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Victor Assis

Editor e colunista do Diário Causa Operária. Membro da Direção Nacional do PCO. Integra o Coletivo de Negros João Cândido e a coordenação dos comitês de luta no estado de Pernambuco.

Assassinato do congolês

Quem matou Moïse Kabagambe?

Identitários usam caso bárbaro para pôr culpa na "sociedade"

No dia de ontem (5), várias cidades registraram protestos contra o assassinato brutal do congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos. O jovem foi morto a pauladas no último dia 24, na orla do Rio de Janeiro. Segundo relatos, Moïse Kabagambe teria se desentendido com o dono de um quiosque, que o devia R$200 por um serviço prestado. Ao ser cobrado pelo congolês, o dono do quiosque o teria amarrado, com a ajuda de outras duas pessoas, e o espancado até a morte.

Trata-se de um crime bárbaro. Algo que, naturalmente, causaria o repúdio do conjunto da sociedade. Afinal, trata-se de alguém de vida sofrida — como é a da maioria do povo — que acabou sendo assassinado de maneira bastante cruel.

Até aí, tudo bem. Todos podem — e seria esperado que o fizessem — se comover com o caso. A grande questão, no entanto, é: se vamos protestar contra a morte do rapaz, contra quem protestaremos? Quem é o responsável por sua morte?

Quem deu a largada à jornada de “protestos” contra a morte de Moïse Kabagambe foi a obscura Coalizão Negra por Direitos. Um grupo que não deu uma única palavra sobre a recente invasão do Jacarezinho pela Polícia Militar, que não defende o fim da polícia e que não tem uma política concreta para o desemprego, para o coronavírus, para a fome ou para qualquer um dos grandes dramas enfrentados pelo povo negro.

Esse mesmo grupo, incapaz de denunciar os crimes da direita contra o povo negro, é também uma das famigeradas Organizações Não-Governamentais (ONGs) que são financiadas por agências e fundações ligadas ao Departamento de Estado norte-americano. Isto é, à CIA, a mentora da maioria dos golpes de Estado já testemunhados pela humanidade. Não bastasse tudo isso, a Coalizão Negra ainda escolheu como seu porta-voz, para falar oficialmente sobre o caso, ninguém menos que o ex-candidato a vereador Wesley Teixeira (PSOL), um homem publicamente financiado pelo banqueiro Armínio Fraga, um dos responsáveis pela política econômica do governo de Fernando Henrique Cardoso, que chegou a matar 300 crianças de fome por dia.

Se a defesa do negro por parte da Coalizão Negra é uma farsa, se ignoram os negros morrendo às moscas dia após dia, por que a morte de Moïse Kabagambe despertou tanto interesse do grupo? Ora, justamente porque esse é um típico caso em que é possível “protestar” sem, necessariamente, pôr o crime na conta da direita.

O assassinato do congolês não envolve diretamente as autoridades públicas. A denúncia de sua morte — especialmente se feita de modo superficial — não leva a uma luta política. A denúncia de que, apenas em 2020, mais 6,4 mil pessoas foram mortas pela polícia — apenas segundo dados oficiais — indispõe as massas contra as instituições. Desperta a fúria contra a própria PM, contra os governos estaduais, contra o Pode Judiciário e contra todos os cúmplices dessa chacina eterna. Ir até a ONU lamentar que um congolês teria sido morto por três indivíduos não é uma luta política.

Se o mundo em que vivemos é esse tal qual a Coalizão Negra pinta, seríamos obrigados a concluir que o grande problema dos negros está na “cabeça” das pessoas. Está na “sociedade”. Moïse Kabagambe foi morto porque três homens seriam “preconceituosos”. Porque “aprenderam errado” a como tratar um ser humano. Porque estavam especialmente estressados com suas frustrações amorosas. Porque têm algum trauma de infância. Sabe-se lá! Há de ser qualquer coisa…

A campanha da Coalizão Negra é inevitavelmente uma campanha reacionária. É uma campanha que só pode levar à uma política de policiamento da opinião. Uma campanha de tipo moral: todo mal que há no mundo é resultado do que as pessoas pensam de errado. O negro é tratado como lixo no Brasil porque o presidente da República, os bufões do Congresso Nacional ou os anciões do STF não estudaram na mesma escola que os politicamente corretos da Coalizão Negra por Direitos. É um absurdo!

