A burguesia insiste nas manobras para alcançar uma terceira via nas eleições de 2022, contra Bolsonaro mas principalmente contra o ex-presidente Lula. A bola da vez é o governador do Rio Grande do Sul, eleito em 2018 sob o lema de “BolsoLeite”.
Eduardo Leite já era um pré-candidato à presidência para 2022, vai concorrer nas primárias do PSDB.
Esta semana, declarou que é gay. A esquerda pequeno-burguesa da “terra do nunca” foi à loucura. Como se isso transformasse o criminoso privatista que é BolsoLeite em um herói.
Declaração essa que faz parte de uma operação política. Ele esperou o momento mais adequado para ter repercussão na imprensa e atrair a classe média bem-pensante – classe que adora tudo o que está vigente no momento, ou seja, a opinião da burguesia “liberal”. Para essa classe média, como existe uma grande demagogia imperialista com os LGBT, com a política identitária, isso se torna algo maravilhoso.
Leite e a burguesia querem atrair o voto da esquerda e tirar voto de Lula, sendo que ele é um candidato da direita golpista neoliberal.
É um desserviço quando até mesmo seres mais politizados, como o jornalista Glenn Greenwald, elogiam a postura de Leite. Não precisa-se de grande coragem, apenas de um senso de planejamento eleitoral, para fazer a declaração que BolsoLeite fez.
Ele é uma indicação direta de FHC. Todos sabiam que Leite era gay, ele declarou isso agora com totais fins eleitorais.
Não tem nada de um movimento de emancipação. Trata-se de conseguir voto. Mesmo quem não é gay, sendo craqueiro eleitoral, seria de grande valia declarar-se gay caso isso desse voto.
Quando se defende o direito dos LGBT, defende-se o direito de uma população oprimida, não dos burgueses que ganham dinheiro com essa demagogia.
Leite tem o apoio da imprensa burguesa, de todo o imperialismo. Declarar-se gay não é um ato de coragem de Leite, unicamente de ganho eleitoral.
O fato de ser gay não muda absolutamente nada em sua política. A ideia identitária de que se deve eleger os gays, as mulheres e os negros, nesse caso fica desnudado como uma ideia absolutamente falsa. Elegendo Leite, eleger-se-á um fascista gay – que privatiza, que reprime com a polícia.
É um mito a ideia de que os fascistas são contra os homossexuais simplesmente. Por que não se pode ser fascista e ser gay? Muitos nazistas eram gays, inclusive os membros das temidas SA. Leite é um gay que não representa a maioria dos gays, não representa a comunidade LGBT como um todo. Mas ser gay não o faz um progressista.
O fato de a comunidade LGBT comemorar isso mostra a confusão que é a política identitária. A esquerda pequeno-burguesa oportunista elogia porque acha que isso daria votos dos apoiadores dessa comunidade. Mas é preciso ser realista.
O mais importante é que essa declaração é um movimento que mostra uma ideia de que o chamado centro político (uma direita fascistoide) se encontra em uma situação delicadíssima, de esvaziamento político e crise. Uma situação que ocorre internacionalmente, como na Europa com o colapso da direita tradicional e da esquerda institucional, com o crescimento da extrema direita e o deslocamento de setores trabalhadores para uma esquerda mais radical.
Todos os grupos de “centro” no mundo perderam votos para a esquerda e para a extrema direita. O Peru é uma expressão disso. Estamos na época da polarização política e o centro é pulverizado com essa polarização.
No Brasil ocorre a mesma coisa.
Entretanto, o centro ainda é uma força política com muitos recursos. Tem o apoio dos capitalistas, da imprensa monopolista. Não podemos subestimar sua capacidade de dar a volta por cima, apesar de sua fragilidade momentânea.
Aparentemente, a declaração de Leite faz parte da operação montada há muito tempo pela burguesia para criar o candidato do centro, a terceira via. Ele pode ser esse candidato, atraindo o voto de uma parte da classe média mais moderada de direita e mais moderada de esquerda – uma vez que agora é o candidato gay, embora isso não o tire da política da direita, de carrasco do povo.
A direita está a pleno vapor nessa manobra, que conta também com a CPI da Covid.
A burguesia não quer Lula de volta. Por isso joga todas as cartadas para impedir sua eleição. Faz pressão contra Bolsonaro e contra o setor capitalista que o apoia, mostrando que a eleição polarizada com Lula pode dar vitória a Lula – por isso propagar os 49% de intenções de voto no petista. Assim, pressiona para que toda a burguesia de conjunto apoie um outro candidato, que tenha condições de derrotar Lula.
A burguesia lança Datena, diz que “ainda há esperança para o futuro” (conforme editorial do Estadão), promove debates entre os candidatos de “centro”. Ela faz grande campanha pelo agrupamento em torno de uma candidatura para jogar todo seu peso para que essa candidatura tenha mais votos que Bolsonaro no 1° turno para ir ao 2° turno contra o PT.
Os aliados “democráticos” já mostraram que a campanha anti-Lula será uma campanha feroz. Os primeiros acordes dessa sinfonia já apareceram nos jornais. Continuam falando na corrupção de Lula e do PT, mostrando que vão aumentar a investida para impedir a eleição do ex-presidente.