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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Cironel

Sim, Jones Manoel, Ciro Gomes é Coronel (Parte 1)

Ciro Gomes, como ex-Ministro da Fazenda, foi o operador definitivo dos interesses de Washington

Primeiramente é preciso acabar definitivamente com a visão criada, principalmente nas redes sociais, de que Ciro Gomes é progressista e de esquerda. Ciro Gomes é representante da direita mais atrasada e fisiológica do país, com comando claro para executar rachas e semear polêmicas como instrumento de esvaziamento do debate concreto para a classe trabalhadora. Um dos exemplos é o “pastel de vento” publicado pelo Gomes, o “Projeto Nacional de Desenvolvimento”, um claro oportunismo político, a partir da lacuna deixada pelo brizolismo, porém, sem executar uma crítica “anti-imperialista”. Trata-se de um “Projeto Nacional” que está longe de tornar o Brasil independente (este tema estará na parte 2). 

O personagem “Coronel” é persistente na política brasileira e uma peça do encaixe dos interesses de domínio territorial da burguesia nacional, que divide o território brasileiro em fatias eleitorais, isto é, não se trata tão somente de um elemento do folclore sociológico, mas, de um instrumento da mais velha lógica política em todos os tempos, ou seja, a máxima “Dividir para Reinar”. O coronelismo é uma política baseada em uma hierarquia territorial e independe do patrimônio do indivíduo Coronel, mas, de sua atuação política apadrinhada, que no caso de Ciro, prefeito muito cedo de Sobral, fora ungido pelos caciques do Ceará. 

Ao contrário do que pensa o autoproclamado marxista, Jones Manoel, que se posicionou contra “agressões” a Ciro Gomes (que insistiu em participar das manifestações do dia 2 de outubro de 2021), e que defende o Coronel contra o “preconceito” ao Nordeste (como pode ser lido nos artigos de títulos “ingênuos” e identitários: “Chamar Ciro Gomes de coronel é puro preconceito contra o Nordeste” e “Ciro Gomes e o conceito de coronelismo”).

Esses artigos podem ser encontrados via buscadores, e foram publicados em um portal ligado aos interesses do “Consórcio PSB – PDT”. O coronelismo é descrito por Vitor Nunes Ferraz, no seu livro (atemporal) intitulado “Coronelismo, enxada e voto” como um fenômeno nacional que dá liga ou “amálgama” que conecta municípios, Estado e União entre coronéis, governadores e presidente, num jogo de coerção e cooptação exercido nacionalmente. Para quem conhece a obra, compreende bem que não é a posse de latifúndio que define o Coronelismo, mas sim o posicionamento no regime político. 

Muitos confundem a figura do Coronel com mandonismo político ou latifundiário, pura e simplesmente, o que leva Jones Manoel confundir, em virtude de sua política identitária, não marxista, a figura do Coronel como um fenômeno nordestino. O coronelismo não é um fenômeno nordestino. Sou paulista e me formei no interior do Estado, onde nomes de rua dos fundadores da cidade são expostos em placas e descrições de episódios de grande bravura na conquista das terras do Oeste. Em Presidente Prudente, dois Coronéis disputaram o poder durante décadas, o Coronel Marcondes e o Coronel Goulart, por exemplo, e são “fundadores” da cidade, a partir da especulação imobiliária com a chegada da ferrovia e a aceleração da grilagem. 

Evidentemente que as transformações sociais que alteram as relações capital-trabalho, criando profissões, além do constante desenvolvimento das forças produtivas (inerente ao modo capitalista de produção), as formas de relação política têm uma pequena flexibilização. No caso brasileiro, país marcado por um capitalismo baseado no latifúndio, a política de “curral” ou de domínio sobre determinado território persiste. Isso é sintomático do modo como Ciro Gomes faz política, pois está diretamente envolvido nessas relações. Apesar do desenvolvimento das forças produtivas, da urbanização e com a sensação do povo de que o coronelismo perdeu força, os descendentes do coronelismo persistem na política e no seu privatismo, isto é, são alimentados pelo poder público de forma recorrente. O mandonismo, a manipulação eleitoral, o uso das estruturas públicas para fins eleitoreiros e o filhotismo, continuam vivos, sem contar, obviamente, o personalismo. 

