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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Ásia, África e América Latina

O stalinismo nunca apoiou nenhuma revolução; as boicotou (III)

Libertação nacional dos países coloniais, uma onda revolucionária anti-imperialista e anti-stalinista

No artigo anterior, mostramos como Josef Stálin, após trair a Revolução de Outubro, traiu também as revoluções na Europa Ocidental no final da II Guerra Mundial, bem como boicotou e buscou controlar as revoluções no Leste Europeu.

Ao contrário do que pensam as viúvas de Stálin, não foi a vitória da União Soviética sobre o nazismo que gerou a onda revolucionária do pós-guerra. Certamente tratou-se de uma heroica mobilização do povo soviético na expulsão dos nazistas de seu país, apesar de toda a política errática do Estado Soviético naquela época. No entanto, foi a própria guerra em si que levou às revoluções.

Tal como ocorreu na I Guerra Mundial, o mundo capitalista se corroeu (sendo a própria guerra um indício do declínio do sistema imperialista) e, com ele, a débil estrutura de colaboração de classes, acentuando, assim, de maneira violenta, as contradições entre a classe operária e a burguesia de cada país. A I Guerra deu lugar à era da revolução mundial, cujo ensaio geral foi a Revolução Russa de 1917, como disse o próprio Lênin. A II Guerra deu lugar à segunda onda de revoluções, e isso ocorreria independentemente de quem vencesse, fossem os Aliados ou fosse o Eixo.

Seria uma tolice grotesca acreditar que, caso o nazifascismo tivesse vencido a guerra, o mundo todo seria, até hoje, uma extensão do III Reich. É uma análise que não acompanha o desenvolvimento materialista da história, ou seja, o desenvolvimento da luta de classes.

Assim, com a crise imperialista que desembocou na II Guerra, seria inevitável que uma onda de revoluções ocorresse no mundo todo. E foi justamente o que ocorreu: na Europa, na África, na Ásia e na América Latina.

Comprovação disso foi que as duas maiores potências coloniais, Inglaterra e França, foram os maiores prejudicados com a guerra. Mesmo vencedores, os imperialismos francês e britânico saíram brutalmente enfraquecidos do conflito, o que deu um impulso para a luta de libertação nacional em suas colônias.

O Vietnã vinha de uma longa luta contra o domínio francês e japonês e, em 1945, conquistou sua independência, nove anos depois saindo-se finalmente vencedor contra os franceses após a heróica Batalha de Dien Bien Phu. O mesmo se deu na China, quando o país foi liberto do imperialismo japonês em 1945 e o Partido Comunista tomou o poder em 1949. Tanto Ho Chi Minh como Mao Tsé-Tung colocaram-se, na prática, contra a política stalinista, que previa a “boa vizinhança” com seus aliados desde a Guerra, ou seja, com Inglaterra, EUA e França, e que ficou oficializada após as conferências de Teerã, Ialta e Potsdam, nas quais foi estabelecida uma divisão do mundo em zonas de influência em que a URSS concordava em não interferir nas regiões onde o imperialismo dominava.

Tanto é que a URSS não colaborou nas revoluções vietnamita e chinesa. No âmbito da Conferência de Ialta, Stálin fez a seguinte afirmação a Churchill e Roosevelt sobre a Indochina: “A Indochina terá de ser independente, mas ainda não é capaz de governar-se por si mesma” (Stalin, Jean-Jacques Marie, p. 753). Por um lado, a URSS defendia que a Indochina ficasse sob o protetorado da ONU, o que já era em si uma traição à luta dos vietnamitas, laosianos e cambojanos pela independência. Por outro lado, o Partido Comunista Francês, controlado por Moscou, participou, logo após a II Guerra, do governo burguês que organizou a guerra da Indochina para manter a região uma colônia da França.

Após a vitória da revolução chinesa, Stálin reconheceu que fez todo o possível para subordinar os comunistas aos reacionários do Kuomintang. “Eu também duvidava que os chineses pudessem ganhar e os aconselhei que se entendessem provisoriamente com Chiang Kai-shek. Na forma estiveram de acordo conosco, mas de fato continuaram com sua política de mobilizar as forças do povo chinês.” (Idem, 829)

O stalinismo tampouco apoiou a revolução indiana que levou à independência do país em 1948. Também não foi nem de longe crucial para a revolução coreana, apesar de o Exército Vermelho ter ocupado o norte da Coreia em 1945 – abordaremos a revolução coreana em artigo à parte.

Se as revoluções vitoriosas na Ásia foram lideradas por partidos comunistas não controlados por Moscou, na África os partidos comunistas não conseguiram se desgarrar do domínio stalinista e, por causa disso, foram absolutamente fracassados.

