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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

20 anos guerreando entre si

O Talibã era amigo dos EUA. E daí?

Mais um malabarismo da esquerda circense para justificar seu apoio ao imperialismo

Um dos principais argumentos da esquerda pequeno-burguesa centrista para não apoiar a libertação do Afeganistão como fruto de uma insurreição popular é o fato de que o Talibã era aliado do imperialismo.

Sim, o Talibã era aliado do imperialismo. Era.

Para combater os soviéticos, que haviam entrado no Afeganistão para se proteger do imperialismo, os EUA armaram e financiaram os mujahedin. Osama bin Laden era considerado um “guerreiro pela paz” por parte da imprensa imperialista.

Os soviéticos se retiraram, finalmente, em 1989, após 10 anos de guerra. As forças guerrilheiras, embora com apoio do imperialismo, tinham também, no entanto, grande apoio dentre as massas afegãs. Afinal, a invasão soviética, embora defensiva, nunca foi “flor que se cheirasse”. Após a guerra, saíram com moral elevada, o que lhes permitiu romper sua aliança com o imperialismo.

Tanto é que muitos dos combatentes que lutaram contra os soviéticos, depois formaram o Talibã, que chegou ao poder no país finalmente em 1996. Bin Laden se abrigou sob o governo Talibã.

As contradições com o imperialismo se acirraram com as ligações do Talibã com o chamado “terrorismo” islâmico ─ resposta encontrada pelos povos do Oriente Médio ao terrorismo imperialista contra seus países.

Os Estados Unidos invadiram o Afeganistão em 2001. Foi a prova mais concreta do fim de qualquer tipo de aliança com o Talibã. Na semana passada, Joe Biden revelou muito claramente qual era a intenção do imperialismo.

“Fomos ao Afeganistão há quase 20 anos com objetivos claros: capturar aqueles que nos atacaram no 11 de setembro de 2001 ─ e garantir que a al Qaeda não pudesse mais usar o Afeganistão como uma base para nos atacar. Nós fizemos isso ─ uma década atrás. Nunca pretendemos construir uma nação”, afirmou com uma honestidade rara de se ver em um filho da puta como ele.

Desde então, foram 20 anos de guerra entre o povo afegão ─ organizado principalmente no Talibã ─ e o imperialismo mundial, liderado pelos EUA. Até que, no último dia 15, os todo-poderosos ianques fugiram como cadelas de Cabul, com a chegada das forças de libertação nacional afegãs. E o Talibã tomou o poder.

Apesar de ser uma coisa muito óbvia até mesmo para um feto, uma parte da esquerda “anti-imperialista” brasileira não entendeu que foi uma derrota do imperialismo.

Ela se prendeu aos episódios de 40 anos atrás. É uma esquerda retardada, em muitos sentidos.

Seu “anti-imperialismo” é uma piada. Ela é anti-imperialista só quando está assistindo a um filme de Hollywood. Na vida real, quando é para sair em defesa dos povos oprimidos, ela se esconde debaixo da cama e se cala sobre as agressões imperialistas. Ainda bem que ela é tão irrelevante que os povos do mundo não necessitam dela ─ e os talibãs comprovaram isso, mesmo de sandálias e sendo criadores de cabras, expulsaram a maior potência do globo.
Mas nossa esquerda é ao menos coerente. Não é a primeira vez que ela deixa de lutar contra o imperialismo utilizando o pretexto de que a vítima do imperialismo seria aliada… do imperialismo. Foi assim com os stalinistas do PCB em 1954, quando se recusaram a defender Getúlio Vargas do golpe do imperialismo, porque ele havia sido aliado dos EUA. Com Perón, idem ─ aí, no ano seguinte, juntaram-se ao golpe os pseudotrotskistas.

Mas o episódio mais famoso foi recente. Parte dos grupos de esquerda brasileiros recusaram-se a lutar contra o golpe contra o PT (diferente de todos os exemplos anteriores, esse era um governo de esquerda, até ideologicamente próximo a esses grupos.

A desculpa encontrada por PCB e PSTU era que sequer havia um golpe em marcha no País! Jones Manoel, que também condenou a vitória do Talibã no Afeganistão contra os EUA, fazia campanha para que a esquerda não defendesse o PT. “Não considero a ofensiva em curso como golpe”, escreveu em março de 2016. “Não, não prestamos qualquer apoio ao Governo do PT e não entramos na histeria de golpe”, retornou, no mês seguinte. E isso porque já rolava o pedido de impeachment de Dilma, que caiu finalmente em agosto daquele ano! O PSTU, por sua vez, até hoje diz que não foi golpe!

