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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Vassalos do imperialismo

Quem lustra o Big Stick de Biden? Brasil x Colômbia

Brasil tenta de todas as formas retirar o título da Colômbia, de vassalo máximo do imperialismo. Bastidores da visita de A. Blinken

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Geopolítica do imperialismo

A política chamada de Big Stick foi implantada pelo Presidente Theodore Roosevelt Jr., entre 1901 e 1909, que assumiu após o famoso assassinato de Willian McKinley pelo anarquista, Leon Czolgosz, que seria executado por eletrochoque em 1901. Antes de morrer Czolgosz disse: “Eu matei o presidente porque ele era o inimigo da boa gente, dos bons trabalhadores. Não sinto remorso pelo meu crime”.

McKinlley foi eleito no vácuo da Grande Depressão, chamada de Pânico de 1893 e que perduraria até o início do século XX, apoiado por liga de anarquistas e outras forças consideradas, à época”, de “progressistas”, apesar do discurso vitorioso baseado no discurso “prosperidade e prata livre, que tem a ver com a política econômica do bimetalismo, contrariamente à defesa de Roosevelt do padrão-ouro.

McKinley, entretanto, como todo presidente estadunidense desde George Washington, seguiu o ritmo ditado pela Doutrina Monroe, uma geopolítica de cunho isolacionista e “anticolonial” do Presidente James Monroe entre 1817 e 1825. Em 2 de dezembro de 1823 Monroe fez discurso anual presidencial ao Congresso enaltecendo a “diplomacia e a defesa dos Estados Unidos”, bem como o fortalecimento das forças armadas da União.

O discurso de 2 de dezembro de 1823 é um esboço da política dos Estados Unidos, que, especialmente após a Guerra Civil (1861 – 1865). No discurso é apresentado a disposição em tomar o Alasca do Império Russo, expansão da população da União à Oeste e a vontade de potência, com elementos de geopolítica de caráter tipicamente imperial, porém, sob um discurso “pacífico” para os padrões dos Estados Unidos.

Entretanto, para fins desta coluna, nos deteremos à um país geoestrategicamente fundamental para a geopolítica do emergente imperialismo estadunidense, a Grã-Colômbia, uma República composta pelos atuais Equador, Venezuela, Colômbia e Panamá, que existiu entre 1821 a 1831. O Brasil, que é outro país de interesse para a coluna de hoje, não estava nos planos de James Monroe.

Quem dotaria a Doutrina Monroe de capacidade intervencionista seria o Almirante e geógrafo, Alfred Mahan, professor da Academia Militar (United States Military Academy), sediada em West Point, NY. Mahan, que lutou na Guerra da Secessão ao lado da União, conheceu, em 1877, aquele que sucederia a McKinley, Theodore Roosevelt.

O livro intitulado The Influence of Sea Power upon History, 1660–1783 é uma obra-prima de geopolítica e expõe todas as tarefas de dominação dos Estados Unidos em relação aos territórios em todo continente americano, a partir de uma grande armada marítima que pudesse fazer frente à “Rainha dos Mares”, a Inglaterra.

No livro é exposto tanto o crescimento da marinha dos Estados Unidos, como os países a serem tomados e como organizar a melhor forma de comércio, incluindo a construção do canal do Panamá e a construção de portos e bases no Pacífico, principalmente, a fim de não colidir com as colônias europeias no Caribe e Atlântico, muito embora não descartasse essa possibilidade.

Embora o Canal do Panamá tenha tido construção iniciada pela França em 1880, foi comprado justamente no governo Roosevelt, em 1904, que assumiu o término da obra, graças à visão geoestratégica de Mahan, associada à política do “fale macio, mas carregue um grande porrete”. Roosevelt utilizou pela primeira vez essa frase tão aclamada na Feira Estadual de Minnesota, em 2 de setembro de 1901, somente doze dias antes do assassinato do presidente William McKinley.

A dupla de “progressistas” foi responsável por uma série de intervenções e viciou os Estados Unidos em praticar a “diplomacia do dólar” e a “diplomacia das canhoneiras”. Entre os dois considerados “progressistas” foram realizadas intervenções em 1898, Porto Rico e Cuba; 1899, Nicarágua; 1902, Venezuela; 1903, República Dominicana e Colômbia; 1904, República Dominicana e Guatemala; 1906-1903, Cuba; 1907, República Dominicana; 1909. Essa política expõe o caráter da geopolítica dos Estados Unidos até os dias de hoje, que é acalentar as classes médias com demagogias como Square Deal, um programa de conservação de recursos naturais, controle mínimo sobre as corporações e relativa proteção dos consumidores.