Importante é destacar que a burguesia sempre disporá de vários atores políticos com propostas para reproduzir a ordem burguesa e, Ciro Gomes, é egresso do PDS, o sucessor direto da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o partido da ditadura militar que governou o Brasil a partir do Golpe de 1º de abril de 1964. O PDS foi criado com o fim do bipartidarismo decretado em 1979, sendo o sucessor direto da Arena e acabou sendo o destino de personagens governistas, sendo o principal deles, o ex-presidente João Figueiredo (1979-1985). Os demais governistas também foram para o PDS, como Golbery do Couto e Silva, Delfim Neto, Eliseu Resende e Mário Andreazza. 

Em 1980 rapidamente o PDS contava com 42 senadores, entre eles, o ex-presidente José Sarney, além de 222 deputados federais com direito à liderança nas duas casas parlamentares do Congresso. O PDS despontou também como o partido de governadores, tais como Paulo Maluf (SP); Antônio Carlos Magalhães (BA), Marco Maciel (PE), Francelino Pereira (MG); Jorge Bornhausen (SC); Virgílio Távora (CE); Nei Braga (PR) e Alacid Nunes (PA). 

Na esteira da hierarquia partidária e do Voto Camarão veio Ciro Gomes, que desde muito jovem, participou da vida política em Sobral e Ceará, teve privilégios de uma boa formação escolar, sendo eleito Deputado Estadual em 1982 pelo PDS, partido de seu pai, demarcando e definindo seu posicionamento político concreto até os dias de hoje, visto que preferiu candidatar-se no partido dos mandatários, que, no fundo, é a própria defesa de classe social burguesa de Ciro Gomes.  

Fato é que nessa época já existiam o PT e o PDT, que eram legendas que aglutinavam as mais diversas esquerdas, dos comunistas aos nacional-desenvolvimentistas. Ciro Gomes preferiu continuar sua trajetória na direita, ao invés de disputar espaço nas esquerdas, passando por PMDB após ter sido eleito pelo PDS, concluindo seu mandato com aquele partido, e depois tendo sido um dos fundadores do partido, com as ligações mais íntimas com o imperialismo, o PSDB, juntamente com um dos seus padrinhos, o Tasso Jereissati. 

Ciro então passaria a ser um dos mandatários do PSDB do Ceará e rapidamente ganhando espaço político por intermédio dessa máquina eleitoral, sendo prefeito, governador e ganhando credenciais para ser Ministro da Fazenda do ex-Presidente Itamar Franco em pleno período de desenvolvimento do Consenso de Washington de 1989-1990. Para esta parte do artigo, sintetizaremos a partir da Wikipedia, e depois abordaremos mais profundamente o alinhamento de Ciro Gomes a essa política. As regras impostas à América Latina por Washington foram:

– Disciplina fiscal, evitando grandes déficits fiscais em relação ao PIB;
– Redirecionamento dos gastos públicos de subsídios (especialmente subsídios indiscriminados) para uma ampla provisão de serviços essenciais pró-crescimento e pró-pobres, como educação, saúde e investimento em infraestrutura;
– Reforma tributária, ampliando a base tributária e adotando alíquotas marginais moderadas 
– Taxas de juros determinadas pelo mercado 
– Taxas de câmbio competitivas 
– Livre comércio: liberalização das importações, com ênfase na eliminação de restrições quantitativas (licenciamento etc.), proteção comercial a ser fornecida por tarifas baixas e uniformes 
Liberalização do investimento estrangeiro direto interno 
– Privatização de empresas estatais 
– Desregulamentação: abolição das regulamentações que impedem a entrada no mercado ou restringem a concorrência, exceto aquelas justificadas por motivos de segurança, proteção ambiental e do consumidor e supervisão prudencial de instituições financeiras 
– Segurança jurídica para direitos de propriedade privada 

Ciro Gomes, como ex-Ministro da Fazenda, foi o operador definitivo dos interesses de Washington, já que as reformas neoliberais de Collor pararam em um impeachment, decorrente não de um Fiat Elba, mas das perdas imediatas com o assalto à poupança da classe média, que buscava rendimentos em face de uma hiperinflação herdada da década de 70, aprofundada em 80, mas descontrolada em 90. Diante disso, juntamente com economistas de matriz neoliberal, Ciro aplica do choque com o Plano Real. Se por um lado aparentemente estancou a sangria inflacionária, por outro, abriu o Brasil de uma vez aos interesses financeiros. Isso não seria possível sem o Coronelismo de onde Ciro Gomes emergiu. Semana que vem escreverei a parte 2 e desdobrarei a parte 3. 

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