As mobilizações de rua que aconteceram no Brasil e no exterior, impulsionadas pelo ato 1º de maio da Praça da Sé na capital paulista, abriram uma polêmica no interior das organizações e partidos de esquerda: a direita “democrática” deve participar nos atos de rua convocados pela esquerda?
Setores da esquerda adeptos da política da Frente Ampla consideram importante e até mesmo fundamental a presença da direita “democrática”, caso do PSDB. Para estes setores, todas as forças políticas – esquerda e direita – devem se unificar contra o bolsonarismo, que seria o inimigo fundamental da democracia e do povo. O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), bem como outros partidos menores, se destacam na defesa do frente-amplismo.
O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, chamou nas redes sociais o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), líder do fascista Movimento Brasil Livre (MBL), a participar das mobilizações de rua. Os frente-amplistas chegaram até a convidar a deputada Joyce Hasselmann para participar nos atos e assinaram um superpedido de impeachment de Jair Bolsonaro com Kim Kataguiri e Alexandre Frota.
Cabe destacar que os frente-amplistas são os maiores defensores da política do verde-amarelismo. Segundo eles, a esquerda deve abandonar a cor vermelha e a foice e o martelo e adotar os símbolos nacionais e as cores da bandeira do Brasil. A ideia é se adaptar para disputar as camadas da classe média conservadora e bolsonarista, que associam o vermelho com o Partido dos Trabalhadores (PT).
Outros setores da esquerda repudiam a presença da direita nas mobilizações de rua. O Partido da Causa Operária se destaca na defesa dessa posição. A Frente Ampla significa a entrega das mobilizações de rua para a direita, que quer projetar o candidato da “terceira via”, possivelmente o governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), para as eleições presidenciais de 2022. Os partidos burgueses (PSDB, MDB, DEM, PSD, Progressistas, Republicanos, SD, PDT, Cidadania) não devem participar das mobilizações convocadas pela esquerda.
A posição majoritária entre os trabalhadores e a juventude é o repúdio à infiltração da direita golpista e verde-amarelista nas mobilizações. O bloco político da direita golpista, liderado pelos tucanos, é o responsável pelo golpe de Estado de 2016 e a fraude eleitoral de 2018, que tiveram como consequência a chegada de Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido) à presidência da República. O PSDB, por sua vez, dirigiu a implementação das “reformas” trabalhista, previdenciária, lei das terceirizações gerais, congelamento dos investimentos públicos por vinte anos (2016-2036) e as privatizações da água, saneamento e Eletrobrás.
A luta contra a presença da direita nas mobilizações de rua é uma luta de classes. Os explorados rejeitam os partidos políticos dos opressores, que querem se apresentar como “democráticos”, “civilizados” e “antifascistas”. Contudo, não se viu nada dessas qualidades quando pessoas vestidas de vermelho eram agredidas na Avenida Paulista por parte de integrantes do MBL. Também não se viu esse antifascismo na hora de organizar a Operação Lava Jato e prender o maior líder popular do país – o ex-presidente Lula – em pleno processo eleitoral com quase 50% das intenções de votos.