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Cultura

O verdadeiro problema do iPhone

Desmistificando um debate que começou errado.

iphone plans

Um comunista pode ter iPhone? Claro que pode, essa discussão não tem o menor sentido e surgiu como uma provocação da direita explorando o desejo inconsciente que os símbolos de status despertam nas pessoas, inclusive em nós comunistas.

O iPhone é um produto industrial como qualquer outro, assim não há que se questionar o seu consumo e, como produto, pode ser consumido por liberais, anarquistas, comunistas ou qualquer um que tenha os meios para adquiri-lo.

A questão que deveria ser discutida, contudo, e que realmente tem relevância para um debate sério e produtivo, seria: um comunista ou qualquer pessoa deveria ter um iPhone? Antes de responder a essa pergunta é necessário fazer outros questionamentos e discutir aspectos que nos possibilitem enxergar o real significado desse debate.

Comecemos por definir o que é um iPhone e porque ele exerce esse fascínio nas pessoas. O iPhone é o smartphone da Apple, uma empresa pioneira em computação pessoal, construída em torno da personalidade de Steve Jobs, personificação do estereótipo do gênio, empreendedor, visionário da tecnologia. Jobs lançava seus produtos trajando calça jeans e camiseta preta, buscando assim, passar uma imagem de simplicidade, jovialidade, modernidade e de alguém conectado com futuro. Suas palestras desenhavam um futuro de inovações maravilhosas e construíram pouco a pouco o perfil do entusiasta de tecnologia, alguém ávido por novidades tecnológicas e perfeitamente adaptado ao novo mundo que surgia no alvorecer do século XXI. O iPhone é o símbolo máximo dessa nova era.

Do ponto de vista tecnológico, o iPhone é um equipamento de ponta, sempre com as configurações mais altas e com um software feito sob medida para seu hardware. Além disso, sua estética limpa e minimalista transmite uma ideia de modernidade, perfeito para desbravar o novo mundo das inovações tecnológicas.

Nesse contexto, com uma grande ajuda de um poderoso aparato publicitário, constrói-se um símbolo do capitalismo, uma faceta da cultura pop do século XXI, o fã de iPhone. Alguém disposto a permanecer dias acampado na frente de uma loja, para está entre os primeiros a adquirir uma nova versão do sonho de consumo de toda uma geração. O iPhone tornou-se o Rolex do século XXI, um símbolo, assim como o foram outrora a famosa caneta Montblanc ou um anel de doutor no dedo e, como tal, cumpre o papel de conferir distinção social àquele que o possui.

O rápido desenvolvimento do segmento de smartphones, contudo, trouxe dificuldades para a Apple em manter sua posição de líder, era de se esperar que em algum momento o iPhone fosse igualado ou mesmo superado por seus concorrentes, pelo menos no quesito eficiência. Hoje, apesar dos esforços da Apple em manter o iPhone entre os melhores smartphones do mercado, há uma grande variedade de produtos equivalentes que se aproximam e até mesmo superam o iPhone em algumas funcionalidades, se consideramos o quesito preço, o iPhone é disparado o mais desvantajoso na relação custo/benefício, isso ocorre justamente porque ele entrega, além dos benefícios de um bom equipamento, a distinção e o prestígio que a marca representa, mais que uma marca, uma grife, como diriam no mundo da moda, são valores subjetivos agregados ao produto.

Um outroa tema que deve ser abordada é a questão do software. O segmento dos smartphones hoje é divido entre iOS da Apple e Android, este último foi desenvolvido por outra gigante da tecnologia, a Google, tendo como base o kernel* linux, o principal e mais importante software livre** já criado. Apesar de o Android não ser ele próprio software livre, está um passo mais próximo nessa direção que seu rival, este sim uma caixa-preta inacessível cujo funcionamento não pode ser auditado e cuja segurança e privacidade do usuário depende de sua total confiança na multinacional que o controla. Sobre o Android ser ou não software livre veja o disse Richard Stallman em artigo traduzido pelo blog Cybermundo.

Do ponto de vista prático, devemos considerar que o sistema desenvolvido pela Apple tem por objetivo promover o consumo de outros produtos e serviços da empresa como iCloud, iTunes, Apple TV, Apple Music, Apple Arcade, etc. Além disso, a Apple incentiva os desenvolvedores de aplicativos a cobrar assinaturas por recursos extras e novidades nos aplicativos do iOS, forçando o usuário a pagar mensalidade em vez de comprar a licença do aplicativo. Em geral, os preços das assinaturas do mesmo aplicativo é maior no iOS que no Android, uma vez que a Apple costuma cobrar uma taxa maior dos desenvolvedores, fazendo com que seus usuários gastem mais para utilizar o mesmo serviço.

Outra consequência de ter a venda casada de hardware e software é que os produtos Apple são bem mais fechados que em relação ao Android, por exemplo. Isso se estende aos aplicativos, cuja instalação se faz exclusivamente pela loja da Apple. Para usuários Android esse tipo de impedimento não ocorre, ele pode baixar e fazer instalação de qualquer aplicativo em formato APK. Além disso, o usuário pode acessar qualquer outro aplicativo de loja ou site que disponibilize aplicativos nesse formato. Dessa maneira, há muitos aplicativos que somente estão disponíveis para o Android.

Diante do que foi exposto, sabendo que há alternativas que se equivalem ou até mesmo superam em qualidade o produto da Apple, e que essas alternativas rodam softwares que não são inteiramente fechados e obscuros quanto o iOS; que o preço desses produtos são menores em função da subjetividade discutida no início deste artigo e, finalmente, conhecendo o significado ideológico de levar um iPhone no bolso, que há um fator limitante de segurança e liberdade imposto pelo modelo fechado da Apple, podemos decidir se é oportuno e vantajoso ter um iPhone, porque discutir simplesmente se um trabalhador pode ou não pode possuir um bem de consumo feito por outro trabalhador não tem o menor cabimento, a não ser, é claro, que alguém acredite que o iPhone seja feito por burgueses.

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(*) kernel (núcleo em inglês) é o componente principal de um sistema operacional, é o conjunto básico de instruções que traduz para linguagem de máquina as requisições dos programas e aplicativos.

(**) Software livre: é o software cuja licença garante 4 liberdades, a primeira diz que qualquer pessoa pode usar, a segunda assegura que qualquer pessoa possa ter acesso ao código fonte, a terceira liberdade exige que qualquer pessoa possa modificar e por fim a quarta liberdade estabelece que qualquer pessoa possa distribuir o software. Estas liberdades eliminam os empecilhos da propriedade intelectual, democratizam o acesso a tecnologia e estimulam o surgimento de comunidades cooperativas e colaborativas de desenvolvedores de software.

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* As opiniões dos colunistas não expressam, necessariamente, as deste Diário.

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