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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Quadrinhos brasileiros

Onda de Crime, de Vitor Valença

Na HQ “Onda de Crime”, de Vitor Valença, há uma droga nova na cidade: o mofo azul, considerado sagrado por seus usuários; o fanatismo religioso, porém, não diz respeito ao mofo...

Em uma visita pelo site da Escória Comix – http://escoriacomix.iluria.com/ –, encontrei a HQ “Onda de Crime”, do Vitor Valença; longe do besteirol direitista, típico dos palhaços da burguesia, a HQ do Vitor Valença é um protesto sarcástico contra o fanatismo religioso.

              Na história, há uma droga nova na cidade: o mofo azul, considerado sagrado por seus usuários. O fanatismo religioso, porém, não diz respeito ao mofo, que chega a ser libertador; os fanáticos são a Aliança Crente, que tenta catequisar a cidade com suas doutrinas reacionárias. A Aliança é formada pelo pastor fascista Carlos Castidade, que no passado fora Carla Castiga, uma travesti bêbada e devassa, mais o Sminguilido, uma versão do Smilinguido, a formiguinha trabalhadora. Entre seus afazeres, o Sminguilido pinta placas de bares e oficinas, introduzindo mudanças nos dizeres para propagar sua ideologia, por exemplo, trocar o nome do Nazário Bar para Nazareno Bar; um bar do submundo, em que se encontram foras da lei, mas onde, sugestionado pelo falso nome Nazareno Bar, Carlos vai pedir sopa e pregar, indevidamente, seu fanatismo.

              Ironicamente, na medida que o mofo azul é uma religião, denuncia-se com evidência a intolerância religiosa por parte da Aliança, a qual chega a tomar atitudes criminosas, sugerindo, inclusive, o uso de envenenamento em massa. Os adeptos do mofo não lutam pelo fim da luta de classes, tampouco eles são bandidos sociais, isto é, pessoas levadas ao crime devido às mazelas da sociedade. Eles são drogados, contudo, longe da apatia, na HQ eles atacam as autoridades policiais e morais; se o pessoal do mofo azul não afirma revoluções políticas, eles negam a ordem burguesa, representada pela polícia, e o moralismo religioso, representado por Carlos e a formiga. Nesse anarquismo quase místico, revela-se veementemente quanto o Sminguilido não passa de um trapaceiro e o senhor Castidade, um genocida.

              Por fim, vale a pena comentar a metáfora da formiga, fruto de interpretações equivocadas da fábula de La Fontaine por parte de Carlos e daqueles agindo e pensando como ele. A versão mais conhecida da fábula da Cigarra e da Formiga é em forma de verso, ela faz parte no primeiro livro de Fábulas, de La Fontaine (1621-1695), sendo justamente o primeiro poema do livro. Em seu trabalho “O Contexto da Obra Literária”, o analista do discurso Dominique Maingueneau, em comentários bem fundamentados, chama a atenção para o fato de a cigarra e o poeta, autor da fábula, serem, cada um a seu modo, cantores que, para sobreviverem, dependeriam seja das formigas, semelhantemente à cigarra, seja das benesses da nobreza do século XVII, tal qual La Fontaine. Desse ponto de vista, a identificação do autor seria com a cigarra e não, com as formigas; a moral da fábula não seria “trabalhe sem se divertir e despreze os artistas vagabundos”, mas “quem é artista e conhece a liberdade de expressão deve ter cuidado com os idiotas detentores do poder”.  Por isso mesmo, essa versão moralista da fábula é mais uma placa que os Sminguilidos querem adulterar, para enganar a todos.

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