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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

O verdadeiro revisionismo

Uma defesa aberrante do stalinismo

A tentativa de justificar o stalinismo maquiando e simplesmente mentindo sobre esse regime é uma política rasteira que serve apenas para enganar a classe operária

Os “neostalinistas”, ou melhor dizendo, as viúvas de Stálin que idolatram uma figura e um fenômeno político que já não existem mais, têm atualmente características variadas. Uns são bem corajosos e defendem com unhas e dentes absolutamente tudo o que Stálin fez, abertamente, sem vergonha nenhuma. São stalinistas autodeclarados. Geralmente, adolescentes e indivíduos sem uma formação política sólida, alheios a qualquer atividade teórica ou prática – sua ignorância explica o porquê dessa defesa enfática. 

Há também um segundo tipo de stalinista. Esse é mais refinado, pois seus adeptos, cientes de que é impossível esconder ou justificar de modo contundente e explícito os crimes contrarrevolucionários de Stálin, pintam-se de “imparciais”, de “isentões” e não se declaram abertamente stalinistas. Entretanto, utilizam-se de todos os tipos de malabarismos teóricos e históricos para relativizar o papel profundamente danoso do stalinismo para o movimento operário internacional. O guru dessa ala stalinista contemporânea é o filósofo italiano Domenico Losurdo e no Brasil temos elementos da estirpe do youtuber Jones Manoel e do jornalista Breno Altman que seguem a mesma linha.

Uma forma radical do segundo tipo de stalinista, quase na fronteira com o primeiro, tudo o que faz é tecer os mais aberrantes e fanáticos elogios ao “Pai dos povos”, ao mesmo tempo em que jura de pé junto que não é stalinista. Um artigo publicado no blog LavraPalavra expressa exatamente os métodos adotados por essa vertente dos filostalinistas. Os autores Marcelo Balmonte e Otávio James afirmam “trazer uma modesta introdução ao debate sobre a figura de Stalin que não caia no vício da autofobia, mas que, de mesma forma, está distante do que se possa chamar de apologia stalinista ou justificacionismo (grifo nosso)”, embora no mesmo parágrafo apontem o pequeno georgiano como o “Homem de Aço”. Mas não os caluniem, eles não são apologistas do stalinismo!

Na verdade, o texto refere-se, a todo o momento, ao burocrata como um “revolucionário”, um grande dirigente, um genial estrategista que elevou a URSS “ao nível de potência mundial” ou mesmo de modo carinhoso, como “Koba” ou “Iosef”. A partir de referências bibliográficas de stalinistas notórios como o próprio Losurdo ou o ultrastalinista belga Ludo Martens, faz uso de falsificações históricas tipicamente stalinistas, concedendo a Stálin um suposto papel de protagonista que nunca tivera na história da revolução russa.

Stálin também teria sido o homem que derrotou Hitler e venceu a II Guerra. Sob Stálin, a URSS era uma “sociedade caracterizada não mais pela uniformidade e alinhamento totalitários, mas pela permanência e onipresença da guerra civil”, citam os autores seu guru Losurdo. Portanto, todas as atrocidades cometidas pelo ditador soviético, o extermínio do corpo dirigente da revolução de 1917, o boicote à revolução mundial e os acordos com Hitler, teriam sido orquestrados para proteger a URSS da guerra, a qual Stálin supostamente previa, e por isso se protegia para que o país estivesse preparado na hora do combate.

Nossos stalinistas “não stalinistas” tentam contrapor Stálin ao imperialismo a todo o momento. Mas acabam caindo em contradição ao reconhecerem, não sem darem ares gloriosos, a colaboração do stalinismo com o imperialismo após a II Guerra. Na verdade, já antes da Guerra Stálin havia feito alianças que deixariam Lênin se revirando no túmulo, desde as frentes populares que colocavam o movimento operário a reboque das burguesias dos mais diversos países, com destaque para a Espanha e a França – sabotando as revoluções iminentes nesses países – até o pacto com Mussolini e Hitler.

Após a II Guerra, Stálin simplesmente participou da repartição do mundo junto com as potências imperialistas, atuou como um czar ao submeter povos inteiros pela força, ora literalmente recolonizando antigas possessões do Império Russo, ora implantando regimes fantoches de cima para baixo, não tendo verdadeiras ligações com as massas. Além disso, a participação dos partidos controlados pelo stalinismo em governos de coalizão, algo elogiado pelos autores, representou mais uma das muitas prostituições do marxismo, o que levou à gradual desmoralização desses partidos perante as massas e desembocou na teoria bizarra do eurocomunismo para justificar a integração final dos partidos stalinistas ao regime imperialista. 

