A análise corrente em parte expressiva da imprensa progressista é de que os atos bolsonaristas de 7 de setembro teriam sido um fracasso. Segundo esses veículos, os atos não assumiram a dimensão necessária para que Jair Bolsonaro conseguisse desferir um golpe de Estado contra as “instituições democráticas”, nem mesmo teriam servido para alavancar sua campanha pela reeleição. Ledo engano.
Quem considera que os atos foram pequenos não toma como parâmetro a realidade, mas sim a onda de histeria montada pela imprensa burguesa nas vésperas do 7 de setembro. Para desmobilizar os atos da esquerda e forçar ainda mais o apoio dessa esquerda à “terceira via”, a imprensa golpista saiu aterrorizando todo mundo, dando a entender que o País beirava um golpe de Estado. Se esse é o parâmetro, de fato, as manifestações não teriam sido suficientes.
No entanto, a possibilidade de um golpe não estava colocada naquele momento. Tanto é assim que os atos bolsonaristas contaram com a presença do próprio Bolsonaro e de seus ministros — se os atos tivessem como fim um conflito violento, figuras de peso da extrema-direita estariam resguardadas. O objetivo das manifestações foi o de impulsionar a campanha eleitoral de Bolsonaro em 2022 e mudar a relação entre Bolsonaro e a direita nacional. E, neste sentido, os atos foram um sucesso.
Os atos, sobretudo no Rio de Janeiro, em Brasília e em São Paulo, que são os centros políticos do País, tiveram o mesmo tamanho dos atos pelo impeachment de Dilma Rousseff. E tiveram um diferencial: ao contrário dos coxinhatos de 2015 e 2016, esses não foram promovidos pela grande burguesia. Ou seja, a extrema-direita está realmente mobilizada, encontrou um eixo pelo qual pudesse atrair a classe média e ganhar as ruas. Não é um refluxo de uma tentativa de golpe, é uma retomada muito acelerada de um movimento poderoso de extrema-direita.
Outro dado importante é a presença da Polícia Militar nos atos. Bolsonaro, finalmente, conseguiu trazer para suas manifestações grandes contingentes do aparato de repressão, o que muda a qualidade de suas mobilizações. É a formação de uma base sólida, militante, que está disposta a defender Bolsonaro mesmo que seja atacado pelos poderosos.
Os atos foram uma resposta à tentativa de um golpe. Mas não de Bolsonaro, e sim o golpe da burguesia contra Lula e contra Bolsonaro, que seria a eleição de um candidato da “terceira via”, um candidato do PSDB que não tem voto nenhum. Bolsonaro deu uma grande demonstração de que não aceitará de braços cruzados que a direita se reúna para conspirar contra ele e, depois de ter lhe apoiado para derrotar o PT, agora se livre dele. Bolsonaro não está disposto a ser sacrificado em nome da terceira via e deixou isso bem claro. Que respostas a direita poderá dar? Quantas pessoas João Doria colocará agora para contrastar com os atos bolsonaristas? E o STF, comprará briga com os policiais militares e todo o movimento que serviu de base para o golpe de 2016?
O que os atos deixam claro é a falência absoluta da política de ilusões com o STF e a direita golpista. A única maneira de desmascarar Bolsonaro como impopular e inimigo do povo é mobilizando amplamente a esquerda e o povo em geral, enfrentando nas ruas a extrema-direita.