A vontade de se convencer de que vai tudo bem na campanha eleitoral de Lula leva seus “estrategistas” a exagerar o peso do suposto apoio recebido de figuras como Geraldo Alckmin, Marina Silva ou Henrique Meirelles. A aproximação deles seria uma espécie de comprovante da aprovação da burguesia em relação à candidatura Lula.
Uma declaração de apoio de Marina Silva não significa que George Soros e outros agentes do imperialismo estão com Lula. O mesmo vale em relação aos setores que já tiveram seus interesses defendidos por Alckmin e Meirelles. Aliás, sobre esses dois vale lembrar das eleições de 2018. Alckmin era o candidato preferencial, mas como a direita tradicional derreteu diante da polarização política, foi abandonado para garantir a vitória de Bolsonaro contra o PT. Já Meirelles nem foi levado muito em consideração desde o começo do processo.
Se essas figuras já foram secundarizadas pela burguesia mesmo atuando diretamente contra as candidaturas petistas, porque estariam em primeiro plano agora? Por amor à “democracia”? Contra o fascismo? A mesma burguesia que bancou a ditadura militar teria subitamente se tornado “lulista” e escolhido como plano principal deixar de sugar parte do orçamento do Estado para bancar as políticas de Lula para a população mais pobre?
Como está evidente há algum tempo, o setor principal da burguesia tem entrado em conflito com o governo Bolsonaro por conta de divergências menores e dos problemas causados por conta da agenda para agradar a base bolsonarista. É razoável pensar que eles teriam menos conflitos lidando com um governo Lula do que com um governo Bolsonaro, que cumpre com as diretrizes mais importantes da sua política entreguista e antipopular?
Esse setor está trabalhando há vários meses na chamada “terceira via”, definida recentemente na candidatura de Simone Tebet. Uma política mais tradicional, insossa, sem qualquer base popular, uma representante muito mais adequada para a burguesia mais poderosa do país do que Bolsonaro. E se isso não der certo, muito antes de aceitar um governo Lula, vão de Bolsonaro mesmo. O atual e ilegítimo presidente, inclusive, vem sinalizando a esse setor da burguesia que está disposto a ser um bom funcionário, especialmente com as recentes privatizações, muito improváveis de acontecer num governo do petista.
A adesão desses políticos da direita, longe de provar que o setor principal da burguesia está apoiando Lula, só mostra que sua candidatura esta sendo minada por dentro. Além de afastar a militância de esquerda, caso seja inevitável aceitar uma vitória do petista, seu governo estará infestado de ratos da direita. Isso garantiria um governo muito distante dos anseios populares, o que ainda desgastaria o potencial eleitoral de Lula e do PT, e em último caso um governo mais facilmente golpeável.