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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Golpe da Federação Partidária

Que virá após as Federações Partidárias, Ucrânia ou Vietnã?

Com a desculpa da governabilidade, sem mesmo confirmar a candidatura Lula, o burocracia se lança contra a militância de base

Pravy Sektor em ação nas ruas da Ucrânia

O que são Federações Partidárias?

Com a “Lei das Federações” de setembro de 2021 (LEI Nº 14.208, DE 28 DE SETEMBRO DE 2021 Altera a Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995 – Lei dos Partidos Políticos, e a Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997 – Lei das Eleições, para instituir as federações de partidos políticos”. Segundo a lei, publicada no Diário Oficial da União, os partidos que são parte de uma federação e poderiam manter sua identidade e sua autonomia. Entretanto, em fase de elaboração de Minuta aparecem aqui na sua face formal nesta minuta de resolução e demonstra que a “identidade” se dilui.

As questões centrais que promoveram o dispositivo são o acesso ao fundo eleitoral, tempo de televisão e a cláusula de barreira. Tudo isso seria em benefício ou auxílio a partidos que seriam extintos do jogo parlamentar. Contudo, a tradução deste dispositivo é o aprofundamento da Ditadura do Golpe de Estado sob a fachada democrática, característica central da atual Ditadura brasileira moderna. Essa ação foi comemorada pela burocracia do PT, que muitas vezes aparece como o mais entusiasmado com uma Federação de partidos golpistas e de direita, como é o caso do PSB, PV, Psol e Rede.

A burocracia do PT, utilizou o espaço do site oficial, em detrimento das correntes minoritárias do Partido e expôs: “Federação partidária, uma oportunidade histórica”. Segue: Esta é uma mudança positiva que ajuda o regime democrático, pois fortalece a unidade partidária com identidade e coerência programáticas, afirmam Raul Pont e Miguel Rossetto em artigo”.

Não menos empolgado está o Professor da Unicamp, Wagner Romão, que escreveu um artigo enaltecendo a diminuição do número de partidos, sem considerar a diluição do próprio PT. No título do artigo, Wagner Romão nem titubeou: “O PT e a federação que precisamos construir”.

Inicia o Professor, membro do Diretório Nacional do PT, no site da Perseu Abramo:

“O debate sobre a possibilidade das federações partidárias para as eleições de 2022 esquentou nos últimos dias. O PSB fez consulta a deputados de sua bancada federal e também às presidências dos diretórios estaduais sobre a possibilidade de federar (sic) com PT, PCdoB, Psol e PV, com ampla maioria a favor. A Executiva Nacional do Psol decidiu abrir diálogos com PCdoB e Rede. A posição do PDT – não se sabe até quando – é por não federar (sic). Já no campo à direita, Cidadania e PSDB devem constituir federação. PSL e DEM já criaram a União Brasil. O PT decidiu em reunião de seu Diretório Nacional que irá (sic) iniciar conversas com PSB, PCdoB, Psol e PV. A questão que se coloca para a esquerda e para o PT não é se vamos federar (sic), mas com quem e como federar. Essa tarefa é fundamental e estratégica para nosso objetivo de eleger Lula e estancar a reação conservadora, autoritária e neoliberal do bolsonarismo”.

O “fascismo”, que não se impôs ao Brasil como regime de força, tem sido a moeda de troca para o estabelecimento de uma Plutocracia, sob aplausos e impulsionamento da esquerda e do PT. Portanto, o “golpe de mão” que o povo tomará será da própria Burocracia do PT, mancomunada com a direita, que será o algoz do modelo Plutocrata estadunidense, e muito semelhante ao que vigorou durante a Ditadura Militar, porém, com acenos à Washington e o identitarismo como modelo de dominação “suave”.

