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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Eterno Junho de 2013

Up for imperialism

Unidade Popular, um partido jornadeiro a serviço dos interesses da burguesia brasileira e da fragmentação perante o neoliberalismo

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O vazamento dos Boulos Papers, por este Diário, revela uma intrincada rede transnacional de agentes políticos a serviço dos interesses do imperialismo. Diante dos fatos apresentados por este Diário, a esquerda, se quiser vencer, precisará decantar e se atentar à trama de instituições, organizações do terceiro setor, sites e redes de “solidariedade” que estão a serviço do controle do regime político, arrefecendo a esquerda e tentando retirar seu papel revolucionário junto aos trabalhadores.

No dia 14 o Partido Unidade Popular (UP) “Em plenária realizada na manhã deste domingo, 14 de novembro, último dia do 2º Congresso Nacional da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), Leonardo Péricles, 40 anos, de Belo Horizonte, morador da Ocupação Urbana Eliana Silva, na região do Barreiro, foi indicado como o primeiro pré-candidato à presidência da República pela Unidade Popular pelo Socialismo, o mais novo partido do Brasil. O apontamento foi aprovado por unanimidade. Além dessa decisão, o partido decidiu por uma grande campanha de crescimento, pela continuidade da luta contra o fascimo (sic) e a derrubada do governo Bolsonaro”.

Evidentemente que não sou contra nenhum partido lançar sua própria candidatura, mas, se há um momento mais crítico nos últimos 20 anos, na “luta contra o fascismo” e a necessidade de “derrubada do governo Bolsonaro”, qual é a fundamentação para uma candidatura própria?

Com essa pergunta fomos buscar as conexões da UP com o imperialismo. Nem precisamos ir à Lênin para analisar essa questão, pois os Estados Unidos e seus satélites imperialistas da OTAN tem estratégias mais que manjadas de utilização de movimentos sociais, e todo e qualquer ideologia a serviço de seus interesses. No caso da UP, apresentaremos aqui algumas ligações.

A primeira é com Guilherme Boulos, candidato apoiado pela UP desde que teve registro aprovado junto ao TSE, em pleno Governo Temer. Como já demonstrado aqui, com participação ativa no IREE e no golpista Folha de S. Paulo, além de ser bem tratado na Globo com um bom menino da esquerda, nunca criticado, assim como toda maquinaria PSOL.

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Reprodução Twitter

Também há outra particularidade da UP, ter presença vip na Globo. Não digo pelo fato de Leonardo Péricles ser entrevistado, mas, por ser um divulgador da ideologia liberal da Nova Esquerda, que é substituir a luta concreta por um alinhamento tático à burguesia. Vejamos alguns trechos das entrevistas de Péricles:

Para o jornal O Globo, Péricles afirma

GloboAgora que o partido está criado, quais serão os próximos passos? 
Péricles – Primeiro a gente pretende fazer uma campanha de filiação, para permanecer e ampliar as lutas populares no Brasil. A nossa origem é essa, as lutas populares. E nós achamos que o exemplo dos nossos irmãos na América Latina, no Equador, Chile, Argentina, Bolívia, a resistência histórica dos povos cubano e venezuelano, mostra que esse é o caminho. 
Da mobilização e da conscientização populares e do enfrentamento com as elites que sempre mandaram e desmandaram nessa região. Mas infelizmente estamos submetidos a algumas chagas históricas, como a dependência em relação às grandes potências imperialistas, sejam os Estados Unidos, seja a Europa, e agora a China. Precisamos romper esse legado de um país dependente de commodities, que teve sua indústria destruída. É um dos grandes desafios. Por isso que eu falo que romper com as classes dominantes não é um bordão. Historicamente, elas estão ligadas à elite escravocrata. E o objetivo delas é manter o Brasil dependente, submisso, extremamente explorado, com o povo sofrendo com desemprego e miséria. A gente pode superar isso. Estamos num período do mundo em que existe tecnologia e condições plenas para todo mundo estar empregado. Coisa mais atrasada que gente desempregada não tem no mundo. A gente considera que isso é possível de ser superado. Não vai dar para caminhar pelo liberalismo. É um fracasso completo, um modelo falido. Esse caminho, que está sendo tomado hoje pelo governo Bolsonaro, beneficia a minoria, de banqueiros e especuladores, mas vai em detrimento da maioria. Eles jogam nas costas dos trabalhadores, do povo pobre e explorado, o ônus da crise, para garantir os lucros do grande capital financeiro. (Grifos meus)

Aqui destacamos um problema clássico na esquerda, que sutilmente tenta implantar a China como um país “imperialista”, e, mesmo que Péricles apresente Estados Unidos e Europa, faz o jogo de “arbitragem internacional” pró-Estados Unidos, quando diz que o Brasil sofre com um imaginário “imperialismo chinês”, em momento histórico crítico para os países que sofrem ataques do imperialismo, como é o caso da China e a periferia do mundo atacado pela OTAN.

