A assembleia constituinte chilena aprovou um artigo que garante os direitos dos indígenas às suas terras por 106 votos à favor e 37 contra. O movimento indígena no Chile ganhou grandes proporções com o governo ditatorial de Piñera que reprimiu brutalmente a população de índios, principalmente os Mapuche do sul do país. Contudo há uma contrapartida, a criação de um Estado Plurinacional pode se tornar uma ferramenta do imperialismo para dividir o país para poder controlá-lo com mais facilidade.
Aqui é preciso destacar o caráter da atual Assembleia Constituinte chilena. Ela proveio de uma derrota das gigantescas mobilizações de características revolucionárias que tomaram as ruas desde o ano de 2019. Em vez de derrubarem o governo a luta se canalizou para o âmbito eleitoral, primeiro com uma constituinte durante o governo Piñera e depois para a eleição de Boric, um boneco o imperialismo ao estilo de Guilherme Boulos no Brasil. Isso significa que o regime político chileno, apesar da feição esquerdista, está sobre total controle do imperialismo o que torna a decisão do Estado Plurinacional suspeita.
A pressão do movimento indígena pode ter conquistado depois de décadas o direito a sua terra contudo o imperialismo pode facilmente se aproveitar dessa situação. Um caso famoso de utilização de minorias oprimidas para dominar países inteiros é o dos curdos no Iraque, eles que eram massacrados por Sadam Hussein quando esse era aliado dos EUA, passaram a ser utilizados pelos EUA quando Sadam virou o seu inimigo. O norte do Iraque se tornou “independente” — uma colônia dos EUA para atacar o resto do país que ainda esta sobre o controle do presidente iraquiano que havia tomado políticas nacionalistas.
A questão aqui não é se colocar de forma alguma contra os direitos dos indígenas, a sua luta é totalmente legitima e eles foram um dos setores do povo chileno que mais sofreu nas últimas décadas. É preciso que os indígenas tenham o direito às suas terras, que tenham os mesmo direitos que os demais cidadãos chilenos, que em suas terras o Estado realize grandes investimentos para que eles adquiram quaisquer modernidades que desejam e ainda não possuem e por fim que tenham o direito a portar armas para organizar sua autodefesa.
Contudo, apesar da reivindicação indígena ser legítima, o que é preciso ser questionado é a decisão da assembleia constituinte, que de forma alguma se mostrou algo revolucionário ou progressista. É preciso desconfiar tanto de suas decisões quando daquelas do governo Boric, um governo imperialista e extremamente identitário. A luta dos indígenas pode ser facilmente canalizada pelos identitários para ser usada como ferramenta em defesa dos interesses de países estrangeiros que querem dominar o Chile.
Apenas a união de todas as populações do Chile, indígenas, brancas, imigrantes, mulheres, homens etc. sob a liderança da classe operária podem garantir a vitória real. É preciso unificar todos os setores oprimidos da sociedade para se derrotar o imperialismo e conquistar um governo dos trabalhadores da cidade e do campo.