Podem haver pessoas que honestamente acreditem nisso. Que o mundo será melhor se impormos às “opiniões corretas” sobre os preconceitos e atrasos da sociedade. O problema é que isso é uma política moral e, como toda ela, uma política ditatorial. É o tipo de política sobre a qual se estabeleceu a Igreja Católica e o fascismo mussolinista. E como fica claro neste caso, trata-se de uma política cujo objetivo é estabelecer uma ditadura controlada por quem não merece confiança alguma — por aqueles que omitem vergonhosamente o papel da direita em todas as desgraças do mundo.

Como bem disse o próprio Wesley Teixeira, para impedir que casos bárbaros como esses aconteçam, basta coibir o “discurso xenofóbico no mundo autoriza esse tipo de barbárie”. Quanto às balas da PM, deixemos onde estão.

Mas se o culpado pela morte de Moïse Kabagambe não é o “discurso xenófobo”, nem a “sociedade”, quem seria, além, é claro, dos infelizes que tiraram sua vida a paulada?

Embora não tenhamos todos os detalhes do caso, uma coisa podemos falar com bastante tranquilidade: se alguém ajudou isso a acontecer, esse alguém foi a direita golpista. Foi a Rede Globo, que tanto repercutiu os atos da Coalizão Negra por direitos, foi o prefeito Eduardo Paes (DEM), que foi correndo anunciar que faria uma espécie de santuário em homenagem à vítima, e tantos outros que hoje despejam suas lágrimas de crocodilo.

Se alguém tem culpa nessa história toda, são os picaretas que destruíram os direitos trabalhistas no Brasil e fizeram com que existissem milhões de Moïse Kabagambe que precisam se humilhar para levar o seu pão de cada dia para casa. São os animais que acabaram com a CLT e transformaram o trabalhador, na melhor das hipóteses, num terceirizado. Na pior, um elemento da fila da sopa de alguma instituição de caridade ou um subempregado, sem garantia nenhuma, que, quando vai cobrar os seus direitos mais elementares, são tratados da forma como Moïse Kabagambe foi tratado.

Mostrando seu “apreço” pelos trabalhadores, Eduardo Paes, em quatro meses de governo, foi o responsável por realizar, em 2021, uma reforma da Previdência em meio à pandemia, aumentando para 14% a alíquota previdenciária!

Se alguém é culpado por uma morte tão bárbara como essa de Moïse Kabagambe, são as bestas feras da direita que se autointitula “democrata”, mas que impulsionou a campanha bolsonarista do “bandido bom é bandido morto”. Que incentivou e incentiva até hoje os linchamentos e todo tipo de covardia contra mendigos, índios, travestis e demais indefesos, criando um clima de selvageria total.

Para quem não lembra, basta procurar o que dizia Aécio Neves, candidato preferencial da burguesia em 2014, sobre a maioridade penal. Basta ver que foi o PSDB, com o apoio da Globo, quem montou o aparato brutal que é a Polícia Militar paulista, que se vale de torturas e todo tipo de prática abusiva. Em todos os casos de crimes de grande repercussão — goleiro Bruno, Robinho, casal Nardoni etc. —, a Globo sempre esteve na linha de frente dando voz aos “especialistas” que nos explicavam como a “impunidade reina no Brasil”. Em 2016, o Datafolha, da Folha de S.Paulo, chegou a inventar uma pesquisa para dizer que a maioria do povo brasileiro, que apanha da polícia, era a favor da maioridade penal…

Isso tudo a Coalizão Negra por Direitos não vai falar. Porque não vem ao caso. Moïse Kabagambe foi morto por três pobres coitados que nem sabiam direito o que estavam fazendo — e isso é tudo. Se quisermos mudar alguma coisa, teremos que assistira à “sociedade” mudar. Ordeiramente, pacificamente, com as mãos da burguesia sobre o timão.

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