Mas nossos articulistas mantêm suas posições: “não se trata (…) de uma ideal, idólatra e acrítica ‘reabilitação de Stalin’, como propagandeado pela histeria liberal, mas de um balanço crítico para que, dentro do seu escopo de ações, se aproveite o que é benéfico.” Eles, no entanto, não fazem nem um balanço, nem muito menos uma interpretação crítica. É pura mistificação de uma figura nefasta, feita por falsos isentões que, ao mesmo tempo que repetem a propaganda enganosa da máquina stalinista, procuram dizer que não é isso o que estão fazendo. São mentirosos em dose dupla! Chegam ao cúmulo de dizer que o Gulag não era um sistema de campos de concentração e tentam provar que havia um desincentivo por parte do próprio Stálin ao culto de sua personalidade! Esses são os stalinistas profissionais!

Ao mesmo tempo, dizem que “qualquer idealismo que repouse sobre a figura de Stálin é maléfica (sic.) e deve continuar sendo considerada (sic.) como empecilho para a real assimilação e compreensão do período”. A repressão de Stálin é justificada por eles como uma repressão aos contrarrevolucionários, como ocorreu durante o Terror jacobino. Mas o terror stalinista não foi um terror contra os inimigos da revolução, muito pelo contrário: constituiu-se pela repressão generalizada de trabalhadores, camponeses, soldados do Exército Vermelho e, o mais criminoso de tudo, pelo extermínio de gerações de revolucionários, desde os fundadores do Partido Bolchevique até os dirigentes que consolidaram a própria burocracia stalinista. Nada mais impreciso e falso do que comparar o regime stalinista com o jacobino. As analogias que devem ser feitas são com o Termidor – o processo de golpe de Estado que pôs fim à Revolução Francesa com a derrubada dos jacobinos, e depois com a instauração do bonapartismo – pois Stálin se apoiou, a partir dos anos 30, na polícia política e em uma ditadura personalista acima de todas as instituições do Estado soviético. Meras formalidades jurídicas que não prestavam para nada a não ser para abaixar a cabeça para as arbitrariedades da camarilha.

Como já dito antes, há uma tentativa frequente no texto, que repete os mesmos mitos dos stalinistas declarados, de contrapor Stálin ao imperialismo, considerando aquele como o grande inimigo da burguesia mundial. Stálin seria o sucessor ideológico de Lênin e continuador da Revolução de Outubro, um verdadeiro bolchevique.

“Manter a demonização acrítica ao (sic.) georgiano em nossas fileiras é abrir as portas para que o liberalismo dite os termos não apenas de sua própria história como a de seus inimigos, os comunistas”, justificam nossos stalinistas. Essa é uma das principais argumentações que se faz para passar o pano a Stálin: mostrar quem realmente foi o burocrata contrarrevolucionário seria prestar um desserviço à revolução, pois criticar o stalinismo seria criticar o socialismo, o que só interessa à direita. Nada mais longe da realidade. Pelo contrário, passar o pano para o stalinismo é ser stalinista, em algum grau, e, nesse sentido, prestar um verdadeiro desserviço à revolução mundial, encobrindo todos os estragos feitos pela burocracia soviética e justificando sua política de colaboração com a burguesia. Se o stalinismo foi bom para os trabalhadores, logo seu exemplo deveria ser seguido. E seguir o exemplo do stalinismo é garantir, uma vez mais, a derrota da classe operária e seu esmagamento pelo imperialismo.

A crítica dos stalinistas à direita capitalista seria porque, ao atacar o stalinismo, ela ataca também os fundamentos do marxismo, isto é, o marxismo e o socialismo. Mas isso é obra também dos próprios stalinistas, ao reivindicarem o stalinismo como expressão legítima do marxismo. Na verdade, Stálin prostituiu o marxismo e o revisou integralmente. O stalinismo não tem absolutamente nada a ver com o marxismo ou com a revolução. O stalinismo é o antimarxismo. Para defender o marxismo é preciso explicar o que foi realmente o stalinismo e deixar claro que este não foi, em nenhum aspecto possível, uma “experiência socialista” ou, pior ainda, o “socialismo real”, o “socialismo possível”. Isso é enganar os trabalhadores e favorecer a propaganda capitalista contra o socialismo. Ao invés de tentar distorcer a história inventando uma realidade paralela, enganando o proletariado, é necessário esclarecer que sim, o stalinismo foi um regime de brutal opressão dos trabalhadores, mas que o socialismo não é isso, mas sim o oposto, um sistema – o único – de emancipação dos trabalhadores. O stalinismo, apesar de ter se construído sobre as bases da revolução proletária e da propriedade estatal dos meios de produção, destruiu a revolução e administrou o Estado de modo muito parecido com qualquer outra burocracia estatal dentro de um regime capitalista, mantendo os privilégios de uma burocracia e impedindo a independência das massas, esmagando a democracia operária.

Atacar o stalinismo seria fazer frente com a direita. Mas foi o stalinismo que fez frente com a direita e a burguesia, esta é a política e o papel do stalinismo: uma justificativa com máscara socialista para a colaboração com a burguesia e a sabotagem da revolução mundial. Se o stalinismo é um exemplo, então deveria ser seguido. E seguir o exemplo do stalinismo significa atentar contra a classe operária e impedir sua evolução revolucionária. É por isso que estamos dispostos a travar uma dura batalha ideológica contra a tentativa de ressuscitar o cadáver do stalinismo.

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