O medo de enfrentar o bolsonarismo tem levado muitos a se esconder atrás dos seus piores inimigos, a imprensa monopolista e a polícia, dois instrumentos da dominação da burguesia. Contra a violência da militância de extrema-direita, convocam os carrascos do povo. Contra a propaganda bolsonarista, batem palmas para os maiores inimigos da liberdade de expressão, o cartel que monopoliza o setor das comunicações no país.
O recente episódio envolvendo o deputado estadual Douglas Garcia e a jornalista Vera Magalhães serviu para intensificar o estranho caso de amor da esquerda com a imprensa que foi peça importante do golpe de 2016, que rasgou o voto de milhões de brasileiros. A reação não poderia ser pior, a esquerda está agora apoiando a cassação do mandato do deputado por conta de um episódio que, vale apontar, não foi nada demais.
Tratado pela imprensa golpista como “agressão” e “misoginia”, cabe descrever o que foi registrado pelas inúmeras câmeras presentes no local. Ao contrário do seria esperado quando se lê as manchetes, não ocorreu nenhuma agressão física e nem sequer algum xingamento obsceno. Douglas se limitou a chamar Magalhães de “vergonha para o jornalismo brasileiro”, imitando Bolsonaro de maneira truculenta, como de praxe nas intervenções bolsonaristas.
Para além da falta de modos do rapaz, o que ocorreu foi um protesto contra uma das porta-vozes da imprensa burguesa. Inclusive uma que teve papel destacado na campanha antipetista, que após anos de difamações contra o Partido dos Trabalhadores, alçou o próprio Bolsonaro à presidência. Cassar um mandato eletivo por conta da manifestação exaltada de uma opinião, isso sim, é um grave atentado contra a liberdade de expressão e contra a tal democracia que todos adoram exaltar.
De fato, a jornalista é uma vergonha, mas não para o “jornalismo brasileiro”. É uma vergonha junto com esse jornalismo canalha, golpista e antinacional. No caso do deputado, ele critica a maneira da jornalista entrevistar sua liderança política, certo ou errado, ele tem direito a expressar sua opinião. Ou pelo menos deveria ter. A imprensa que tem por esporte destruir reputações, como fez na “caça às bruxas” que promoveu contra políticos do PT, porém se é criticada apela para a carta da “liberdade de imprensa”.
Qualquer crítica ao monopólio das comunicações é tratada como “tentativa de censura”. Ao mesmo tempo, elevam as figuras mais autoritárias do judiciário ao posto de “heróis da democracia”, justamente aqueles que impõem censura de verdade. O STF chegou ao ponto de prender pessoas por conta de opiniões expressas, mas os paladinos da “liberdade de imprensa” só exaltam as arbitrariedades dessa corte.
Nesse ponto, a imprensa golpista é ecoada até por órgãos de imprensa que se apresentam como esquerdistas, como o DCM e a Fórum. Ao invés de defenderem a bandeira histórica da liberdade de expressão, defendem a violência do Estado contra supostos racistas e machistas, apoiam apaixonadamente a política imperialista do identitarismo e no caso da censura contra o PCO se colocam a favor do judiciário contra o partido que mais mobilizou contra o golpe, pela liberdade de Lula e pelo Fora Bolsonaro.
