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José Álvaro Cardoso

Graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Economia Rural pela Universidade Federal da Paraíba e Doutor em Ciências Humanas pela UFSC. Trabalha no DIEESE.

Cobiçada pelo imperialismo

Uma ameaça de proporções amazônicas

O imperialismo estás sempre tentando se apropriar de todas as riquezas e recursos do Planeta. A Amazônia, com toda a certeza, está na mira da cobiça, mas a floresta é nossa.

A soberania da Amazônia é um tema crucial no debate atual, em função do contexto de crise econômica inusitada no mundo, possivelmente a mais grave da história. Com todos os riscos que isso implica, inclusive de uma escalada de violência ao nível internacional, com perigo de uma grande guerra mundial. Tudo indica que a crise que temos assistido no mundo seja apenas o começo de um processo que tende a ser cada vez mais dramático. Ao par da crise econômica, há uma grande crise política, social e militar, que envolve o centro imperialista mundial, especialmente a sua cabeça, os EUA. Este país sofre grande crise porque não está conseguindo, inclusive, exercer a hegemonia da mesma forma que manteve durante tantas décadas. Praticamente mandava no mundo, interferindo em inúmeros países, invadindo outros, mais ainda após a dissolução da União Soviética, em 1991.

Assistimos à derrota do imperialismo no Afeganistão, no ano passado, país do qual os EUA saíram escorraçados, numa situação humilhante, para um exército teoricamente muito inferior, o Talibã, que dispunha do mínimo de recursos (dinheiro, armamentos modernos etc.). Estamos vendo há seis meses a crise causada pela atitude da Rússia, que decidiu enfrentar as provocações dos Estados Unidos na Ucrânia, impedindo que este país, a mando das potências imperialistas, instalasse armas nucleares às portas de Moscou.

A guerra da Ucrânia é um marco fundamental nesse processo de crise de dominação do império norte-americano. Perante a ousadia da Rússia, um país subdesenvolvido, mas grande potência militar, os EUA não tiveram o que fazer, a não ser empurrar os ucranianos para uma “fria” sem precedentes. Conforme diz a irônica frase: “os EUA irão lutar até o último ucraniano vivo”. Os EUA, ao que parece, vão tomar outra invertida em Taiwan, já que a China, apesar de muito comedida em termos diplomáticos, não irá aceitar a perda da ilha, que sabidamente pertence ao território chinês, fato reconhecido, inclusive, formalmente pelo governo dos EUA em acordos diplomáticos anteriores.

Não é que a China represente uma ameaça aos Estados Unidos da América. Na verdade, o seu crescimento e progresso, representa uma problema ao império dos EUA e às ambições hegemônicas deste. Quando as agências governamentais e a grande imprensa se referem à China como a “ameaça” número um, estão falando que ela ameaça o domínio do Império. Criticar as disputas territoriais da China com os seus vizinhos sem mencionar as políticas do império estadunidense para estabelecer a dominação estratégica dessas áreas é uma hipocrisia desmesurada. Não achamos que os chineses sejam ‘santos’, porque isso não existe em política internacional. Mas os EUA são o país que mais cometem crimes no mudo todo. Não precisamos nem lembrar as duas bombas atômicas que jogaram no Japão, que foi o maior ato terrorista da história da humanidade. Vamos lembrar algo mais recente: a articulação do golpe de 2016, que ameaça liquidar o Brasil, inclusive sua soberania territorial e que, por exemplo, levou Bolsonaro ao poder. Bolsonaro é cria direta do golpe de 2016.

A partir deste quadro impressionante é fundamental entender o que está acontecendo na Amazônia, porque a ambição imperialista sobre a região está mais exacerbada do que nunca, justamente em função desse aprofundamento da crise política e econômica internacional. Como os países ricos dispõem de muito dinheiro para propaganda, a versão quase única que circula é a de que a Amazônia está sendo destruída por quem não tem consciência ecológica. E, no lado oposto, os países ricos estariam interessados ao máximo em “salvar” a Amazônia.

Recentemente (em 18 de junho), um jornalista de O Globo, Ascânio Seleme, afirmou com todas as letras, que “A floresta não pertence ao Brasil ou Colômbia, Venezuela, Peru, Equador e Guianas.” Usando uma série de argumentos, e descrevendo os graves problemas da região, o jornalista defendeu no artigo que a Amazônia não corre risco em função dos interesses estrangeiros. O perigo de perda de soberania na Amazônia seria uma falácia, não haveria nenhuma ameaça externa. Para o jornalista, os interesses dos EUA, da França, e dos demais países imperialistas na região, seriam apenas o de preservar a floresta e garantir a segurança das populações nativas da Amazônia. Em face dos gravíssimos problemas da Amazônia, enormemente piorados no governo incompetente e entreguista de Bolsonaro, nessa interpretação os países ricos aparecem como “salvadores da pátria”, dispostos a investir e “trabalhar duro” pela preservação da floresta e suas populações nativas.