Também destacamos, que Péricles, ao tentar fazer um discurso radical em um veículo de imprensa escravocrata, eleva a burguesia à uma condição de vanguarda das transformações sociais a partir de “conscientização” que nunca ocorrerá, evidentemente. Se o “liberalismo” é um modelo “falido e fracassado”, então a luta deveria ser pela superação do Estado ou o apoio a uma candidatura mais capaz de reduzir os danos aos trabalhadores, que teve sua melhor condição no Brasil, justamente no governo que ele combaterá nas urnas neste momento. Porém, essa estratégia de fragmentação que vem ocorrendo no mundo, de apresentar um candidato identitário como alternativa e como “anticapitalista” é isca para a esquerda pequeno-burguesa e palco para os interesses imperialistas.

Em outra pergunta, Péricles demonstra que o objetivo do partido é também o espólio do PT, ao mesmo tempo que procura ocultar seus supostos apoiadores. Notem:

Globo – Quais partidos hoje estão mais próximos ao UP? 
Hoje a gente tem diálogo com o conjunto da esquerda. Conversamos e desenvolvemos trabalhos conjuntos. Mas a aliança principal é com o nosso povo. Alianças entre partidos são importantes, mas elas precisam corresponder aos interesses da classe trabalhadora do nosso país. Esse é o grande desafio da UP. Há muito pessimismo hoje no campo da esquerda. Focam muito na derrota. Vamos mirar nos 89 milhões de pessoas que não votaram no Bolsonaro, considerando quem votou no candidato da oposição (Fernando Haddad, do PT) ao Bolsonaro e considerando os que nem foram lá votar. Vamos nos inspirar nessa maioria. Queremos disputar corações e mentes dessas pessoas. Tem muita gente que fica chamando o povo de burro porque votou no Bolsonaro, mas a gente não pensa dessa forma. O povo não tinha alternativa;
GloboPolíticos ou dirigentes de outros partidos entraram em contato com vocês após o resultado no TSE?
Sim, tivemos contatos de outros partidos de esquerda para saudar a nossa vitória.
Globo – Quais partidos?
Os de esquerda.
GloboTodos eles?
Alguns.

Trata-se de um projeto eleitorista, mas que tem como pano de fundo, desorganizar a esquerda brasileira, não definindo quem é o “conjunto da esquerda”, quem são os possíveis eleitores e como fará suas articulações sendo um partido eleitorista, mas, aparentemente uma peça do jogo político do que se convencionou tratar em geopolítica de “guerra híbrida”.

Mas, vejamos suas relações com a Globo. O movimento social que dá “up” à UP é o “Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)”. O MLB trabalha conjuntamente com “Uma Rede para Todos”, da Rede Globo, com a hashtag #umaredeparatodos . Quem tiver interesse em ampliar a análise, é só buscar a hashtag para ver a rede de organizações envolvidas com a UP.

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UP na Rede Globo

O Partido Unidade Popular pelo Socialismo foi criado da costela do Partido Comunista Revolucionário (PCR), o que demonstra a completa desorientação e interesses escusos à luta revolucionária. Uma parcela do partido trabalha na fachada eleitoral e outra fica com uma base supostamente revolucionária para confundir a esquerda que queira fazer uma militância concreta.

Mas, há de se registrar que a UP é um típico grupo jornadeiro, que surgiu nas jornadas de junho de 2013 para golpear o país, muito embora Péricles tenta em entrevistas ou mesmo em artigos para o veículo de imprensa do consórcio partidário do qual faz parte, que o PT é cruel, sempre na velha retórica do “boom das commodities”, do crescimento dos bancos, e o velho pedido de autocrítica com a pureza de um esquerdista que não está a serviço nem da revolução, nem da “luta popular”, tampouco de colocar uma esquerda no poder. Para constar o termo jornadeiro, o próprio Péricles menciona seu orgulho de ter marchado com a direita.

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Péricles, um jornadeiro à serviço do imperialismo

Enfim, o imperialismo não brinca em serviço.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

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