Voltando à Romão, Professor de Ciência Política:

“Como se dará a convivência entre o PT e os partidos da nossa federação é uma tarefa a ser construída com rapidez e com muita imaginação política, pois o tempo é curto e a derrota de Bolsonaro é para ontem. O debate programático é crucial e é preciso que ele seja fortemente antineoliberal, que reforce a democracia participativa e o papel do Estado na garantia de direitos fundamentais, que construa o ecossocialismo e a transição ecológica, que retome nosso projeto de soberania nacional e união dos povos latino-americanos e que garanta direitos de igualdade a mulheres, negros e negras, indígenas, à comunidade LGBTQIA+.” (grifos nossos).

Esse discurso é preparado pelas ONGs e Think Tanks do imperialismo e atuou em todas as eleições na América Latina nos últimos cinco anos. Sem dúvida nenhuma, trata-se de uma forma de institucionalizar uma contrarrevolução preventiva. Os casos mais claros de capitulação foram na Argentina, com a eleição de Alberto Fernandez, que utilizou-se do discurso identitário, escondendo Cristina Kirchner na vice-presidência. Também ocorreu o caso de Yaku Perez, no Equador, que serviu para evitar a vitória do correismo, muito embora Arauz só tinha o compromisso com os direitos políticos de Corrêa, mas era candidato dos bancos, ao mesmo tempo, assim como o vencedor Guillermo Lasso. Por fim, o caso de Boric, amplamente difundido por este Diário, é o mais significativo, onde ocorreu um golpe contra o candidato de esquerda, Daniel Jadue. O caso do Chile é o principal alerta de mais um Golpe por dentro das instituições parlamentares e do judiciário, tudo em nome da “democracia” contra o “fascismo”, conforme descrito no link acima.

O que a burocracia do PT não vê, ou finge não ver: Haddad, a esfinge

Haddad é sem dúvida o homem do PT para frente-amplismo (isso é diferente de aliança e coalizão). Recentemente, Haddad era o “colunista de esquerda” da Folha de S. Paulo, antes de Guilherme Boulos. Haddad teria sofrido “ataques” da Folha, jornal apoiador do Golpe de 2016 e do Regime Militar. Haddad, supostamente foi traído por um jornal que ataca o povo diariamente. 

Para muitos, Haddad é um Tucano dentro do PT (o que eu concordo), para outros, um ingênuo “soldado do partido” e, para quem não percebe seus movimentos, um “bom ex-ministro” e um “prefeito sabotado” pelos 20 centavos. Entretanto, Valter Pomar, liderança da Articulação de Esquerda do PT, Haddad tem lado claro, e tão cristalino quanto seu ex-empregador, o Paulo Guedes, sócio do Insper. Vamos utilizar Pomar, também crítico ao nosso Partido, mas para demonstrar as tensões e contradições internas do PT.

Valter Pomar destrincha Haddad em um artigo intitulado “Glosando Haddad sobre o PT e o Lula”. Trata-se de um artigo interessante, pois Haddad passa de esfinge enigmática, a uma infiltração do PT (em minha avaliação a partir da leitura do artigo de Valter Pomar).

Pomar “glosa” Haddad a partir do último artigo na Folha:

“Eu queria poder ler todos os artigos publicados pelo Fernando Haddad na Folha de S.Paulo. Infelizmente, nem sempre dá tempo. Mas o artigo publicado dia 4 de dezembro está, como se diz por aí, “imperdível”. A começar pelo título, que não sei se é da lavra de Haddad ou do editor da coluna: “O PT: são não só indissociáveis, mas eventos únicos”. Deixemos o título para o final e, antes, glosemos o miolo”.

No último artigo para a Folha, Haddad afirma que o PT reuniu “pessoas advindas do novo sindicalismo, das comunidades eclesiais de base e da universidade”. Pomar reivindica na lista “a turma que veio da luta armada e das organizações de esquerda que existiam antes do PT”.

Segundo Haddad, “no timão do processo, um líder carismático de trajetória e inteligência incomuns que encantou a intelectualidade progressista”. Para Valter Pomar “talvez fosse melhor falar de uma ‘parte’ da intelectualidade progressista, afinal grande parte escolheu ficar no PMDB e depois foi para o PSDB, como é o caso do Fernando Henrique; sem falar dos que preferiram ficar no PSB, no PDT e nos partidos comunistas. Para Haddad, o PT seria uma “nova esquerda, antiautoritária e não-dogmática”. Ou seja, o PT teria surgido se diferenciando da “velha esquerda” marxista-leninista.

