Após a realização dos atos do dia 29 de maio, a política do “fique em casa” foi enterrada sob os pés dos manifestantes nas ruas. Acima deles, contudo, havia as direções dessa esquerda dizendo que “preferiam não ter vindo ao ato” ou que “preferiam ter ficado em casa”, como é o caso de Guilherme Boulos. Quer dizer, os esquerdistas foram aos atos por uma imposição do movimento, contudo, a política que levam é de apoio velado ao “fique em casa”.
Nesse sentido, é possível reparar que os chamados para as manifestações são ausentes de palavras de ordem de luta, ou reivindicações do povo. No lugar disso, a frase repetida à exaustão é “use máscara”. Essa colocação, longe de significar apenas a afirmação da necessidade de usar máscara em meio à pandemia, implica na mesma política histérica da esquerda no sentido de intensificar o medo pela contaminação por conta da pandemia, opondo a isso a alternativa do “negacionismo”.
Essa posição mostra que, na verdade, há uma oposição velada à realização das manifestações por uma parcela da esquerda. A colocação de Boulos é uma expressão da posição de todo um setor da esquerda que, se preocupando com a própria pele, se esquece que as grandes aglomerações na verdade não estão nos atos, mas estão nos transportes públicos constantemente lotados com números que somam milhões de pessoas no total.
Existe inclusive uma campanha se setores da esquerda pequeno-burguesa diretamente contra a participação nos atos de pessoas que não tiveram máscaras específicas. Dizem: “se não tiver uma máscara decente, não vá.” Ora, ao invés de restringir a participação nos atos, que tendem a levar mais de um milhão de pessoas às ruas no dia 19, a esquerda que diz estar tão preocupada com as questões sanitárias deveria, então, distribuir máscaras àqueles que precisem.
Na contramão dessa posição, é preciso desenvolver uma política séria de lutas. A população vive uma crise das mais intensas vividas na história. E essa crise não se dá pelas “forças naturais” da pandemia, mas sim pelas consequências da política destrutiva da direita golpista. A política da direita, portanto, precisa ser o principal alvo de combate dos atos. Esse combate se expressa pela reivindicação do Fora Bolsonaro.
A luta por vacinação em massa e por auxílio emergencial de um salário mínimo enquanto durar a pandemia também são elementos importantes das reivindicações de um povo que já conta meio milhão de mortos e voltou para o mapa da fome e da miséria. São reivindicações concretas vinculadas diretamente à população. O resto é secundário e distracionista.
Ainda no sentido da luta da população, é preciso colocar que, a única forma de combater a política direitista da esquerda e da própria direita, as quais devem enfraquecer as manifestações, é a criação de uma grande organização popular para dar base às manifestações. O cidadão comum, portanto, deve estar nos setores de decisão das mobilizações. Isso deve acontecer com a formação sucessiva de organizações locais, estaduais e nacionais, através da formação de comitês de luta contra e a realização de plenárias de ampla participação popular.