Colômbia, o primeiro sul-americano a tomar o Big Stick

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Charge do “progressista” Rooselvelt

A Colômbia conquistou sua independência em 1819 e dois anos depois constituiu a Grã-Colômbia, juntamente à Venezuela, Equador e Panamá, uma potência geoestratégica e com capacidade de fazer frente à política de dominação imperialista. Porém, com a política de James Monroe, a Colômbia foi desestabilizada pelos Estados Unidos, separando-se da Pátria Grande idealizada por Simón Bolívar, constituindo governos altamente reacionários e antipopulares. Transitou entre o conservadorismo político e o liberalismo.

Em 1903, o Panamá sofre intervenção como parte da forma de pagamento do Canal, separando-se da Colômbia, que perdeu seu território fundamental de articulação logística entre as embarcações que cruzavam os dois oceanos mais importantes do mundo, o Pacífico e o Atlântico. Essa perda territorial também foi resultado da Guerra do Mil Dias, entre liberais e conservadores.

Sendo o primeiro país eleito para intervenção pelos Estados Unidos, a Colômbia jamais vivenciou experiência que se aproximasse sequer de um “nacional-desenvolvimentismo”, em virtude do aprofundamento da disputa interna entre duas facções políticas que guerreavam entre si para ser o sócio majoritário do país da América do Norte. Algo mais próximo de uma experiência “nacionalista e popular” foi lançada pelo Partido Liberal, para o mandato de 1950 a 1954, o ex-Prefeito de Bogotá, Jorge Eliécer Gaitán.

Gaitán foi assassinado em 1948, levando à uma reação popular violenta conhecida por El Bogotazo, uma revolta que destruiu o Centro de Bogotá e levou a morte do suposto assassino, Juan Roa Sierra, de forma bárbara e brutal. Evidentemente que Gaitán não era um revolucionário, mas sua biografia e o modo como a população se ergueu, demonstra a possibilidade de um pequeno período de conciliação e reformas.

Após esse evento a Colômbia vivenciaria uma das maiores ondas de violência e extrapolação da luta de classes, chegando nas décadas de 1950 e 1960, à formação de organizações de esquerda sob forte organização no campo e na cidade. Em 1964, a partir dessas contradições surge as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP), sendo constituído por quase 16 mil guerrilheiros no auge, quando as FARC ameaçavam, de fato, o poder das oligarquias urbanas e rurais que sempre dominaram a Colômbia.

Antes mesmo da famosa “Guerra às Drogas”, entre as décadas de 1980 e 1990, os Estados Unidos já compunham grupos Paramilitares para combater a guerrilha, autoproclamada Revolucionária, colocando a Colômbia em estado permanente de sítio e de profunda violência, levando à miséria de milhões de pessoas, que cada vez mais, contraditoriamente, eram empurradas para o narcotráfico, desde a produção até a logística de distribuição. Após a “Guerra as Drogas” a Colômbia continua sendo um país miserável e controlado por traficantes e governos cada vez mais reacionários, até chegar ao governo atual de Iván Duque, o mais ditador entre todos os governos desse país.

Iván Duque e suas relações com os Estados Unidos: a visita de Antony Blinken

Iván Duque Marquez é a expressão máxima do pensamento oligárquico, conservador e burguês de seu país. Sua trajetória política está relacionada a uma tradição oligárquica da Colômbia profunda, sempre na ala mais à direita da direita colombiana. Sua vinculação com o estabilishment, sempre pendurado em altos cargos governamentais e órgãos financeiros internacionais para a América Latina.

Além da carreira política vinculada à tradição conservadora da Colômbia, sendo ideólogo do conservadorismo e do pensamento de extrema-direita, Duque foi braço direito do Governo Álvaro Uribe, que até 2018, quando ocorreu a última eleição para Presidente, foi o serviçal de maior prestígio dos Estados Unidos por colocar a Colômbia em estágio de violência mais extrema e ditatorial que qualquer período anterior.

Após vitória de Ivan Duque em 2018, somado ao acordo de paz feito pelo seu antecessor, Juan Manuel Santos, com as FARC-EP em 2016, uma série de medidas antipopulares foram tomadas pelo governo sem que pensassem que os conflitos que já duram mais de 60 anos, pudessem chegar às cidades e recrudescer no campo, por militantes egressos das FARC.

O governo neoliberal de Duque realiza uma série de reformas, utilizando um grande aparato repressivo, com forte financiamento dos Estados Unidos. Entre essas reformas estão o financiamento de gastos públicos com elevação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que incidiu em aumento de preços em todas as cadeias produtivas, que foi o estopim para as jornadas de manifestações entre 2019 e 2021, encerrando brevemente o ciclo a partir de novos acordos com o Congresso, inclusive a pequena representação de esquerda.

Após as jornadas de protestos, Duque chamou seu dono para uma conversa supostamente sobre uma “pauta ambiental”, que é a “Defesa da Amazônia”. No último dia 20, Antony Blinken, Secretário de Estado dos Estados Unidos, esteve em Bogotá para negociar um novo Pacto.

