resolvidos.
Nesse momento essa campanha entre os jovens é uma cartada da burguesia na tentativa de impulsionar a terceira via. A direita golpista tradicional está apostando em parte do eleitorado jovem de classe média facilmente manipulado por políticas tipicamente burgueses com aparência progressista como o identitarismo, a ecologia etc. Não estamos falando de todos os jovens, mas é uma aposta da burguesia para tentar sair da polarização política, que será apresentada como o “velho” na política.
Indício para isso não faltam. A revista golpista Istoé publicou dois artigos no dia 1º de abril, um assinado por Carlos José Marques intitulado “Bolsonaro e a repulsa aos jovens”, e outro chamado “Bolsonaro perde prestígio junto aos jovens de classe média”, de Eduardo F. Filho. Por que uma revista venal e ultradireitista como a Istoé está tão preocupada em mostrar a posição dos jovens contra Bolsonaro? Ao mesmo tempo em que revelam isso, continuam os ataques contra Lula. Está claro que o objetivo é criar entre os jovens uma base de apoio – real ou artificial – entre a juventude.
O destaque dado em toda a imprensa e nas redes sociais para o repúdio do público do festival Lolapalooza – composto predominantemente por jovens de classe média – contra Bolsonaro é parte dessa campanha.
Não há dúvidas sobre isso quando vemos o destaque especial para a entrevista de Eduardo Leite (PSDB) ao Estado de S. Paulo nessa terça-feira (05), claramente uma entrevista de campanha eleitoral indicando que Leite é o preferido da burguesia para a terceira via. Na capa do portal do Estadão, o destaque era para a seguinte fala de Eduardo Leite: “Estou me apresentando também como uma mudança geracional”.
A manobra eleitoral está se desenhando: o candidato gay para agradar os identitários, jovem para agradar a juventude. A boa e velha farsa eleitoral montada pela burguesia.
Que essa manipulação será bem sucedida, não sabemos. Não é possível saber nem mesmo se Eduardo Leite será o nome da terceira via. A manobra pode não dar certo, já que Lula é o preferido dos jovens, inclusive como ficou claro no próprio festival. Mas isso não é garantia de nada.
Fato é que a burguesia busca emplacar sua manobra para dar continuidade ao regime golpista. E ela está fazendo isso capitalizando uma mobilização contra Bolsonaro que foi impulsionada pela esquerda. Por isso, a política de setores da esquerda de ficar a reboque da campanha da direita, como é o caso do absurdo chamado do próximo ato do dia 9, “Bolsonaro nunca mais” no lugar de “Fora Bolsonaro”, dá espaço para o crescimento da terceira via.
A solução é uma mobilização real para derrubar Bolsonaro e todos os golpistas e que coloque as ruas a luta por Lula presidente.