A esquerda brasileira adotou a pior posição política no debate que se abriu sobre as urnas eletrônicas e o voto impresso. Na ânsia de fazer oposição ao presidente ilegítimo Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido), porém sem clareza política e sem programa, em conjunto com os partidos da direita tradicional (PSDB, MDB, DEM), a esquerda declarou a “inviolabilidade” das urnas eletrônicas e a absoluta segurança do sistema eleitoral.
Dizer que no Brasil as urnas são invioláveis e o sistema eleitoral – em si fraudulento e antidemocrático – é impermeável à fraude demonstra total desconhecimento da história do Brasil. A própria eleição de 2018 foi fraudada em plena luz do dia, com a imposição de uma legislação antidemocrática pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), invasão dos comitês de campanha pela Polícia Federal para confisco de material com a foto de Lula, redução do tempo de campanha e controle do processo pelos golpistas, dentre outras arbitrariedades.
A fraude na urna eletrônica é parte do controle político da burguesia sobre o processo eleitoral. Inclusive, as urnas eletrônicas são inauditáveis e somente especialistas em informática é que podem decifrar o código-fonte. O cidadão comum não tem como exercer a fiscalização legítima e o controle popular. Os países imperialistas “democráticos” não adotaram o sistema de voto eletrônico. De 15 países que usam esse sistema, somente Brasil, Bangladesh e Butão não utilizam o voto impresso.
As eleições de 2022 tendem a ser as mais manipuladas da história, mais ainda do que as eleições de 2018. A burguesia trabalha para impulsionar a candidatura da “terceira via”, particularmente a do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Acontece que Doria é um político neoliberal odiado pelo povo, não tem popularidade e nem voto.
Contudo, Doria pode ter grande apoio do imperialismo – bancos e grandes empresas nacionais e internacionais – e comanda a poderosa máquina política do estado de São Paulo. São 200 bilhões de reais de orçamento público, o que lhe confere uma capacidade ímpar para comprar votos e costurar alianças sobre a base do dinheiro.
Há três décadas o PSDB controla as eleições em São Paulo e coloca os piores carrascos dos trabalhadores no poder com a fachada de “democraticamente eleitos pelo povo”. O controle do processo eleitoral é também o controle das urnas eletrônicas e da apuração dos resultados eleitorais. O domínio político da burguesia imperialista neoliberal em São Paulo se expressa através do domínio de três décadas do PSDB.
Propagar ilusões nas urnas eletrônicas por parte da esquerda significa dar um tiro no próprio pé. A fraude eleitoral está sendo montada para, em primeiro lugar, impedir que Lula seja eleito e que o Partido dos Trabalhadores (PT) retorne ao controle do governo federal. O objetivo fundamental a ser perseguido é este.
Sem mobilização popular que inviabilize as manipulações institucionais e fraudes da burguesia contra Lula e a esquerda, os golpistas imporão mais uma enorme derrota contra os trabalhadores.