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Afonso Teixeira

Tradutor, formado em Letras pela USP e doutorado em Linguística com tese em tradução. Tem formação como músico, biólogo e cientista político.

Independência

Um mundo melhor

A condição para a existência de um mundo melhor é a liberdade, e não existe liberdade onde não há independência.

No dia 28.8.2022, o jornalista Julián Fuks publicou no portal UOL (Folha de S.Paulo), um artigo com o seguinte título: “Precisa-se de terrorista, capaz de um ato sutil que transforme a história”. Foi uma crítica ao papel de independência do Brasil em 7 de setembro de 1822. Crítica que leva em conta a data comemorativa de 200 anos.

Segundo o jornalista, não há o que comemorar. O terrorista do título deve ser alguém que saiba que o grito da independência foi “uma farsa insidiosa”, dado por um homem que queria “garantir para si mesmo… seus privilégios”. Segundo o jornalista, foi um “grito mítico” que ocultava o “grito da multidão negra condenada à exploração desumana”.

Mais adiante, vai falar do “coração pútrido de Dom Pedro I”, referindo-se à vinda ao Brasil, para as comemorações, do coração do Monarca. E conclui que é preciso “dar o fim devido ao coração de um imperador autoimposto.”

Muito bem, comecemos pelo título: transformar a história. Só é possível transformar a história no papel. A máquina do tempo ainda não foi inventada. O que o jornalista demonstra é um ressentimento infantil contra a maneira pela qual a história foi registrada. No entanto, é impossível negar que no dia 7 de setembro de 1822 o Brasil tornou-se independente de Portugal. Se fôssemos reescrever a história seria preciso afirmar, para sermos honestos, que teria sido melhor o Brasil continuar colônia de Portugal, ou seja, atender as determinações do ultrarreacionário Congresso de Viena, que queria colocar a América de volta na Europa.

A matéria de Fuks é um tanto confusa, pois procura mostrar que a desgraça da independência foi o fato de a escravidão ter persistido. Ele precisaria demonstrar, de maneira inequívoca que, se o Brasil continuasse colônia de Portugal, a escravidão deixaria de existir. Não há como fazê-lo. O único exemplo que temos é o de Cuba, que continuou colônia da Espanha até à virada do século e manteve a escravidão.

Contudo, é preciso fazer uma grosseira retificação, o que significa dar uma nota baixa à matéria publicada no UOL. Dom Pedro I não declarou a independência do Brasil para manter seus privilégios e o privilégio de “seu séquito” como afirma o jornalista.

Enquanto a família real portuguesa se encontrava no Brasil, ocorreu a Revolução do Porto, em Portugal, para que o país se livrasse dos ingleses que passaram a administrar o país. Uma das medidas dos revolucionários foi insistir no retorno do rei a Portugal, que era, na ocasião, Dom João VI. O Rei retorna e, para que o Brasil não ficasse abandonado, deixa no trono do vice-reino seu filho, Dom Pedro.

Dom Pedro tinha formação liberal e não estava afiado com as ideias do Congresso de Viena, organismo montado para devolver à Europa as cabeças coroadas e desfazer as reformas liberais de Napoleão. Com a morte de Dom João VI, as cortes que se formaram em Portugal exigiram que Dom Pedro deixasse o Brasil para assumir o trono em Portugal. Dom Pedro, percebendo o golpe, abdicou em nome de sua filha, Dona Maria de Glória, que, por ser menor de idade, ficou sob a tutela do tio, Dom Miguel.

Quando Dom Miguel deu um golpe de Estado para reintroduzir o absolutismo no país, Dom Pedro retorna do Brasil, depõe o irmão golpista e devolve o Cetro para a filha. Pouco depois, morre, vitimado pelo tifo.

Dom Pedro, tido com Dom Pedro IV, em Portugal, foi o rei que deu ao país europeu sua primeira Constituição. Como imperador do Brasil deu-nos, também, nossa primeira Constituição, em 1824.

Graças a esse homem, talvez o maior herói nacional, somos hoje um país independente, porque ele percebeu que se não proclamasse nossa independência, Portugal voltaria a ser uma nação absolutista, submissa aos critérios do Congresso de Viena e o Brasil voltaria a ser uma reles colônia que, com o tempo, acabaria se dissolvendo em diversos Estados como ocorreu com o restante da América Latina.

No mundo ideal desse jornalista, a escravidão não desapareceria, mas se estenderia à todos: brancos, negros, índios e imigrantes que para cá, por ventura, viessem.

O processo de crítica e reavaliação da história, que ocorre em diversos países, faz parte de um programa internacional, criado em algum centro dos Estados Unidos da América, por algum think-tank, para desfazer as identidades nacionais, com o propósito de riscar da mente das pessoas a ideia de independência e, por fim, de liberdade.

No livro de George Orwell, bastante mencionado ultimamente, 1984, o governo totalitário daquela anti-utopia determina que se retirasse do dicionário uma das acepções da palavra “liberdade”, justamente aquela da liberdade individual. E o termo passaria a referir-se apenas ao ato de se ver livre de alguma coisa, como uma praga de piolhos.

E a praga de piolhos se alastra nestes dias em que comemoramos nossa independência, quer entre aqueles que a negam, quer entre aqueles que fazem delas mais um instrumento de opressão.

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