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Volta Redonda e Região

As importantes lições das derrotas dos metalúrgicos

Os patrões armaram contra a categoria nas eleições do sindicato, com o apoio da burocracia sindical, em um momento em que os trabalhadores tendem a sair à luta

Com uma base sindical estimada em cerca de 50 mil trabalhadores, o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense – compreendendo as cidades de Volta Redonda, Barra do Piraí, Barra Mansa, Resende, Pinheiral, Quatis, Porto Real, Itatiaia etc. -, realizou de 26 a 28 de julho passados a eleição para a sua diretoria. 

Elas ocorreram depois de um enorme imbróglio jurídico envolvendo pedidos de anulação de eleições anteriores e de um processo de semi-falência política da direção sindical, há décadas sob o comando da máfia da Força Sindical. A tal ponto que as eleições, por decisão judicial foram coordenadas por um comissão de cinco membros indicada pelas chamadas “centrais sindicais”, sem a presença de membros da atual diretoria, cujos membros também estavam impedidos de participar do processo eleitoral.

Nestas condições, é preciso destacar que o pleito foi conduzido – principalmente – pelo PCdoB – que tinha representantes na estrutura do sindicato e que tinha uma maioria de membros na comissão eleitoral ao ter filiados e “simpatizantes” do partido entre os representantes de, pelo menos, duas “centrais”, além da CTB, que o próprio partido comanda.

Uma primeira derrota

Como resultado da desestruturação do sindicato promovida pela Força Sindical desde a privatização da CSN, foram considerados habilitados a votar apenas 3.771 trabalhadores (menos de 8% da categoria). Destes, 1.807 associados votaram, representando apenas 475 dos que integram o colégio eleitoral e menos de 4% da categoria. Um verdadeiro funil que reduziu a base votante ao menor e mais controlável número possível.

Um primeiro aspecto fundamental é que a diretoria eleita, não tem uma representatividade real diante da categoria. Isso ocorre em um quadro de grande enfraquecimento do sindicato, provocado – principalmente – pelas gestões da Força Sindical e consorciados, que atuaram como “paus mandados” dos patrões, principalmente, da direção da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), a maior empresa da região com mais de 10 mil funcionários, neste momento (tinha cerca de 30 mil antes da privatização na década de 1990).

Para entender o que aconteceu nas eleições, é importante saber que a desmoralização da direção do sindicato era tamanha que, em abril passado, os trabalhadores da CSN realizaram uma série de protestos e manifestações, a partir de uma explosão de revolta dos operários dentro da empresa. Essa mobilização levou a passeatas com milhares do lado de fora da empresa. Mais de 6 mil trabalhadores votaram em assembleia e mais de 90% deles rejeitaram as propostas dos tubarões da CSN, que o sindicato gostaria de ter aprovado, como fizeram em outras oportunidades, fraudando escancaradamente o resultado das eleições. Estas eram feitas dentro da empresa (sob pressão dos chefes), online (sob o controle estrito da diretoria e tão dignas de crédito e sem controle do eleitorado com urnas eletrônicas contratadas pelo TSE).

Destaque-se que nesta mobilização a direção do Sindicato e a CTB (com apoio da Conlutas/PSTU) se colocaram contra a greve geral, a paralisação total da Usina Presidente Vargas sob o argumento cretino de que isso poderia levar à demissão de trabalhadores.

Contando com a fragilidade do movimento, a confusão provocada pelos dirigentes, a direção da CSN demitiu mais de 300 trabalhadores. Dentre eles, 9 dos integrantes do Comando de Negociação, eleito em assembleia. A única exceção (coincidência?) foi o representante da CTB/PCdoB (que foi apenas advertido) que, semanas depois viria a ser o candidato a presidente da chapa que contava com o apoio da maioria da comissão eleitoral e, como ficou demonstrado, das empresas, dos representantes das “centrais” sindicais etc.

Presidente e vice da CTB (à direita), ao lado de Edimar Miguel Pereira Leite, presidente da Chapa 2, todos do PCdoB

Depois de mostrar uma enorme combatividade e disposição de luta, os metalúrgicos da CSN, após dois meses e três votações, acabaram pressionados a aceitarem a proposta miserável da empresa, que sequer repõe a inflação dos últimos 12 meses, depois de ficarem dois anos sem reajustes (por isso reivindicavam 30% de reposição salarial). Foi uma primeira derrota, que marcou a atual etapa e o próprio processo eleitoral.