Alguém arrisca a posição dos morenistas sobre a vitória do Talibã? Isso mesmo, uma condenação total!

Mas qual era o “argumento” central desses grupos para dizer que não havia golpe? O argumento era o de que o PT era aliado da burguesia e do imperialismo. Isso, em plena campanha de todos os setores do imperialismo, da imprensa, do Congresso, do Judiciário, das Forças Armadas, dos banqueiros e da maioria dos capitalistas contra o PT!

Esses pseudomarxistas entendem tanto de marxismo quanto um neanderthal entendia de física quântica. Não conseguem analisar as relações entre as classes sociais e a dinâmica da luta entre elas. Quando o PT chegou ao governo em 2002, foi com o apoio da burguesia e do imperialismo. E aí esses grandes revolucionários o apoiaram! Mas quando o PT se tornou um empecilho para a burguesia o imperialismo, iniciou-se a campanha que visava nada menos do que derrubá-lo do governo. E nossos exímios analistas da esquerda antipetista acharam que ainda estávamos em 2002!

Consequentemente, ao não apoiarem o PT contra o golpe imperialista, esses setores da esquerda (PCB, PSTU e PSOL) terminaram por apoiar o golpe imperialista. Porque, em um caso como esse, não há meio-termo. Ou se está ao lado do PT e, portanto, contra o golpe, ou não se está ao lado do PT e, portanto, a favor do golpe. E se o golpe era um golpe do imperialismo, esses setores se postaram do lado imperialismo.

O mesmo ocorre agora no Afeganistão. Se o Talibã fosse aliado do imperialismo, não teria permanecido 20 anos em guerra contra ele. Não teria recebido grande apoio do povo afegão. Não teria chutado a bunda dos branquelos americanos. E não teriam recebido o apoio do Hamas, de Cuba, da China, da Rússia e da esquerda internacional que não constrói sua política baseada no mundo da fantasia.

A imprensa imperialista também é mais inteligente que a esquerda brasileira. Afinal, todos os jornais, incluindo os brasileiros, estão fazendo uma grande campanha de ataques ao Talibã (será porque ele é aliado dos EUA?). Os órgãos dos banqueiros também reconhecem a derrota imperialista (será porque ela foi proporcionada por um aliado do imperialismo?).

O Financial Times escreveu: “A queda de Cabul para o Talibã ─ 20 após ele ter sido expulso ─ vai pôr um fim à influência americana no Afeganistão, provavelmente por décadas. Nesse sentido, é comparável à derrubada do Xá do Irã em 1979, à queda de Saigon em 1975 ou à Revolução Cubana de 1959.”

Será preciso desenhar para a esquerda brasileira entender?

“Ah, mas os talibãs fizeram vários acordos com os americanos para acabar com a guerra”, dirão alguns. Mas quando isso não ocorreu? A Guerra da Coreia terminou com um armistício e foi uma vitória do povo coreano e do Estado Operário norte-coreano. Antes dos EUA fugirem do Vietnã, havia ocorrido um longo processo de negociações com os vietcongs e o governo do Vietnã do Norte. Isso não invalida a grande conquista desses povos e a humilhação norte-americana.

A esquerda brasileira é derrotista, acredita que o imperialismo é invencível. Talvez por ela mesma estar tão adaptada a ele, ser dependente dele. Não deve ser levada a sério, é uma esquerda perdida.

O Talibã, embora não seja marxista, comunista nem nada do tipo, deve ser defendido contra o imperialismo. Da mesma forma que devem ser defendidos todos os governos nacionalistas burgueses, como o PT, Vargas e Perón. E sua vitória deve ser celebrada, pois não foi somente a derrota de um golpe: foi a expulsão do imperialismo do Afeganistão, desencadeada por uma revolução popular. Agora compete ao próprio povo afegão controlar o seu destino.

“Não há limites nesta luta até a morte. Não podemos ficar indiferentes ao que acontece em qualquer parte do mundo, pois a vitória de qualquer país sobre o imperialismo é a nossa vitória; assim como a derrota de qualquer país é uma derrota para todos nós”.

Che Guevara

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