O caso Monark, linchado pelo fato de ter dito que o nazista deveria ter o direito de se organizar, colocou em debate o problema da liberdade de expressão, e a censura foi a saída apresentada tanto pela direita quanto pelas principais organizações e correntes da esquerda.
O problema virou lei, inclusive, ainda em 1989, logo após a Constituinte, na chamada lei do racismo, que afirma ser crime:
“Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo“.
Já neste caso, na letra fria da lei, não seria crime o que falou Monark. Pela legislação existente, não há crime algum no que ele falou. E, na verdade, a lei é uma arbitrariedade e deveria ser revogada, já que ela mesma representa uma restrição à liberdade de associação.
A esquerda burguesa e pequeno-burguesa, junto com o setor “científico” da direita, fez questão de linchar o rapaz publicamente, ao ponto de que ele foi banido do Youtube, proibido de monetizar vídeos na rede. Agora já se discute, ademais, iniciativas judiciais contra Monark.
A posição defendida por esses setores da esquerda se volta não apenas contra toda e qualquer opinião declaradamente nazista, mas contra toda e qualquer opinião que reconheça o direito de os nazistas falarem, expressarem suas ideias e se organizarem. Se alguém assim proceder, precisa ser censurado, punido, precisa haver repressão estatal contra essas manifestações.
A ideia de que por meio de censura, de proibição, será possível impedir o fascismo, é uma ideia inútil e, na verdade, cumpre o papel contrário. O fascismo, ao longo da história, nunca chegou ao poder sem o apoio de um dos elementos fundamentais da luta política: a burguesia.
O problema do fascismo, do nazismo, surge da necessidade da burguesia de impor uma ditadura mais profunda contra a população trabalhadora. É assim que nascem os regimes, partidos e políticos fascistas.
A direita fascista não surge e cresce em razão da pura propaganda, em razão de que alguém falou ou deixou de falar sobre a política da direita. A direita, o fascismo, o nazismo e outras tendências reacionárias surgem em razão da necessidade da burguesia, do imperialismo, de estrangular brutalmente os anseios populares e suas organizações.
A esquerda pequeno-burguesa perdeu a compreensão deste problema, do problema da luta de classes e do resultado político dessa luta. O combate contra a direita não tem nada a ver com censura, com a repressão ao pensamento, à organização das pessoas, por mais tacanha que seja o objetivo dessas organizações, por mais reacionárias que sejam essas ideias.
Sem a compreensão de classe, o problema da liberdade de expressão fica, de fato, perdido. As pessoas ficam desorientadas e a esquerda, ao invés de esclarecer o problema, se soma à confusão e ajuda a aprofundar o problema. O grande problema não é o grupo fascista em si, mas a burguesia, que controla, inclusive, o atual Poder Judiciário na maioria dos estados nacionais, ao redor do mundo.
Por fim, é preciso dizer que a esquerda perdeu completamente uma das lições mais fundamentais do movimento operário, cultivada ao longo de sua história. A luta contra a direita se dá nas ruas, pela força do povo organizado, como nos mostra os didáticos eventos de 1934, conhecidos como “a revoada dos galinhas verdes”.
A política de apoiar a censura, censurar alguém, ou pedir que o Estado o faça, ou censurar uma organização, impedir o seu funcionamento por meio das forças do Estado, não impede e nunca impediu que o fascismo chegue ao poder. Pelo contrário, o aumento das forças de repressão do poder constituído só servem para criar as condições para um governo autoritário, que pode se tornar fascista a qualquer momento.