Em 2018, dois anos depois do golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e da operação fraudulenta que levou à condenação e prisão do ex-presidente Lula, toda a esquerda parlamentar “aliada” dos governos do PT (quando o partido tinha milhares de cargos para distribuir) atuou como verdadeiro abutre buscando tirar proveito do “sangramento” que a direita provocou no maior partido da esquerda brasileira.
Tradicionalmente um dos maiores beneficiários eleitorais do PT, o PCdoB – diante da pressão da burguesia – foi um dos primeiros a desembarcar da aliança com o PT e lançou a pré-candidatura presidencial da então deputada estadual, Manuela d’Ávila (RS), como instrumento de campanha para a divisão da esquerda e pelo ” desembarque” do esperado apoio à candidatura do PT, no momento que o PCO (e as principais organizações dos explorados do País, como a CUT, MST, CMP etc.) se pronunciavam em favor da candidatura de Lula, como tradicional representante não apenas do movimento operário mas da luta contra o golpe de Estado.
Fracassada a política de articular uma chapa do “Plano B” que potencializasse uma candidatura da esquerda burguesa, como Ciro Gomes (PDT), e diante da enorme insistência de amplos setores populares pela candidatura de Lula, cuja candidatura foi inscrita com a presença de 50 mil pessoas em ato no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília, o PCdoB impôs um conjunto de exigências para se coligar ao PT, para depois pressionar pela desistência da candidatura de Lula, como queria toda a direita que, finalmente, acabou apoiando Bolsonaro.
Como ficou público à época, o PCdoB “divergiu da estratégia do partido de insistir na manutenção da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi vetada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)“.
Como outros setores da esquerda, incluindo a direita do PT, dirigentes do PCdoB “cobraram uma definição política rápida sobre a composição da chapa e argumentaram que a campanha não pode ficar dependente das estratégias jurídicas da defesa de Lula. A sigla da deputada estadual Manuela d’Ávila, virtual candidata a vice na chapa de Fernando Haddad ao Palácio do Planalto, defende que a substituição seja feita agora” (isto é, antes mesmo que o veto do TSE fosse colocado em prática, sem desafiar a decisão ilegal da Justiça).
O resultado dessa política, antecedida e seguida de vários lances de capitulação e “endosso” à fraude eleitoral promovida pela direita, todos sabemos e o povo brasileiro sente na pele nos quase três anos do governo do fascista Bolsonaro, que a direita – e setores da esquerda – procuraram apresentar como legítimo, mesmo sendo resultado de uma violenta fraude eleitoral e a quem alguns dos seus dirigentes desejaram “boa sorte”.
Há pouco menos de um ano das eleições de 2022, quando o ex-presidente Lula lidera com folga todas as pesquisas eleitorais e, principalmente, sua candidatura é vista como uma grande esperança e arma do povo explorado para se livrar do regime de fome, miséria e genocídio que a direita golpista impôs, desde 2016, representantes dessa esquerda burguesa e pequeno-burguesa estão de novo às voltas com uma enorme operação contra a candidatura de Lula, contra o PT e contra a perspectiva de derrotar a direita golpista no próximo período.
Os sinais de chantagem e pressão sobre o PT e a candidatura de Lula são enormes.
Depois de rejeitarem em seu Congresso Nacional o apoio à candidatura de Lula, o PSOL. – por exemplo – abriu uma temporada de “negociação”. (“Dirigentes do PSOL afirmam que o apoio do partido a Lula ainda não está garantido – embora o PT já considere a adesão como favas contadas“)
É claro que não faltam pretexto políticos. Anunciam que o “Partido quer que petista incorpore a seu programa propostas como a taxação das grandes fortunas“
Mas o verdadeiro preço cobrado por um possível apoio a Lula é outro. Querem o “apoio dos petistas a candidaturas do partido em alguns estados —como a de Guilherme Boulos em São Paulo”
Por sua vez, o PSB, que depois de integrar por anos os governos do PT e receber o apoio petista para manter o governo de Pernambuco e conquistar outros cargos, votou pelo impeachment de Dilma e – de fato – não apoiou Lula em 2018, apenas se valendo do apoio do ex-presidente para seus próprios propósitos agora se articula para novas chantagens contra Lula e o PT, como deixou claro e público o próprio presidente dos “socialistas”, Carlos Siqueira:
Mas isso não é tudo:
Como na mais tradicional política burguesa, esses e outros setores da esquerda estão de olho na tradicional política do “toma-lá-da-cá”. Só que – de fato – eles não têm nada a oferecer. Querem tirar proveito do prestígio eleitoral de Lula para fazer valer os seus próprios interesses que nada têm a ver com os da imensa maioria do povo brasileiro que que apoia Lula como parte da luta para derrotar Bolsonaro e toda a direita golpista e não ser engolida pela crise brutal que toma conta do País.
Como em 2018, nos próximos meses ficará claro e cristalino que setores da esquerda atuam como verdadeiros abutres, na defesa dos seus mais mesquinhos interesses, pouco se importando com os interesses mais gerais do povo brasileiro e dispostos, uma vez mais, a todo tipo de articulação com a burguesia contra Lula e o povo brasileiro.