De acordo com a francesa e imperialista RFI:

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, garantiu nesta quinta-feira (21) que o governo dos Estados Unidos lançará um pacto regional para reduzir o desmatamento em toda a Amazônia, em um esforço para mitigar uma das causas do aquecimento global. A declaração foi feita durante uma visita do secretário de Estado à Colômbia. O representante de Washington chegou a ser questionado sobre a política ambiental do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, mas se recusou a responder. “Podemos dar grandes passos para lidar com a crise climática”, disse Blinken após um passeio pelo jardim botânico de Bogotá. Durante a visita, ele conheceu alguns projetos apoiados pelo governo dos Estados Unidos para promover o turismo, o cultivo do cacau e outras alternativas econômicas à extração de madeira

Não menos imperialista, a France 24 explica que “Blinken saúda parceria EUA-Colômbia, mas busca mudança do foco militar”. De acordo com a France 24, Blinken, elogiou “o líder de direita da Colômbia como um parceiro-chave em preocupações fundamentais, incluindo a migração, enquanto ele buscava se afastar do foco militar das alianças dos EUA na América Latina”.

O periódico destaca, ainda, que Blinken falou a Duque que é preciso “acabar com a impunidade como sabemos também é uma das melhores maneiras de prevenir abusos de direitos daqui para frente”, sobre as mortes de pessoas que protestavam contra o governo Duque, mas Blinken chamou Duque de “um amigo muito valioso dos Estados Unidos”.

Por trás do suposto Pacto para defender a Amazônia, a questão migratória foi abordada como arma contra a Venezuela. De acordo com a reportagem da France 24, “a Colômbia já abriga 1,3 milhão de migrantes da vizinha Venezuela, cuja economia está em queda livre sob o forte esquerdista Nicolas Maduro – um inimigo amargo de Duque, que na quarta-feira denunciou novamente a “ditadura ignominiosa, corrupta e traficante”.

No mesmo dia, o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro apoiava a iniciativa de uma comissão bilateral com a Colômbia para avançar na normalização das relações diplomáticas e comerciais. “Parece-me um passo tremendo que o Congresso da Colômbia e a Assembleia Nacional da Venezuela tenham concordado com uma comissão bilateral”. Essa movimentação de Maduro no tabuleiro é um alerta de defesa, preparando-se contra uma possível intervenção dos Estados Unidos, que alimentaria a Colômbia com militares e paramilitares na fronteira.

DUQUE: GAROTO DE RECADO DE BOLSONARO OU GRANDE LÍDER LATINO-AMERICANO PARA ASSUNTOS ESTADUNIDENSES?

No dia 19 de outubro, um dia antes da visita de Blinken à Colômbia, o Secretário de Estado estava em visita à Lasso no Equador, enquanto Bolsonaro recebia Iván Duque em Brasília. O que foi tratado com Lasso seguiu a mesma pauta migratória apresentada na Colômbia, o que sinaliza para uma política de intensificação da pressão sobre os governos sul-americanos, especialmente após vazamentos do Pandora Papers, uma organização que faz parte do consórcio da Open Society. Lasso encontra-se em situação difícil e recrudesceu a repressão no Equador.

Enquanto Blinken não pode se encontrar com Bolsonaro para manter o Plano Biden de não se “sujar com Bolsonaro”. Contudo, a visita de Iván Duque o coloca como um garoto de recados dos planos entre Estados Unidos e Brasil, que inclui, muito provavelmente, a mesma pauta migratória e militar, já que as forças armadas estadunidenses têm feito visitas constantes ao Brasil.

O governo brasileiro, aparentemente utilizou-se de mais uma mentira sobre a visita de Duque, pois o site oficial expõe um acordo já realizado em 2017, O Acordo de Complementação Econômica nº 72 (ACE 72), enquanto veículos da mídia tradicional, como por exemplo, Estado de Minas, chega a falar em um suposto “pacto pela Amazônia”, o que amplia as especulações em torno de um projeto militar amplo para a região combater opositores e a Venezuela.

Enfim, quem é o maior vassalo da América do Sul

Difícil de concluir quem é o maior vassalo.

Biden e seu Capacho

Depreende-se que o Brasil quer servir de base estadunidense, e cumprir um papel de executor dos planos dos Estados Unidos, porém, a Colômbia possui uma história de amor aos Estados Unidos, uma esquerda “espontaneísta” e um direitista que serve de office boy de Joe Biden e de Bolsonaro ao mesmo tempo. Por essas razões, a Colômbia continua com o título de vassalo mor da América do Sul mais distante de se livrar da tirania da extrema-direita, porém, o Brasil dá passos largos para tornar-se a bola da vez do Big Stick de Joe Biden, porém, lustra o taco às escondidas, como os michês que frequentam o Planalto.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste diário.

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