Durante a última quarta-feira (31), dezenas de cidades no Brasil e no exterior registraram manifestações contra a ditadura militar de 1964-1985 e contra o regime golpista do presente. Os atos, que foram convocados amplamente pelo Partido da Causa Operária e pelos comitês de luta, mostraram uma nova etapa na mobilização contra o governo Bolsonaro e a crise sanitária. Ainda que muito timidamente, os setores da esquerda nacional que eram contrários aos atos de rua reconheceram a necessidade de combater a celebração oficial da ditadura militar.
Como sinais dessa mudança, pode-se citar a importante declaração da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que defendeu a luta contra a ditadura do passado e do presente. Outras figuras de destaque a esquerda, como André Constantine, do movimento Favela não se cala, o deputado estadual Vicentinho (PT-SP) e o ex-deputado federal Fernando Ferro (PT-PE) se somaram na convocação.
Essa tomada de posição de alguns dirigentes da esquerda, no entanto, permanece em contradição com a política que as direções de suas organizações defendem. A perspectiva de que o governo Bolsonaro só será derrubado nas ruas permanece oculta: embora alguns dirigentes chamem os atos, os aparatos partidários e sindicais da esquerda, controlados por uma burocracia, pouco ou nada fazem para levar o povo para a rua, nem tampouco para direcionar a mobilização em favor de um programa verdadeiramente classista.
Um indício claro dessa tendência das bases da esquerda nacional é que os atos tiveram uma participação muito mais expressiva de setores da esquerda que não estejam diretamente ligados ao PCO e aos comitês de luta do que em atos anteriores. Afinal, o País já ultrapassou as 300 mil mortes e, segundo muitos comentaristas da imprensa capitalista, poderá rapidamente chegar a 500 mil óbitos. E é justamente por isso que há uma adesão cada vez maior aos atos: de maneira crescente, os trabalhadores vão perdendo a paciência com o regime político, que o trata como um cachorro, e com a esquerda pequeno-burguesa, que faz questão de ser defensora intransigente do regime.
O fato de os atos terem sido mais expressivos do que os atos do dia 27 de fevereiro, bem como os mutirões que vêm sendo organizados pelos comitês apenas comprova que a posição do “fique em casa” está sendo, cada vez mais, abandonada ou repudiada pelas bases da esquerda. É preciso, diante disso, levar adiante uma política que tenha como centro a mobilização das massas diante da ameaça de um golpe militar e diante do desastre da crise sanitária. Fora Bolsonaro, os militares e todos os golpistas! Eleições gerais! Lula presidente!