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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Polarização se acirra

Peru: radicalização popular leva burguesia a apostar no fascismo

Segundo turno no país sul-americano opõe a esquerda apoiada pelo povo à extrema-direita apoiada pelo imperialismo

Quando Mario Vargas Llosa anunciou seu apoio a Keiko Fujimori, a opinião pública peruana e internacional ficou estarrecida. O renomado escritor sempre foi um feroz opositor do fujimorismo, apesar de ser um direitista. Chegou a ser candidato à presidência da República, terminando em segundo lugar nas eleições em que Alberto Fujimori iniciou sua ditadura, em 1990.

O Nobel de Literatura declarou voto na candidata de extrema-direita considerando-a o “mal menor”. Nas eleições anteriores em que Keiko se candidatou, Llosa sempre a havia repudiado. Desta vez, mudou de posição. “Combati o fujimorismo de maneira sistemática, como o fiz com ditaduras de esquerda e de direita, mas acredito que, nas eleições, no segundo turno, os peruanos devem votar em Keiko Fujimori, pois representa o mal menor”, disse.

Vargas Llosa não é apenas um escritor famoso. Sua importância excede o âmbito literário. Ele é um dos principais articuladores do imperialismo na América Latina. Um político, como comprovara já 31 anos atrás com sua candidatura à presidência do Peru. Ele é presidente da Fundação Internacional para a Liberdade, um think tank ligado diretamente a organizações dos grandes capitalistas norte-americanos, como a Atlas Network. A Fundação organizou em maio um evento que contou, além da presença do escritor-político, com a nata da extrema-direita continental, como Iván Duque, Guillermo Lasso, Leopoldo López, María Corina Machado e… a própria Keiko Fujimori.

A virada de posição de Vargas Llosa não é meramente uma mudança política individual. Sendo um títere da burguesia imperialista, o autor de obras como A Casa Verde, Batismo de Fogo e Lituma nos Andes representa a opinião de seus titereiros. Isso indica uma mudança de posição da burguesia peruana e do imperialismo para o Peru e também para a América Latina.

“Com ela no poder, há mais possibilidade de salvar nossa democracia, enquanto com Pedro Castillo não há nenhuma”, explicou o escritor. Por que a burguesia e o imperialismo estariam considerando que uma fascista como Keiko, a quem eles mesmos sempre repudiaram, salvaria a democracia peruana? Se trocarmos a palavra abstrata democracia pela palavra concreta lucros ou regime político, entenderemos melhor.

Mas isso não significa que o medo da burguesia seja necessariamente o candidato Pedro Castillo. Este é um político moderado, muito longe de ser comunista, ao contrário do que diz Vargas Llosa e a propaganda da imprensa – que promove uma campanha sistemática contra Castillo, em clara defesa de Keiko.

Pedro Castillo é um camponês e professor. Sua origem, portanto, é pequeno-burguesa. Iniciou sua carreira política ingressando no Perú Posible, um partido de direita, ficando no agrupamento de 2002 até a sua extinção, em 2017. No mesmo ano se destacou como uma das lideranças de base da greve dos professores. Na ocasião, diante de acusações de ligação com o Sendero Luminoso, ele esclareceu sua posição: durante sua juventude, foi membro das rondas camponesas em Chota, que combatiam o grupo guerrilheiro maoísta.

Nessas eleições de 2021, as acusações de ligação com o Sendero Luminoso voltaram, a fim de desgastar a candidatura de Castillo, uma vez que a guerrilha (praticamente aniquilada pela ditadura de Alberto Fujimori) é tratada como um grupo terrorista pelo Estado peruano. Um ataque recente, em 23 de maio, teria deixado mais de dez pessoas mortas, e o Comando Conjunto das Forças Armadas peruanas acusou o Sendero Luminoso de ter assassinado 14 pessoas. Logo em seguida, o Perú Libre, partido de Castillo, condenou o ataque e qualquer tipo de terrorismo.

O caso lembra muito o ocorrido nas eleições de 1989, quando do sequestro do empresário Abilio Diniz e a tentativa de vincular a candidatura Lula com os sequestradores, inserindo materiais de campanha do PT junto com os produtos apreendidos. Verificou-se depois que foi uma armação da direita.

Castillo e seu partido buscam se afastar dos laços imaginários que a direita diz que eles têm com o Sendero Luminoso. Isso mostra também a tentativa de conciliação de Castillo com setores da burguesia. O Perú Libre é considerado um partido até mesmo marxista, mas sua política e seus próprios membros tratam de desmentir isso. Trata-se de um partido novo, reformista e institucional, um partido eleitoral.

Há comparações que se pode fazer com Lula e o PT no Brasil. Mas não são válidas as que dizem que Castillo é um líder popular, um representante dos trabalhadores. Castillo tem, inclusive, posições pessoais conservadoras, como a discordância do direito das mulheres a realizar um aborto. A comparação válida que pode ser feita é com o movimento ao qual Castillo acompanha. Um movimento popular.

O que Castillo está fazendo é surfar na onda das mobilizações populares que têm ocorrido no Peru desde o ano passado, quando os peruanos não aguentaram mais anos de neoliberalismo e intromissão imperialista e saíram às ruas após a derrubada fraudulenta do presidente (direitista) Martín Vizcarra. Então, grandes manifestações populares ocorreram, chegando ao ponto de exigirem uma nova Assembleia Constituinte.

Existe, portanto, uma radicalização popular no Peru, empurrada pela situação latino-americana. Não há como desligar as manifestações no Peru das que têm ocorrido no continente nos últimos dois anos, como no Equador, Honduras, Haiti, Guatemala, Chile, Bolívia, Paraguai e Colômbia. Esse sintoma também está começando a ser visto no Brasil.

A mobilização das massas peruanas, espontânea, levou a população para a esquerda. A própria esquerda pequeno-burguesa, como o Peru Libre e Pedro Castillo, estão sendo empurrados mais para a esquerda. O programa nacionalista de sua candidatura é resultado dessa pressão popular.

Pedro Castillo pode não ser um homem enraizado no movimento popular e pode não ter uma política radical (ao contrário do que propaga a campanha terrorista da imprensa burguesa). Mas as massas aproveitam-se de sua candidatura para manifestar seu repúdio ao regime político putrefato da burguesia imperialista e dos latifundiários peruanos. Transformaram a candidatura de Castillo, que, em outro cenário, seria apenas mais uma candidatura qualquer da esquerda pequeno-burguesa, em uma candidatura popular.

Quando Vargas Llosa e a burguesia decidem apoiar Keiko Fujimori contra o “comunismo”, é desse movimento de massas que eles têm medo. Essa é a ameaça à democracia à qual eles se referem.

E a única alternativa que sobrou para a burguesia peruana e o imperialismo é Keiko Fujimori. É a extrema-direita. Assim, a burguesia foi obrigada a deixar de lado todos os poréns com relação ao fujimorismo porque a ameaça que se apresenta do outro lado é muito maior para os seus interesses gerais.

O segundo turno das eleições no Peru (em que Castillo é o favorito segundo as pesquisas) é um prelúdio para o que deverá ocorrer no Brasil em 2022. É também uma amostra do que deverá ser a tendência em toda a América Latina daqui para a frente. A burguesia “democrática” que tanto ataca a extrema-direita da boca para fora não encontra outra saída senão se abraçar com essa mesma extrema-direita para se salvar do povo. Ou, em suas palavras, para salvar a democracia.

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