As eleições têm sido — e são, de uma maneira geral — uma das melhores oportunidades para colocar sob teste o programa dos partidos políticos. A monstruosidade da política da direita se torna ainda mais cristalina, uma vez que seus representantes são obrigados a debater sua política. E toda a demagogia que a esquerda pequeno-burguesa vive fazendo cai por terra como apenas um manto para encobrir sua política de colaboração com o regime.
Nos primeiros meses da pandemia, a própria burguesia impulsionou a campanha pelo “fique em casa”, recebendo amplo apoio da classe média, que tinha, de fato, condições para ficar em casa durante um período. Até mesmo o auxílio emergencial, que deveria ser distribuído entre os trabalhadores que ficaram sem renda alguma, foi drenado pela pequena burguesia. Se, desde o início, a campanha era uma hipocrisia, já que milhões e milhões de trabalhadores continuaram sendo forçados a trabalhar — e sob as piores condições —, ao mesmo tempo em que outros milhões foram largados desempregados, a campanha já se mostrou uma farsa total. A direita defende abertamente a volta às aulas e está promovendo a abertura da economia.
A pandemia continua sendo um drama para a classe operária. Segundo os dados oficiais, que são todos eles fraudados, centenas de pessoas continuam morrendo por causa do novo coronavírus. Em apenas três meses, o número de óbitos passou de 100 mil para 150 mil. A pandemia segue totalmente descontrolada.
E não bastam os números do Brasil para comprovar que o coronavírus continua sendo um problema gravíssimo. Na Europa, onde há muito mais recurso e uma tentativa muito maior da burguesia de controlar a crise social e econômica vigente, a segunda onda da pandemia é uma ameaça cada vez mais concreta. Países como a França estão revendo a política de reabertura e impondo novas restrições.
Que a burguesia é essa classe que quer arrancar a pele dos trabalhadores para salvar seus negócios, não deveria ser novidade. O que chama a atenção, no entanto, é que a esquerda pequeno-burguesa, que foi incapaz de denunciar a burguesia desde o início da pandemia, agora se mostra não só incapaz de denunciar sua política criminosa, se mostra também completamente a reboque da classe dominante.
Quando a burguesia dizia “fique em casa”, a esquerda pequeno-burguesa obedecia e ficava em casa. De repente, sem qualquer crítica, sem qualquer avaliação, a esquerda decidiu sair às ruas para fazer campanha eleitoral. Por qual motivo? Somos obrigados a concluir que o único motivo é que a burguesia autorizou a saída às ruas, visto que o problema concreto da pandemia permanece. Mas, o que é mais importante: a burguesia autorizou a saída às ruas apenas para atividades específicas. Para grandes mobilizações, as proibições permanecem.
E essa concepção não está somente nos métodos de a esquerda pequeno-burguesa fazer campanha. O seu próprio programa e a sua própria posição em relação às eleições revelam um acordo com a burguesia em relação à questão da pandemia: o coronavírus e o desemprego não são um problema real. No fim das contas, a pandemia, o desemprego, a fome e todos os problemas mais fundamentais da classe operária não estão entre os principais desafios da esquerda. Todos esses problemas são encobertos pela demagogia reacionária em torno dos únicos assuntos que a burguesia permite discutir: propostas abstratas para a pintura de creches, o asfaltamento de ruas, a coleta do lixo etc.
Se a esquerda pequeno-burguesa se exime de discutir os problemas mais fundamentais, se decide viver em um mundo sem pandemia e sem desemprego, em um mundo onde os “super-heróis” candidatos seriam capazes de resolver todos os problemas, quando na verdade apenas estão vendendo ilusões para efetivar seu cargo encostado em alguma prefeitura, é impossível que essa esquerda levante as bandeiras de luta sob as quais os trabalhadores mais necessitam neste momento. É preciso rejeitar toda tentativa de adaptação ao regime político burguês e mobilizar os trabalhadores em torno do Fora Bolsonaro e todos os golpistas e pela candidatura de Lula.