A burguesia faz de tudo para impedir a eleição do ex-presidente Lula em 2022. A primeira manobra é alavancar uma candidatura de “terceira via”, pois seu melhor candidato também não é Bolsonaro. Aí estaria, principalmente, o governador coxinha de São Paulo, João Doria (PSDB).
Mas, se não conseguir, diante de uma eleição entre Lula e Bolsonaro, o imperialismo não pensa duas vezes: apostará novamente no atual presidente fascista, como fez em 2018.
No entanto, a manobra para a terceira via precisa ir até o fim. A maior possibilidade é tirar Lula ainda no primeiro turno, levando Doria para o segundo contra Bolsonaro. Mas como faria isso?
É preciso diminuir ao máximo o número de votos de Lula. Por isso, em todas as eleições, a burguesia escolhe quem será o “seu” candidato de esquerda. Nas eleições mais recentes, esse candidato tem sido do PSOL, partido com ligações íntimas com a burguesia e o imperialismo. Foi assim nas municipais do ano passado, quando Guilherme Boulos recebeu grande apoio da imprensa golpista e de empresários para se contrapor a Jilmar Tatto (PT). E conseguiu: tirou o PT do segundo turno e terminou na segunda colocação, atrás de Bruno Covas (PSDB), o grande candidato da burguesia.
Desta vez, Boulos continua jogando um papel importante para a burguesia. Já anunciou que será candidato ao governo de São Paulo, repetindo a manobra de 2020. Será um candidato, principalmente, contra o PT. E, para isso, já vem traçando alianças espúrias.
Entre os aliados de Boulos está nada menos do que José Luiz Datena, quem revelou que foi convidado pelo “líder” do MTST (embora a base dessa organização seja lulista) a ser seu vice. E Boulos não desmentiu!
O psolista já esboça aliança também com o PDT de Ciro Gomes. Tanto é que ele mesmo afirmou que, se o PDT o apoiar em São Paulo, apoiará Ciro Gomes na disputa presidencial contra o PT.
Com o PDT apoiando Boulos em São Paulo, o PSB (um apêndice do PSDB em São Paulo, tendo Márcio França sido vice de Alckmin) também se uniria à coligação. E, possivelmente, outros partidos satélite do PSDB, como Rede ou PV. O PCdoB, que mais chama por uma frente ampla com esses partidos, também poderá embarcar na coligação. Assim, Boulos busca se apresentar como candidato de total confiança da burguesia paulista. Mas o objetivo central é exatamente impedir o PT de se eleger, utilizando as alianças locais para sabotar a candidatura do PT a nível nacional.
Isso porque a aliança em São Paulo costuma ser um exemplo seguido por outros estados do País. No Rio de Janeiro, Marcelo Freixo (ex-PSOL) foi para o PSB e deverá se candidatar ao governo, recebendo apoio dos mesmos partidos da pseudoesquerda e, possivelmente, do próprio PSOL.
No Maranhão, Flávio Dino (ex-PCdoB) também entrou no PSB e tem em sua base partidos da direita bolsonarista ─ de um deles sairá o candidato de Dino e do PSB para o governo. Devido ao “toma-lá-dá-cá” tradicional, dificilmente Dino e o PSB irão apoiar o PT para a presidência da República, sendo mais possível um apoio direto à direita nacional.
Já nos outros estados do Nordeste, é ainda mais visível a sabotagem ao PT. Em Pernambuco, o PCdoB é vice governo de João Campos (PSB) e realizou uma campanha 100% bolsonarista contra Marília Arraes, candidata do PT à Prefeitura do Recife em 2020.
Em vários estados da região, PSB, PCdoB e PDT fazem um pornográfico “troca-troca” para elegerem seus candidatos. Seus políticos estão diretamente vinculados com as oligarquias locais, como é o caso da própria família Ferreira Gomes.
No Ceará, o coronel Ciro Gomes controla diversos municípios com mão de ferro. O próprio governo do estado está em suas mãos, pois Camilo Santana, um homem da ala direita do PT, é seu apadrinhado. Está mais para um infiltrado de Ciro Gomes no PDT para sabotar o partido por dentro do que qualquer outra coisa.
As eleições de 2020 revelaram que o bloco da esquerda golpista (PSOL-PCdoB-UP-PCB) e da pseudoesquerda (PDT-PSB-Rede-PV) tem como principal meta isolar o PT para impedir sua eleição. Foi assim em várias capitais, como São Paulo, Recife, Fortaleza, Vitória, Belém, São Luís etc, onde a esquerda trabalhou contra o “hegemonismo” do PT e/ou se postou ao lado de um candidato da burguesia contra a candidatura do PT.
Elas mostraram a tendência da esquerda pequeno-burguesa, totalmente adaptada ao regime golpista e ao próprio bolsonarismo: se alinhar aos golpistas em nome do carreirismo político.
Contra isso, é preciso mobilizar os setores da base dos partidos da esquerda que não concordam com as alianças com a direita e ampliar o movimento em torno da candidatura de Lula, para que seja uma candidatura dos trabalhadores contra a direita golpista.