Para dar o golpe de Estado em 2016, a burguesia estimulou setores de extrema-direita na sociedade. Era uma resposta a um determinado desenvolvimento da esquerda para possibilitar a campanha golpista. Foi esse processo que criou o que viria a ser a base bolsonarista. Agora a direita já conseguiu trocar o governo, e procura estabilizar a situação turbulenta em que o país foi colocado com a derrubada, através de uma manobra parlamentar que tinha pouco respaldo popular, de um governo eleito, por mais que a imprensa golpista tenha se esforçado para falsificar a dimensão desse respaldo. Com esse novo objetivo, a direita golpista, por meio de sua imprensa, prega agora contra a polarização.
Essa nova campanha da direita encontra quem a reproduza na própria esquerda. É o caso, por exemplo, de Marcelo Freixo, do PSOL, que participou de um programa com Janaína Paschoal no canal Quebrando o Tabu. A própria realização do debate tinha como proposta combater a polarização. Além disso, Freixo condenou a polarização durante a discussão, ao rejeitar o que chamou de “fanatismo”.
O ex-prefeito de Maricá e presidente do PT carioca, Washington Quaquá, publicou uma matéria no mesmo sentido no sítio Brasil 247, exortando o PT a deixar de falar apenas para uma parcela da sociedade, sob risco de ser “a outra face” da extrema-direita no governo. O partido e a esquerda em geral deveriam procurar uma aliança com o “centro democrático”.
Esses dois exemplos demonstram formas de a esquerda reproduzir a campanha da imprensa golpista, que tem feito uma campanha contra a polarização já há algum tempo. Inclusive em momentos decisivos. Logo depois dos atos de maio contra o governo, e do fracassado ato em defesa do governo naquele mesmo mês, o jornal Estado de S Paulo publicou um editorial culpando o PT pela polarização, sob o título A quem interessa a polarização?
O jornal golpista apelava ao governo para que abandonasse a polarização, que interessaria ao PT, e concluía com essas palavras seu texto opinativo: “do presidente […] espera-se que deixem de fomentar atritos inúteis, pois estes só se prestam a alimentar a polarização que tanto mal está fazendo ao País.” O pressuposto é de que a polarização faria mal ao país, enquanto não haver polarização seria para o bem do país. E o que seria o bem do país nesse caso?
É aí que se deve buscar o programa oculto da direita golpista em sua campanha contra a polarização. Trata-se de uma manobra para que se deixe de contestar a legitimidade do governo golpista e para refrear as mobilizações contra o governo. O “bem do país” seria que Bolsonaro aplicasse seu programa neoliberal sem resistência popular nas ruas e sem greves para tentar impedi-lo.
É uma campanha para terminar de consolidar o golpe, concluindo a manobra das eleições fraudulentas de 2018. A esquerda deveria aceitar as eleições fraudulentas e fingir que está em um regime democrático, fazendo uma oposição parlamentar convencional enquanto a extrema-direita modifica o regime político. Um enorme retrocesso para os trabalhadores, que setores de esquerda têm defendido ao ingressarem na campanha contra a polarização.
É necessário, ao contrário, estimular as mobilizações contra o governo, denunciar a fraude das eleições de 2018 e exigir o imediato fim desse governo. Bolsonaro está promovendo uma série de ataques à população que terão consequências desastrosas, atirando milhões à miséria e destruindo o patrimônio público com sua política entreguista. É preciso detê-lo o quanto antes.