O ditado de que o povo tem os governantes que merece nunca esteve tão errado como hoje no Brasil. Após o golpe de 2016, tudo é ilegítimo: o presidente da República é um capacho do imperialismo que roubou as eleições e o Congresso é composto por picaretas que a população nem sabe o nome. O mesmo vale, guardadas as devidas diferenças, para a maior entidade estudantil do País.
A atual presidenta da UNE não foi eleita pelos estudantes. Foi escolhida em um Congresso chamado às pressas e realizado pela internet! Uma eleição, portanto, tão legítima como os golpes de Diretório Acadêmico, quando a direção afixa o edital de inscrições de chapa horas antes do fechamento do prazo.
A desculpa seria a pandemia. Ora, mas no período em que ocorria o Congresso (11 de julho), já haviam acontecido três manifestações enormes pelo País, das quais a própria UNE participou. E também a pandemia não impediu que a UNE organizasse caravanas para o ato do “superpedido” de impeachment de 30 de junho com o MBL e Alexandre Frota em Brasília…
A razão do golpe contra os estudantes é a mesma de qualquer golpe: impor uma política que não seria referendada por meio de mecanismos democráticos. A política pela qual Bruna Brelaz foi escolhida, que é a mesma que a burocracia que comandava a UNE no período anterior defende, vai no sentido oposto aos interesses das bases.
Bruna Brelaz está onde está para cumprir uma determinada tarefa: defender a política da frente ampla dentro da UNE. Isto é, a política dos patrões, da direita, da burocracia universitária. Em resumo, a política do PSDB: a volta às aulas, a presença da direita nos atos etc. Em entrevista recente à Folha de S.Paulo, Bruna Brelaz admitiu ter mais “medo” da esquerda do que do bolsonarismo. Cumpriu o mesmo papel, portanto, de um político burguês, de um direitista: foi ao jornal da burguesia para atacar a esquerda e defender os golpistas.
Não bastasse ter chegado à presidência na mão grande, Bruna Brelaz sequer tem conseguido manter as aparências de “representante” da entidade. No dia de 12 de outubro, mesmo a direção da UNE tendo votado contra a participação em ato do PSDB, Bruna Brelaz passou por cima e foi confraternizar-se com os golpistas.
Bruna Brelaz é uma presidenta ilegítima. Para que a UNE não caia na desmoralização total, é preciso chamar um verdadeiro Congresso, que permita a ampla participação de suas bases. Reconstruir a UNE pela base, já!