Nada poderia ser mais enganoso e perigoso do que esse tipo de perspectiva. Possivelmente, não exista em qualquer parte do globo terrestre região que disponha de mais recursos naturais do que a Amazônia. O potencial de existência de grandes quantidades de minerais raros, gás, petróleo é enorme. Obviamente a Amazônia tem graves problemas que requererão muito planejamento, vontade política, tempo, e dinheiro para serem resolvidos. Mas certamente a solução não está em colocar a administração do galinheiro nas mãos das raposas. O atual debate sobre gestão internacional da Amazônia, obviamente está sendo fomentado pelos grandes capitais internacionais, que querem simplesmente rapinar (roubar) os recursos da área. Essas ambições são disfarçadas por objetivos indiscutivelmente nobres, como a proteção das populações indígenas, preservação do meio ambiente, da fauna etc.

Uma das teses cada vez mais difundidas é a de que o Estado brasileiro é incompetente para administrar a Amazônia e que, portanto, estaria justificada a ideia do jornalista, de ser realizada a gestão da floresta através de um conjunto de países. Inclusive de fora da Região Amazônica, já que os demais países amazônicos seriam também incapazes. Os países ricos seriam mais “organizados” e “civilizados”, portanto, mais preparados para administrar a Amazônia. Neste momento de grande turbulência internacional, de crise econômica e política, e de imensa voracidade dos capitais, esse debate é singularmente perigoso. Está se falando em entregar para administração internacional 59% do território brasileiro, compreendido pela Amazônia Legal, e que é distribuído por 775 municípios.

A Amazônia compreende nada menos que 67% das florestas tropicais do mundo. Se fosse um país, como querem alguns, a Amazônia Legal seria o 6º maior do mundo em extensão territorial. No Brasil, há dois principais territórios geográficos para a região: bioma Amazônia e a Amazônia Legal. O primeiro possui 4,2 milhões de km², e é definido como um conjunto de eco regiões, fauna, flora e dinâmicas e processos ecológicos similares. Ele é composto por florestas tropicais úmidas, extensa rede hidrográfica e enorme biodiversidade.

Embaixo da Amazônia está um tesouro que os imperialistas já mapearam muito bem, um verdadeiro oceano subterrâneo, com volume total de 162 mil quilômetros cúbicos, e que é chamado pelos cientistas de Sistema Aquífero Grande Amazônia (Saga). O volume dessa reserva foi constatado há pouco tempo, especialmente pelos pesquisadores do curso de Geologia da Universidade do Pará. O Saga é considerado o maior aquífero do planeta, estimado em quatro vezes o Aquífero Guarani e, portanto o maior do mundo.

Uma das possíveis razões para a ofensiva contra a Amazônia é o que ela representa em termos de estoque de água doce. Segundo os pesquisadores, o Saga seria capaz de abastecer o planeta durante 250 anos. São mais de 150 quatrilhões de litros de água doce — uma riqueza de valor incalculável para o mundo. Em uma área total de um milhão e duzentos mil quilômetros quadrados, 75% em território brasileiro, se avalia que o Saga dispõe de mais de 150 quatrilhões de litros de água doce. Várias cidades da Amazônia já utilizam desse recurso para o abastecimento público. Segundo os pesquisadores da Universidade Federal do Pará, o Saga e a vegetação amazônica dependem um do outro para que ambos possam existir. De acordo com professores, é da relação entre aquífero e floresta que nascem as chuvas que irrigam quase todo o país.

Imaginem se a maior reserva de água doce do mundo não seria objeto da cobiça dos países imperialistas. Se os EUA fazem o que fazem por petróleo, que é também um produto essencial, imaginem o que não fazem para se apropriar de mananciais de água, que é simplesmente a substância mais importante da Terra. Somente o bioma Amazônia representa 48% do território brasileiro. A Amazônia Legal, que inclui o bioma Amazônia, além de parte do bioma Cerrado e do Pantanal, possui aproximadamente 5 milhões de km². Ela abrange todos os estados da Região Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), mais Mato Grosso e parte do Maranhão.

A denominada Pan Amazônia é um território que se distribui também entre outros oito países, tendo uma área estimada em 7,8 milhões de km², das quais o Brasil detém 64%. Em seguida vem o Peru (10%), Bolívia (6%), Colômbia (6%), Venezuela (6%) e o restante (8%), que se distribui entre Equador, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. A população da Pan Amazônia está estimada em 38 milhões de habitantes (equivalente a 84% da população da Argentina). Somente a Amazônia Legal tem 28,1 milhões de habitantes, 13% da população brasileira.

É uma imensidão de biodiversidade, que desperta forte “apetite” nos países imperialistas. A região é extremamente estratégica sob todos os pontos de vista: econômico, ecológico, político, social e militar. Enquanto isso, uma delegação brasileira com representantes de 18 organizações da sociedade civil visitou os EUA, na última semana de julho, para solicitar ao governo de Washington uma posição em relação ao processo e aos resultados das eleições no Brasil. Esse fato revela os perigos que o Brasil corre neste momento.

Os EUA são, com folga, na história mundial, o país que mais organizou golpes de estado, em todos os continentes. Seguramente, na casa dos milhares. Os golpes de 1945, 1954, 1964, 2016, no Brasil, sabidamente, foram todos coordenados pelos norte-americanos. As ditaduras mais sanguinárias da América Latina, incluindo a de Augusto Pinochet, Jorge Rafael Videla e Emílio Garrastazu Médici, foram todas alavancadas e sustentadas pelos EUA. Essa ingenuidade e subserviência aos interesses dos países estrangeiros, por parte de alguns brasileiros, mesmo que sejam bem-intencionados, pode nos custar muito caro.

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