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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Imperialismo e revolução

Por que os marxistas devem apoiar a guerra da Rússia na Ucrânia

Pacifismo e neutralidade, na luta de um país oprimido contra o imperialismo, não servem aos interesses dos trabalhadores

No dia 6 de março, o Partido Comunista Português (PCP) comemorou os 101 anos de sua fundação em um grande comício em Lisboa. O evento teve como palavra de ordem mais difundida a seguinte reivindicação, a respeito da operação militar da Rússia na Ucrânia: “Paz sim, guerra não!”.

Na mesma semana, o partido participou de uma manifestação que exigiu “parar a guerra, dar uma oportunidade à paz”. Pedro Guerreiro, membro do Secretariado do Comitê Central do PCP, afirmou que “não é uma guerra que sirva os interesses do povo ucraniano, não serve os interesses do povo russo, não serve os interesses dos povos da Europa”.

Essa posição pacifista do PCP, ao contrário do que poderia pretender, não é progressista, democrática e muito menos revolucionária. É uma posição contrarrevolucionária e pró-imperialista ─ semelhante à posição adotada por uma parcela da esquerda brasileira, como o PT ou o PCdoB, que não se colocaram diretamente contra a Rússia como fizeram PSOL, PCB, PSTU e UP mas que, no final das contas, serve à política de agressão do imperialismo.

Isso porque o agente ativo desta “guerra” é a Rússia. E, como sabem os próprios dirigentes do PCP, trata-se não de um conflito entre russos e ucranianos, mas sim entre russos e a OTAN (NATO). A “guerra” desencadeada pela Rússia, portanto, é uma guerra contra o imperialismo. Sendo a Rússia um país fora do clube de países imperialistas (ou seja, de capitalismo plenamente desenvolvido), ela é um país de capitalismo atrasado ─ logo, um país oprimido pelo imperialismo.

A “guerra” que o PCP diz repudiar, assim, é uma “guerra” de um país oprimido pelo imperialismo contra esse imperialismo ─ que oprime não apenas a Rússia, mas os demais países do leste europeu e de todo o mundo. Um comunista não pode adotar uma posição neutra em uma situação dessas. Ele deve apoiar incondicionalmente o país oprimido contra o imperialismo. A neutralidade, o pacifismo, serve ─ ao contrário do que pensam os membros do PCP ─ não à luta contra a OTAN e o imperialismo, mas sim ao imperialismo e contra a Rússia.

Em última análise, a Rússia está empreendendo uma guerra de libertação nacional (dos russos, dos ucranianos e dos demais povos do leste europeu) contra o imperialismo, representado pela OTAN. Como, então, ela não serve aos interesses dos povos russo, ucraniano e de toda a Europa? Na verdade, ela serve aos interesses dos povos do mundo inteiro!

O marxismo não é uma doutrina baseada no Evangelho, mas sim na luta de classes. E não é por que a ação russa seja promovida pela burguesia daquele país que ela deva ser condenada. Pelo contrário: a opressão imperialista sobre a Rússia, que é uma opressão tanto ao proletariado russo como à própria burguesia russa, obrigou Putin a defender os interesses do povo russo de conjunto para frear essa opressão. Como disse Leon Trótski: a burguesia dos países atrasados é, ao mesmo tempo, uma classe semi-opressora e semi-oprimida, semi-exploradora e semi-explorada, pois ao mesmo tempo que oprime e explora o proletariado de seu país, ela é oprimida e explorada pela burguesia imperialista. A luta atual na Ucrânia é contra a opressão e a exploração por parte do imperialismo, o que unifica os interesses tanto da burguesia como do proletariado russos. Nesse sentido, por representar uma luta dos povos do mundo todo contra o imperialismo, podemos considerar que é uma luta do conjunto das burguesias nacionais dos países atrasados e do proletariado internacional (seja o dos países atrasados, seja o dos países imperialistas).

Também não é válida a afirmação de que “são os trabalhadores as principais vítimas da guerra, é a eles que interessa em primeiro lugar a defesa da paz”, feita no Avante! por Ângelo Alves, membro da Comissão Política do PCP. Fosse assim, os trabalhadores também não deveriam ter se levantado contra o imperialismo nas guerras de libertação nacional da Argélia, da Síria ou do Afeganistão ─ todas elas dirigidas não pela classe operária, mas sim pela burguesia nacional desses países, mas apoiadas pelos trabalhadores como força decisiva para a sua vitória. Deveriam substituir a luta armada por um “processo de diálogo com vista a uma solução política para o conflito”, como diz uma nota do PCP sobre a Ucrânia. Essa “solução política” seria mais benéfica ao imperialismo e à burguesia russa do que aos trabalhadores de toda a Europa e do mundo. A guerra de libertação nacional, por sua vez, é a verdadeira “solução política” para os trabalhadores, pois ─ como já estamos vendo com a enorme crise nas estruturas do regime imperialista geradas pela ação da Rússia ─ desestabiliza fortemente e enfraquece o sistema de dominação imperialista no mundo todo.

Se os países da África e da Ásia houvessem substituído a luta armada entre os anos 40 e 60 por um “processo de diálogo” com as potências coloniais, o regime imperialista teria se preservado exatamente como estava, e não se enfraquecido ─ como acabou ocorrendo, levando à independência de dezenas de nações. Aquele foi um processo revolucionário que, se tivesse ocorrido como o PCP quer que ocorra na Ucrânia, teria sido abortado e o imperialismo, ao invés de se enfraquecer, teria saído fortalecido, mantendo o controle total sobre as colônias de então.

É nítido que a ação russa na Ucrânia abalou o regime imperialista mundial, tal como já o havia feito a vitória do Talibã no Afeganistão. Logo, é um acontecimento altamente progressista e, portanto, favorece a classe operária internacional, pois é um golpe contra seu principal inimigo: o imperialismo. E, além de enfraquecer o imperialismo, aprofundando a crise do sistema, a ação da Rússia incentiva outros países oprimidos a levantarem-se contra o imperialismo e seguir seu exemplo. China, Irã, Síria, Venezuela, Nicarágua e muitos outros sentem-se motivados a quebrar as correntes da opressão imperialista com o exemplo russo. Não só a burguesia nacional desses países, mas, principalmente seu proletariado. Isso foi visto após a vitória do Talibã no Afeganistão, quando os povos árabes comemoraram a libertação do país ─ e não devemos duvidar que a própria ação da Rússia contra a OTAN na Ucrânia foi motivada, de forma decisiva, pelos acontecimentos no Afeganistão.

Por último, os revolucionários do mundo todo devem entender que o principal beneficiado dessa situação toda é a classe operária. A decadência do imperialismo não é apenas a decadência da burguesia imperialista, mas também da própria burguesia nacional dos países atrasados, uma vez que, embora esta seja oprimida e explorada pela burguesia imperialista, ela também depende dessa mesma burguesia imperialista para sobreviver. Ao mesmo tempo em que oprime a burguesia dos países atrasados, a burguesia imperialista a sustenta para conter e oprimir a classe operária desses países. A burguesia dos países oprimidos, portanto, é uma classe social débil. Logo, apesar de em muitos casos dirigir a luta pela libertação nacional, ela não tem condições de levar até às últimas consequências essa mesma luta. Esta só pode ser concluída pela própria classe operária. E se, por um lado, a crise do imperialismo enfraquece a burguesia de conjunto, por outro ela tende a colocar em movimento a classe operária. Num cenário como esses, esse movimento será um movimento de características revolucionárias.

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