A esquerda pequeno burguesa brasileira está em comemoração com a vitória do candidato Gabriel Boric nas eleições presidenciais chilenas contra o candidato da extrema direita, José Antonio Kast. O entusiasmo é tamanho que o PSOL chegou a enviar uma delegação com figuras importantes do partido para o Chile a fim de acompanhar o processo eleitoral.
A cegueira dessa esquerda não tem limites e não há nenhuma análise sobre a situação política no Chile que levou o candidato pseudoesquerdista Gabriel Boric a vencer as eleições.
Em primeiro lugar é preciso analisar a situação política do Chile. O Chile viveu no período recente um verdadeiro processo insurrecional e de características revolucionárias. Foram milhares e milhares de pessoas todos os dias nas ruas durante meses desde 2019, o que colocou em xeque a política da direita para a população chilena, e praticamente liquidou a extrema direita chilena nas ruas.
Conquistas populares devem ser medidas pelo potencial da situação. Chile viu uma quase revolução. A extrema direita estava liquidada. Mesmo que Boric fosse apenas um esquerdista pequeno-burguês inócuo e não um candidato abertamente pró-imperialista seria um anti-clímax (1/3) pic.twitter.com/roV4KHG2Ym
— Rui Costa Pimenta (@Ruicpimenta29) December 20, 2021
Essa gigantesca e constante mobilização da população no Chile levou a uma derrota do governo de Sebastián Piñera. Diante da mobilização, a burguesia chilena buscou um acordo com setores da esquerda pequeno-burguesa chilena para não perder o controle da situação. Tanto foi assim que a esquerda e a direita chegaram a um acordo de uma nova Constituinte, que em primeiro lugar garantiu a continuidade do governo do presidente direitista e foi uma tentativa de canalizar toda a revolta popular para um processo “legal” e sob controle da direita.
O resultado de todo esse processo foi canalizar a luta para a Constituinte e para a eleição do ultramoderado Gabriel Boric, que enterrou de vez toda a mobilização com características revolucionárias no país.
É importante reforçar que a Constituinte e a vitória de Boric são apenas uma manobra da burguesia para a crise política, e não uma conquista ─ ao contrário do que a esquerda, festiva, está propagando. Isso porque não podemos avaliar apenas o que foi “conquistado” (isso mesmo, entre aspas) e não analisar o potencial das conquistas oriundas da gigantesca mobilização dos últimos anos.
A Constituinte, apesar de toda a campanha realizada em torno, é inócua e apenas estrangulou a mobilização e permitiu um fortalecimento da direita derrotada. A eleição de Boric é ainda mais grave porque é fruto de um acordo com setores da direita tradicional, pois irá governar com o ultradireitista Partido Socialista, de Michele Bachellet, e a Democracia Cristã, um partido da direita chilena. Boric é um candidato muito semelhante à esquerda pequeno-burguesa brasileira, como por exemplo o PSOL. Um elemento sem ligação com as massas populares, parceiro direto, junto com futuros integrantes do seu governo, de institutos financiado por ONGs imperialistas como o National Endowment for Democracy (NED). É também apoiada pelas embaixadas dos EUA e do Canadá no Chile, pela Fundação Ford, pela FGV, pela International Development Research Centre (IDRC), pela UNESCO e outras organizações do imperialismo.
Gabriel Boric, ao contrário do que foi propagandeado pela esquerda brasileira, não é nenhuma salvação contra a extrema direita. É um elemento oportunista e direitista com ligações imperialistas. Não é por acaso que fez declarações contra Cuba e a Venezuela, se posicionou recentemente ao lado da extrema direita na votação contra o aborto e de maneira muito suspeita contra o indulto de mais de mil ativistas que foram presos durante as manifestações contra o governo e contra a violência policial que reprimiu duramente as manifestações.
A única certeza é que a função de Gabirel Boric, que vai governar com a direita e a esquerda pró-imperialista, será a de liquidar de vez a luta popular e as gigantescas mobilizações.