A candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência da República nas próximas eleições, tendo em vista a luta política corrente, vai muito além de uma mera candidatura de esquerda no interior do regime político nacional. Mesmo não tendo sido anunciada, sua possibilidade já angaria enorme apoio popular, o que o coloca em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais. Isso porque expressa a enorme polarização política no país, o amplo repúdio popular ao golpe de Estado e suas consequências, das quais o governo Bolsonaro é das mais amargas.
O ex-presidente Lula foi tornado um candidato antissistema, porque foi proscrito por ele, isto é, banido do regime político pela burguesia nacional e internacional, posto que essa não pode mais conviver com um governo que um dos pilares de apoio seja a classe operária e a população pobre, bem como com sua política de reformas, ainda que limitadas, mas que decorrem desse pilar de apoio.
No entanto, embora a burguesia tenha logrado êxito na aventura golpista, não pôde expulsar Lula da Silva da política, mesmo com intensa campanha dos monopólios de comunicação e feroz perseguição política, com utilização de métodos ilegais e antidemocráticos. O repúdio ao golpe e suas consequências pelas massas da população vinculou-se naturalmente ao apoio à principal liderança popular do país e principal perseguido do regime político.
Menos de 10% da campanha contra o ex-presidente Lula seria o suficiente para banir completamente do regime político qualquer outro político ou liderança nacional, em suma as bases populares não foram liquidadas do regime ou divididas para que perdessem qualquer força, permanecem em campo agrupando-se em torno de uma perspectiva: derrotar o golpe elegendo Lula, o que constitui o maior problema, até então insolúvel, para a burguesia golpista de conjunto.
Resta para a burguesia golpista sabotar a candidatura Lula por dentro, uma vez que não conseguiram até o momento eliminar seu apoio popular, nem mesmo mantê-lo na prisão. E aqui mesmo se coloca a questão importante do vice-candidato que comporá a chapa com o ex-presidente Lula; dois caminhos foram desenhados, um pelo campo popular que manteve Lula no páreo até agora, outro pela burguesia que tenta a todo custo derrubá-lo do poste de liderança nacional.
A burguesia golpista chama para que Lula e seu partido aceitem um vice de direita, e já escolheram o nome: o reacionário Geraldo Alckmin (ex-governador de São Paulo pelo PSDB), um golpista e notório inimigo dos trabalhadores do Estado e não são poucos os que consideram que Alckmin foi ainda mais nocivo ao povo paulista, sobretudo os professores, que o atual governador tucano João Doria (Bolso-Doria). Alguns ingênuos e outros mal intencionados advogam na esquerda que a esdrúxula aliança seria um retorno à situação de 2002, quando Lula governou com setores da burguesia. Alckmin seria assim a consolidação do apoio de um setor importante da burguesia ao governo Lula. Os ingênuos e mal intencionados, conscientemente ou inconscientemente traidores dos interesses do povo, advogam que a aliança se daria em nome do bem maior, da luta contra o fascismo. É o retorno da ideologia da direita “civilizada”.
A burguesia de conjunto, e em primeiro lugar o setor da direita tradicional, como o PSDB, PSB e outros, derrubaram o governo eleito do PT, perseguiram implacavelmente na imprensa capitalista e no judiciário Lula e a esquerda, impuseram reformas drásticas, jogaram milhões de pessoas na miséria, assistiram paralisados ao massacre espantoso de pelo menos 600.000 concidadãos, sem jamais levar as mãos ao bolso para salvar a população, fraudaram a eleição para impedir que o próprio Lula pudesse concorrer, levando-o preso, elegeram e governam até agora com Bolsonaro, o fascista.
Entre a esquerda e o fascismo já ficou claro para qual lado se bandeia a direita tradicional: para o fascismo. Crer que esse movimento diz respeito à luta contra o fascismo da parte da direita beira a loucura, depois de tudo pelo que passou o país. Torna evidente que toda a campanha que a burguesia faz nesse momento em favor desta aliança, não é mais que oferecer o cavalo de troia, prepara o golpe traiçoeiro. Ademais, o político da direita não tem voto quaisquer, pode mesmo, e fará isso, tirar votos de Lula e enfraquecer sobremaneira a campanha.
O outro caminho é daqueles que desde o primeiro momento lutaram contra o golpe, daqueles que foram vítimas das consequências do golpe, dos milhões de trabalhadores, de pobres, e oprimidos que impediram que a burguesia eliminasse Lula do regime, que permaneceram apoiando-o e que agora defendem Lula presidente.
É nessa massa, que garante a Lula o primeiro lugar nas pesquisas, que Lula deve se apoiar. É dela que deve vir seu vice; a burguesia tornou Lula o candidato antissistema por excelência, por não aceitar a base social que o apoia e suas demandas, para avançar ainda mais contra a burguesia é preciso efetivar essa característica, é a única maneira de fortalecer-se. Até mesmo para a perspectiva dos reformistas que querem negociar com os golpistas esse é o único caminho, a burguesia só reconhece a força e somente aceita negociar mediante ela.
Que as massas que impediram a proscrição do ex-presidente Lula e que no final das contas é quem efetivamente conta, possam decidir o caráter do governo e não um acordo prévio com os inimigos da candidatura Lula que vão exigir muito e entregar nada, somente a traição. Para vice de Lula, um verdadeiro representante do povo trabalhador, pobre, oprimido, do movimento popular. Que as massas que apoiam possam decidir. Isso sim trará enormes progressos para a campanha e colocará toda a burguesia golpista em xeque.