Na última quarta-feira (30), o Ministério da Defesa do governo Bolsonaro divulgou uma nota oficial comemorando a ditadura militar, em virtude dos 58 anos do golpe de 1964. O texto é assinado pelo ministro da Defesa, Braga Netto, cotado para candidato a vice na campanha de reeleição do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro (PL), e pelo alto comando das Forças Armadas.
A nota tanto é bizarra, típica de bolsonaristas terraplanistas, quanto é sinistra. Chama o golpe de “movimento de 31 de março”, como se não tivesse havido golpe algum, e considera um “marco histórico da evolução política brasileira” que “refletiu os anseios e as aspirações da população da época”. O Ministério da Defesa não deixa margem para dúvidas: o golpe militar era uma “necessidade” e um “anseio popular”. Trata-se, portanto, de uma defesa explícita de um dos episódios mais macabros da história brasileira.
E não é uma defesa qualquer. A nota faz uma verdadeira defesa ideológica daquilo que foi a ditadura militar, em uma verdadeira campanha anticomunista. O Ministério da Defesa alega que “o século XX foi marcado pelo avanço de ideologias totalitárias”, destacando “os ideais antidemocráticos da intentona comunista, em 1935”.
A matéria termina com um verdadeiro deboche: “cinquenta e oito anos passados, cabe-nos reconhecer o papel desempenhado por civis e por militares, que nos deixaram um legado de paz, de liberdade e de democracia, valores estes inegociáveis, cuja preservação demanda de todos os brasileiros o eterno compromisso com a lei, com a estabilidade institucional e com a vontade popular”.
O texto não é mera nostalgia. É um recado muito claro: para os militares e o próprio Bolsonaro, que já deu declarações até mais escabrosas que a nota do Ministério da Defesa, o golpe militar teria sido algo “positivo” para o País. Dito em outras palavras, se houver uma necessidade futura, estarão a postos para um novo golpe e uma nova ditadura sangrenta como foi a de 1964 a 1985.
E a possibilidade é real. O golpe que levou à ditadura militar se deu em um momento de grande polarização política, em que o Brasil atravessava uma longa crise causada pelas sucessivas tentativas do imperialismo de impor um governo que estivesse alinhado aos seus interesses. Neste sentido, o momento é muito semelhante.
O Brasil atravessa um golpe que, embora muito nefasto, ainda não se consolidou. Por mais que o imperialismo tenha avançado com a derrubada do PT, os capitalistas querem ir muito mais a fundo na liquidação do País. E, para isso, na medida em que os trabalhadores se radicalizam e a direita se torna mais impopular, o uso da força pode ser o único recurso à mão da burguesia.
O Ministério da Defesa não está apenas elogiando a ditadura. Está deixando claro que, se os objetivos da burguesia não forem cumpridos em breve, um regime abertamente ditatorial poderá ser reerguido.