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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Documentário soviético

Um filme extraordinário chamado O Fascismo de Todos os Dias

Assistir ao filme soviético O Fascismo de Todos os Dias é percorrer um documento que nos obriga a refletir sobre a História em três moment

ordinary fascism

Assistir ao filme soviético O Fascismo de Todos os Dias (Obyknovennyy fashizm, Mikhail Romm,1965) é percorrer um documento que nos obriga a refletir sobre a História em três momentos distintos.

O primeiro é o tema do filme, ou seja, o nazismo na Alemanha, de sua ascensão até a derrota na II Guerra Mundial. O segundo é entendê-lo a partir do ano de seu lançamento, 1965, ou seja, 20 anos após o fim do conflito, uma comparação que o próprio diretor Mikhail Romm propõe.

O terceiro momento é encontrar esta obra em 2022 e assisti-la à luz da nossa atual conjuntura social, na qual o fascismo é, de novo, uma força política na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina (incluindo o Brasil, claro).

Percebe-se, por exemplo, que o fascismo contemporâneo é resultado da incapacidade de superação das causas do fenômeno. Apesar das derrotas da Alemanha e da Itália na II Guerra, ele sempre se manteve como um esqueleto no armário pronto para emergir quando as condições econômicas e sociais do capitalismo permitem.

Se pensarmos na década de 1960, encontramos um cenário de conflitos. Vivia-se uma polarização do mundo com a Guerra Fria, os americanos haviam invadido o Vietnã e a Revolução Cubana havia acontecido alguns anos antes. As crises impostas pelo imperialismo, entre as quais o golpe militar apoiado pela CIA no Brasil, eram de extrema-direita.

No filme, a comparação entre os dois momentos históricos acontece de um ponto de vista bolchevique. Mikhail Romm nasceu na Sibéria em 1901 e foi testemunha de acontecimentos que moldaram o século XX. Serviu no Exército Vermelho durante a Revolução Russa e viveu o stalinismo e os horrores da Guerra. Dirigiu 18 filmes e foi professor de Andrei Tarkovsky.

Com essas credenciais, tê-lo como o narrador do documentário nos oferece o privilégio de ouvir alguém que nos deixou uma mensagem muito importante. Ele fala como soviético e como socialista. Na edição, utiliza imagens do presente (1965) e material do arquivo do Ministério de Propaganda do Terceiro Reich, da coleção pessoal de Hitler e de fotografias apreendidas de soldados alemães e das SS.

Muitas vezes, ridiculariza as figuras dos ditadores supremos, como Hitler e Mussolini, fazendo leituras das imagens de arquivo mostradas, nas quais ressalta detalhes que passariam despercebidos por quem assiste. Em outros momentos, tenta buscar respostas à adesão em massa da população alemã à seita nazista.

Em nenhum instante, no entanto, é maniqueísta. Mostra que houve resistência na Alemanha e perseguição a todos que tentaram se opor ao regime. Lembra que muitos países chegaram a acordos com Hitler quando de sua eleição. E usa uma imagem emblemática para definir o século XX: a de um carro de corrida desgovernado em uma pista de automobilismo.

A importância maior do seu documentário é mostrar a terrível aliança entre os nazistas e a burguesia, que fizeram da II Guerra Mundial um lucrativo negócio de cadáveres. A sua conclusão elege os americanos como os herdeiros das técnicas comerciais do Terceiro Reich. Isso talvez explique por que os Estados Unidos, desde os anos 1960, nunca deixaram de promover algum conflito armado.

A estreia do filme foi em Leipsig. “Embora a Alemanha naquela época fosse um país amigo da URSS, a sessão foi pesada. Contam que alguns espectadores reconheceram seus parentes e pessoas próximas tanto entre os mortos quanto entre os verdugos. Depois que o filme acabou, por cerca de 10 minutos as pessoas ficaram sentadas em silêncio. Mikhail Romm admitiu que seu objetivo principal havia sido chocar o espectador, e para tanto escolheu o método de combinar cenas de tempos de guerra e de paz”, relatou o vice-diretor da Mosfilm, Igor Bogdasarov, em nota no site do CPC-UMES.

Assistir a O Fascismo de Todos os Dias também nos permite fazer uma reflexão sobre a atual conjuntura brasileira. É possível perceber que estamos longe da maneira alienada como os alemães aderiam à ideologia nazista. Há sim pessoas que professam uma adoração fanática e irrefletida aos preceitos da extrema-direita, mas ainda estamos muito distantes de uma adesão massificada como se vê neste filme.

Porém, as condições econômicas, ou seja, capitalistas, que permitiram a ascensão do regime na Alemanha estão presentes. A resposta governamental à pandemia é comparável a um negócio lucrativo de cadáveres. A cooptação de agentes do sistema de justiça, as constantes mudanças no ordenamento jurídico e constitucional, o assalto às instituições do Estado e a fácil adesão da burguesia nacional às ideias de extrema-direita compõem uma lista de atributos semelhantes, que representam uma ameaça grave.

Infelizmente, o fascismo é sim de todos os dias e nunca será derrotado se não superarmos antes as condições históricas que permitem a sua existência.

Fontes: CPC-UMES

Streaming

O Fascismo de Todos os Dias está na plataforma do Cinesesc #CinemaemCasa até 3/3/2022. Grátis.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

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