Na França, novamente o marionete dos banqueiros recebe apoio da esquerda contra o bicho papão da extrema-direita. Após fracasso do candidato da França Insubmissa no primeiro turno das eleições francesas, esquerda se une ao setor mais importante da burguesia do país com o objetivo declarado de derrotar Marine Le Pen. É a conhecida fórmula eleitoral do “mal menor”, que ajuda a desorientar a população e desmoralizar a esquerda.
O governo Macron foi marcado por uma dura agenda neoliberal, que resultou em enormes manifestações populares e greves contra o governo. Tendência de luta que foi mal aproveitada pela esquerda francesa, que se colocou contra as manifestações dos “coletes amarelos” e ajudou o governo a sobreviver para seguir atacando os trabalhadores franceses.
Durante o auge da pandemia de Covid, a indisposição do governo em investir para melhorar as condições de atendimento à população nos hospitais aliada às medidas restritivas rendeu o apelido de “macronavirus” ao presidente. Assim como no Brasil, a cega fé da esquerda no regime político burguês evitou que a crise do governo culminasse na sua derrubada.
Enquanto isso, quem ocupou o vácuo deixado nas posições “anti sistema” foi a extrema-direita. Mesmo que demagogicamente, é a extrema-direita na maioria dos países europeus que apresenta posições contra a ditadura da União Europeia, que sufoca os trabalhadores em geral e a economia dos países mais atrasados do continente.
Para se ter uma ideia do nível de loucura que significa apoiar Macron, o candidato à reeleição traz no seu plano de governo o aumento da idade para aposentadoria enquanto Le Pen propõe uma redução. Considerados de conjunto, os dois programas são igualmente horríveis para o povo francês e para a imensa massa de imigrantes e seus descendentes nascidos na França, cada um com suas particularidades.
Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, que teve 20% dos votos, disfarçou a capitulação atrás da orientação “não se deve dar um só voto para Le Pen”. Ao contrário do que fez em 2017, Mélenchon não chamou voto branco ou nulo no segundo turno das eleições, talvez um reflexo da pressão sofrida de dentro da esquerda na ocasião.
A população que poderia se identificar com as posições da esquerda contra o governo sanguessuga de Macron de repente se depara com uma disputa onde apenas a extrema-direita parece estar contra esse governo. Não é difícil deduzir que Le Pen receberá muitos votos de protesto, assim como ocorreu com Bolsonaro em 2018, com o recuo do PT em relação à candidatura de Lula, o verdadeiro candidato “anti sistema” daquela eleição.
A manobra em torno do mal menor consiste no final em eleger um político impopular e de confiança da burguesia depois da exclusão da esquerda, por pequeno percentual, do segundo turno. Os números franceses mostram esse cenário, onde Macron teve uma inflação de votos em relação às pesquisas eleitorais (28%) e Le Pen superou Mélenchon por algo em torno de 3% (23% contra 20%). Mas como as urnas são sagradas na democracia burguesa, tanto para a direita quanto para a esquerda pequeno-burguesa, ai de quem duvidar da lisura do processo.
Se repetida com sucesso no Brasil, a manobra colocaria o candidato da terceira via, seja qual for, contra o problemático Bolsonaro. A insistência da esquerda em não tirar as lições corretas dos fatos políticos pode fazê-la repetir os franceses e ajudar a eleger um Dória, um Eduardo Leite ou outro vigarista, se comprometendo com a desgraça do povo, que tende a se intensificar com um governo neoliberal mais estável.