O que os burocratas do PT não estão calculando?

O cálculo do PT é eleitoral. Para o PT, se Lula for candidato pela Federação Partidária escolhida, não sofrerá um Golpe e poderá governar o Brasil, rumo à “reconstrução” do país, no combate “às forças conservadoras” e ao “fascismo”, conforme entrevista do Dep. Fed. Paulo Pimenta do PT ao Canal 247, e amplamente analisado por Rui Costa Pimenta. Contudo, o PT já atua há três décadas com uma alta burocracia altamente “pragmática” e sedenta por manutenção de suas carreiras políticas. As últimas eleições que decidiu o candidato à Prefeitura de São Paulo, foram bastante contestadas pela Articulação de Esquerda e denuciadas como antidemocráticas.

Recentemente, Gleisi Hoffmann desautorizou a publicação de Saudações a Daniel Ortega, Presidente da Nicarágua, pelo Secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira. Uma posição questionável, para quem publicou saudação à vitória do neoliberal Gabriel Boric, no Chile, na velocidade da luz, e não saudou a vitória maiúscúla e nacionalista de Xiomara Castro, em Honduras. Além disso, existem publicações pró-Federação Partidária no site, antes mesmo do Congresso Nacional do PT ocorrido no dia 16 de dezembro de 2021, expondo a mentira e a forma antidemocrática com que o PT tem atuado recentemente. Sem dúvida, trata-se de um grande acordo nacional, com supremo, com PT, com tudo. 

Em um cenário composto por um Partido anti-nacionalista e vinculado aos interesses da burguesia, acovardado em governar com o povo, vai governar para a burguesia e com Organizações Não-Governamentais, como tem ocorrido frequentemente em atos de filiação, como recentemente à Douglas Belchior, fundador da UNEafro e liderança da ONG “Coalizão Negra por Direitos”, ligada à rede Open Democracy e que servem ao controle do regime político por intermédio de pequenas conquistas ou filantropia.

O cálculo da esquerda pequeno-burguesa e da Burocracia do PT é controlar o regime, juntamente com a burguesia, em uma “conciliação” de classes mais nefastas na própria Ditadura Militar, quando o PCB cedeu a própria dignidade em nome da manutenção dos privilégios e permitiu a formação da ARENA e o MDB.

A considerar o fato de não haver democracia nos partidos parlamentares, pelo aprofundamento da fome, pela desilusão com a política, que o cenário dos próximos anos poderá revelar, poderemos ter grandes conflitos, revoltas, insurgências, saques à supermercados em face da fome e armamento de grupos à esquerda. Talvez considerando essa possibilidade, as polícias e forças armadas serão reforçadas desde o imperialismo, a fim de não permitir insurgência ou revolta popular, desmoralizando a esquerda pequeno-burguesa que estará no poder como fantoche da burguesia imperialista.

Esse cenário colocaria um grande número de descontentes em partidos e organizações revolucionárias, criando um “Vietnã”. Somando ao descontentamento e diluição completa do PT, movimentos nacionalistas, organizações políticas preocupadas com a situação de submissão do país aos interesses estrangeiros, além de aprofundamento da crise do imperialismo, o Brasil poderá se tornar um território ingovernável, ou sob um domínio mais agressivo da extrema-direita em um golpe de Estado como na Ucrânia, ou com a luta revolucionária urbana e rural, dispondo da vasta gama de armamentos despejadas durante o governo Bolsonaro.

Não temos tempo a perder e precisamos rejeitar a Federação Partidária e atuar firmemente contra a burocracia parlamentar, que atua ombro a ombro com a direita para a manutenção do Golpe de 2016. O ano que vem, será um ano de guerra no Brasil e não podemos admitir a permanência do Golpe. É preciso denunciar a manobra parlamentar contra Lula e o povo brasileiro.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

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