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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Palhaçada na internet

Um soco na cara do trabalhador

Tabata Amaral, com toda a sua genialidade, tem sabido usar a pele de cordeiro para disfarçar sua amizade com os lobos.

Na última semana, Tabata Amaral foi vítima de uma violenta retuitada, que mobilizou as redes sociais. Um macho branco heteronormativo de esquerda, o ator Zé de Abreu, teve o desplante de, num momento de indignação, endossar a mensagem de um outro sujeito indignado que dizia que, se encontrasse a jovem deputada na rua, lhe socaria a cara até ser preso. Mais não foi preciso para excitar o fã-clube da pupila de Jorge Paulo Lemann, o segundo empresário mais rico do Brasil, afinal uma mulher estava sendo agredida por um homem.

A deputada, como é sabido, faz demagogia por ter nascido em família pobre, mas, depois do banho de loja na Fundação Lemann e de sua passagem pela Universidade Harvard, convenceu-se de que a defesa do neoliberalismo, se não é o melhor para o Brasil, com certeza é o melhor para a sua carreira. Eleita pelo PDT com a promessa de “renovar” a política, não hesitou em votar favoravelmente à reforma da Previdência de Jair Bolsonaro já no primeiro turno. Contrariou a orientação do partido e a expectativa dos seus eleitores de esquerda, mas, certamente, obedeceu ao seu padrinho, para quem Bolsonaro, apesar dos rompantes e de alguma falta de polidez, deve ser a expressão maior dessa tal renovação.

Atendendo ao chefe Lemann, Tabata deu um soco na cara dos trabalhadores, deu um soco na cara dos aposentados, deu um soco na cara de quem a elegeu, mas, para os identitários, grave mesmo foi o retuíte do ator Zé de Abreu. A “vítima” agora exige, como compensação pela estocada verbal que levou, que o ator perca o emprego na Rede Globo, onde é contratado, e, para tanto, já deu início a uma campanha. Zé de Abreu é um ator conhecido do público e defende abertamente a volta do presidente Lula. Por esse motivo, importa “cancelar” Zé de Abreu na fogueira virtual e, se der, chamuscar o Lula e o PT.

Em sua coluna na Folha de S. Paulo, Tabata Amaral expôs uma boa parte do acervo de ofensas que vem colecionando, vindas de muita gente não nomeada (gente de pouca relevância, apenas possíveis eleitores ludibriados por ela), mas tomou o cuidado de usar o nome do Zé de Abreu no título. Posa de vítima da truculência verbal misógina, que poria Zé de Abreu ao lado do espantalho Bolsonaro, mas a verdade é que quem, de fato, está ao lado de Bolsonaro é quem vota com ele. Ou não?

Tabata, a aluna genial que teria abandonado um sem-número de oportunidades promissoras no exterior para dedicar-se ao sonho de “renovar” a política brasileira, começou mal o seu projeto. Logo de cara, pôs em prática a velha lição dos farsantes, que vendem gato por lebre para os eleitores. Com toda a sua genialidade, tem sabido usar a pele de cordeiro para disfarçar sua amizade com os lobos.

A esquerda pequeno-burguesa, que se enroscou no identitarismo, agora se vê na obrigação moral de defender a deputada patranheira, porque seriam inadequadas as palavras usadas para xingá-la. Seria necessário, ao que tudo indica, elaborar uma lista dos insultos politicamente corretos, que poderiam ser desferidos no calor dos debates sem incorrer em “cancelamento” – a menos que o que se queira proibir seja o calor dos debates.

É difícil imaginar que até mesmo um coxinha com pedigree consiga ser polido na hora da raiva. Talvez fosse bom refletir, afinal, sobre o que leva tanta gente a xingar a deputada, independentemente das palavras usadas. Estas podem ser grosseiras, toscas, mas cabe perguntar o que gera tanta raiva e indignação.

Os identitários vão dizer que é o machismo estrutural, já que, sendo ela branca, não se aplicaria o conceito de racismo estrutural, mas deveriam pensar um pouco mais antes de achar que essa conversa explica tudo o que acontece no planeta Terra. O que mais provoca indignação é ser enganado. Que palavras as pessoas usam para xingar nas redes sociais deveria ser o menor dos problemas.

De resto, sempre é bom lembrar que ninguém fez campanha para cancelar o Luciano Huck quando ele puxou o coro que, no mais eloquente baixo calão, xingava a presidenta Dilma Rousseff na abertura da Copa do Mundo. Muito menos passaria pela cabeça de algum desses canceladores fazer esse sujeito perder o milionário emprego dele na Globo.

Um diretor-adjunto do jornal Valor Econômico, no entanto, foi além: chegou a pedir a prisão do ator Zé de Abreu por crime de “incitação à violência”. A propósito, convém lembrar que o atual presidente da República, o senhor Bolsonaro, no dia em que foi eleito, em discurso ao vivo pelo celular, fez a convocatória “Vamos metralhar a petralhada”, que, depois, no Acre, repetiria usando o verbo “fuzilar” enquanto segurava um tripé como se fosse uma metralhadora. Qual foi o jornalista que pediu punição ao recém-eleito por crime de “incitação à violência”?

Vamos ver se nós entendemos: não se pode “incitar à violência” quando o alvo são mulheres, negros e pessoas LGBTQIA+, mas, se o alvo forem “petralhas”, a história será um pouco diferente, afinal “corruptos” merecem o linchamento em praça pública.

Durante a longa e incessante campanha anti-PT feita pela imprensa da burguesia, os petistas foram carimbados. Não podiam entrar em avião ou restaurante sem serem atacados por “cidadãos de bem” indignados com a “corrupção”. Outro Zé, o Zé Dirceu, chegou a levar uma bengalada na cabeça, desferida por um velhote devidamente incitado pelas matérias de telejornais e da imprensa como um todo. Ah, mas deve ter sido uma bengalada merecida…

Não nos enganemos. Enquanto se põe ao lado das mulheres, dos negros, dos gays e até dos índios de direita, com base na defesa de suas identidades historicamente oprimidas, a esquerda pequeno-burguesa dá um salvo-conduto a toda e qualquer atitude vil oriunda desses atores políticos. Ao mesmo tempo, a direita, mesmo a dita “civilizada”, jamais profere uma palavra em defesa de alguém que não seja do seu grupo político, pois está pouco se lixando para as identidades dos esquerdistas, mas sabe muito bem aproveitar uma oportunidade para atacar a esquerda.

Alguém imaginaria o apresentador Danilo Gentilli, ícone da extrema direita, na defesa das pautas identitárias? Pois até ele deu uma de cavalheiro que salva a princesa dos dragões machistas de esquerda. Um verdadeiro feminista! Basta de ingenuidade. Na arena política, deve-se discutir política.

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