Setores majoritários da esquerda brasileira apoiaram entusiasticamente a demissão, e exclusão da seleção brasileira, do jogador de vôlei, Maurício Souza. O motivo foi uma simples postagem que o atleta fez no Instagram, comentando as novidades do personagem das histórias em quadrinhos, Superman, que, na sua nova versão, é bissexual: “Ah, é só um desenho, não é nada demais’. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”. Foi o que bastou para a esquerda desencadear toda uma campanha de lichamento e criminalização contra o jogador em nome da luta contra a homofobia.
Nos últimos anos, tem sido cada vez mais recorrente a introdução de leis destinadas a punir determinado tipo de opinião que as pessoas emitem. Generalizaram-se os chamados “crimes de opinião”. Sob o pretexto de defender o “bem”, a “causa justa”, como a luta contra o racismo ou a homofobia, passa-se por cima dos mais elementares direitos democráticos da população e concede-se ao aparato repressivo do Estado capitalista um campo progressivamente amplo para calar, multar, reprimir e prender indivíduos, grupos e partidos políticos.
Ao contrário do que pensa e diz essa esquerda, quem sai ganhando com essa política não são os setores oprimidos supostamente defendidos pela criação de novos crimes, mas os piores inimigos do povo, aqueles que continuam garantindo o estado de coisas atual.
A quem interessa a proliferação da figura do “crime de opinião”? Quem sairá ganhando, no final? A esquerda, os movimentos sociais, as organizações operárias e populares, que nunca tiveram nenhuma influência real ou controle efetivo sobre os órgãos de persecução penal do Estado, ou a direita, partidos como o PSDB, ou mesmo o bolsonarismo, que, historicamente, e ainda mais em tempos recentes, a partir do golpe de Estado de 2016, sempre dominaram as polícias, os juízes e tribunais e o Ministério Público? Quem decide quem é ou não criminoso são os aparelhos repressão estatais, e a esquerda, definitivamente, não controla, nem nunca controlou, tais aparelhos. Não é preciso sem muito inteligente para prever o resultado dessa política.
Se se proíbe determinado tipo de opinião, que num dado momento é considerada uma opinião negativa, nada impede que se proíba também outros tipos de opinião. O crime de opinião é uma violação de um dos preceitos fundamentais dos direitos democráticos de qualquer pessoa, que é o direito de pensar aquilo que ela queira. Não é só um problema de expressão, mas um problema de livre pensamento. Como impedir que uma pessoa pense uma determinada coisa ou pense de determinada maneira? Trata-se, evidentemente, de um absurdo.
Se se proíbe determinada opinião de ser veiculada ou expressa, o que teremos é que essa opinião não sumirá do mapa, mas ficará subterrânea. Ela não irá desaparecer, mas permanecerá apenas oculta, em estado, digamos, latente. Os materialistas sabem muito bem que as ideias não surgem do nada, mas tem bases materiais definidas que condicionam sua existência. É impossível eliminar uma ideia por mero ato de vontade ou por simples ato de força.
Bastante conhecido também é o chamado efeito bumerangue: tudo o que se proíbe, cresce, e muitas vezes com extrema velocidade. Lembremos da época da ditadura militar: tudo o que ela proibia, crescia contra ela mesma. O jogador de vôlei está sendo perseguido por algumas poucas palavras escritas numa rede social, mas ao mesmo tempo, o seu número de seguidores na plataforma ultrapassou os 2 milhões após o acontecido. Estamos diante de mera solidariedade bolsonarista ou há algo podre, isto é, antipopular, contrário aos sentimentos de amplos setores da população, nos métodos policialescos encampados pela esquerda identitária?
Do ponto de vista da esquerda, apostar na criminalização da opinião, seja ela qual for, é entrar numa canoa furada. Levará essa esquerda à falência, ao mesmo tempo tempo que fortalecerá os piores carrascos do povo, a direita e a extrema direita. Um método reacionário de luta não tem condições de ajudar senão as forças reacionárias.