Troca de guarda

Os patrões da CSN e das demais empresas da categoria, vendo que a atual diretoria já não dava mais conta de conter a situação, fizeram campanha abertamente, como assinalou o boletim Luta Metalúrgica antes das eleições, com o claro objetivo, corretamente assinalado pelos metalúrgicos do PCO e simpatizantes, de “evitar que os trabalhadores retomem o Sindicato para as suas lutas”.

Os companheiros denunciaram que “gerentes, chefes e todo tipo de capatazes [estavam] defendendo o voto nas chapas 1 (atual diretoria, responsável pelas maiores derrotas nas últimas décadas) ou na chapa 2 (a chapa da traição, que permitiu a demissão de mais de 200 pais e mães de família, enquanto o cabeça de chapa tinha seu emprego garantido e evitou que houvesse uma greve geral na CSN)” (Boletim Luta metalúrgica, 25 de julho de 2022).

Em uma eleição super controlada, com um colégio eleitoral reduzido e peso eleitoral de 75% dos votos na CSN descartado, não foi difícil para os tubarões que lucraram R$13,6 bilhões apenas no ano passado descarregar – de fato – o apoio na chapa que supostamente terá melhores condições de tentar conter o processo de mobilização da categoria. Tudo porque os patrões temiam, como o diabo teme a cruz, a vitória da oposição combativa que se agrupou na chapa 3, que uniu vários setores do movimento de luta dos metalúrgicos.

Essa oposição foi integrada além da Luta Metalúrgica (que teve papel ativo e combativo em todas as lutas centrais da categoria, do passado e recentes), por companheiros da Oposição Metalúrgica do Sul Fluminense, da Luta Operária e setores independentes, que se unificaram na Chapa da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Esse bloco apontou – mesmo com suas debilidades políticas e organizativas – uma perspectiva importante no sentido de lutar para reconstruir, a partir da base da categoria e com um trabalho regular, um movimento combativo de oposição.

Executiva da Chapa 3

Na eleição ficou evidente que a poderosa máquina da Força Sindical (sempre azeitada pelos patrões) não se mobilizou de fato em favor da vitória da chapa 1 (formalmente apoiada pela diretoria atual), nem mesmo da maneira ferrenha que se viu na campanha salarial, quando sindicalistas da Força Sindical de outros estados foram a Volta Redonda tentar aprovar o acordo que interessava aos patrões. Fizeram corpo mole, como tem sido comum em muitas eleições sindicais em que o resultado já está acordado entre algumas forças em disputa.

Votos Percentual
Chapa 2 (CTB/PCdoB/CSN)1.21265,7%
Chapa 133518,2%
Chapa 323012,5%
Não apurados  663,6%

Na campanha nas fábricas ficou evidente a disposição dos trabalhadores de mudar a situação, o que se manifestou no apoio expressivo e receptividade aos materiais da chapa 3, a chapa da CUT.

É preciso superar a dispersão. Debater um programa de luta, que sirva não apenas para as eleições, mas para a luta cotidiana da categoria. Além de denunciar as armações dos patrões e as traições dos sindicalistas, colocar-se na defesa das reivindicações dos trabalhadores e realizar um trabalho sistemático de oposição à burocracia da CTB (apoiada pela Conlutas/PSTU) que deve tomar posse no mês de setembro.

Essas eleições trazem ensinamentos para toda a categoria e para os trabalhadores de todo o País, que continuaremos a analisar, a principal delas: não é possível organizar a luta por uma nova direção apenas por meio da disputa eleitoral, é preciso ir além e organizar uma oposição combativa contra a burocracia sindical, com um trabalho regular, formando e organizando uma nova vanguarda a partir da luta dos trabalhadores, com imprensa própria e financiada pelos próprios trabalhadores.

Essa luta está recém-começando. De imediato, a tarefa é buscar fortalecer a oposição organizando comitês de luta entre os operários para impulsionar a luta por suas reivindicações e a defesa da candidatura de Lula, por um governo dos trabalhadores.

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