Devido à aliança de Stálin com as “democracias” imperialistas, nas colônias dessas “democracias” os partidos comunistas stalinistas se alinharam aos governos coloniais e, inclusive, promoveram uma campanha de alistamento das massas aos exércitos coloniais, como ocorreu nos países árabes, colonizados por França e Inglaterra. Logicamente que essa campanha tornou esses partidos extremamente impopulares, uma vez que a luta e o sentimento anti-imperialista já era uma realidade nos povos árabes.

Essa política traidora dos partidos comunistas teleguiados pela URSS jogou as massas populares, ansiosas pela independência nacional, para a influência dos movimentos nacionalistas burgueses, que, ao contrário dos comunistas, pregavam uma luta contra os colonizadores. Por isso todas as revoluções na África e no Oriente Médio foram lideradas pelo nacionalismo, e não pelos comunistas, e acabaram não ultrapassando os marcos do Estado burguês, embora algumas delas tenham adotado políticas radicais contra a propriedade privada. Daí ser incorreta a afirmação do intelectual petista Breno Altman de que “as várias revoluções pós-1945 foram comandadas por partidos aliados à URSS ou ao movimento comunista se integraram”.

Um caso exemplar da política traidora do stalinismo ocorreu durante a revolução argelina. Em meados dos anos 1950, quando o movimento popular se inflamava contra o colonialismo francês, o Partido Comunista da Argélia se colocou contrário à proposta da recém-criada Frente de Libertação Nacional de tornar o país independente da França. O argumento esdrúxulo dos stalinistas era de que isso favoreceria o imperialismo norte-americano. A situação chegou a ser tão dramática que a FLN, composta e apoiada pelos esfarrapados dos subúrbios e rincões argelinos, foi obrigada a executar uma série de membros do PCA, para impedir uma sabotagem da revolução.

Posição semelhante ao PCA tomou o Partido Comunista de Cuba, um velho partido stalinista que havia respaldado o então nacionalista Fulgencio Batista no início dos anos 1940. Acreditando que o já ditador fantoche dos EUA ainda era um representante do nacionalismo burguês, mesmo sendo evidente o repúdio que ele recebia das massas empobrecidas da ilha caribenha, os stalinistas comandados por Moscou se recusaram a apoiar o Movimento 26 de Julho quando este propôs a derrubada revolucionária do regime e a tomada do poder. Tal como na Argélia, os stalinistas foram ultrapassados pelos anseios revolucionários do povo cubano. O partido stalinista foi varrido do mapa e o partido comunista só foi reconstruído após a revolução, quando da declaração do caráter socialista do empreendimento cubano por Fidel Castro e a necessidade de se formar um partido dirigente da edificação do socialismo em Cuba – portanto, um partido não stalinista, limpo do domínio que o antigo PCC sofria da burocracia soviética.

O máximo que o stalinismo fez – agora já representado pelos sucessores de Stálin, como Khrushchev e Brejnev – foi dar um modesto (para dizer o mínimo) suporte militar a alguns movimentos de libertação nacional, ficando muito aquém da ajuda dos próprios cubanos, chineses ou mesmo norte-coreanos, que proviam treinamento, armas e tropas para os revolucionários dos países coloniais.

O “apoio” soviético nada tinha a ver com a promoção da revolução socialista, mas sim, diante da iminente revolução, conquistar aliados geopolíticos e governos que pudesse controlar, a fim de garantir um domínio político que lhe oferecesse valiosos aportes à sua economia já visivelmente cambaleante devido à própria integração ao sistema financeiro capitalista. Essa política levou os chineses e albaneses a tacharem os soviéticos de “social-imperialistas” – um exagero absurdo, mas que encontrava seus motivos à medida que a burocracia stalinista corrompia os líderes das revoluções nos países coloniais para que não aprofundassem o processo revolucionário a fim de não incomodar o imperialismo, cada vez mais ligado à burocracia soviética.

Para situar o leitor, basta recordar as revoluções em Angola, Moçambique ou mesmo na Nicarágua, que foram lideradas e levaram agrupamentos de tipo nacionalista ao poder (MPLA, Frelimo e FSLN). O apoio soviético só chegou após esses partidos estarem consolidados no poder, e se resumiu a uma política de engessamento da revolução, burocratizando o processo revolucionário, impedindo seu desenvolvimento e atrelando seus respectivos governos à burocracia stalinista. Não é nenhuma coincidência que nesses três países exemplificados os governos tenham caído (caso da Nicarágua) ou realizado reformas capitalistas para restabelecerem o domínio do imperialismo no mesmo momento em que a URSS se desintegrava e eram varridos do mapa os Estados Operários do Leste Europeu.

Se quisermos resumir a história do stalinismo, basta fazer uma ficha corrida das principais revoluções que ocorreram no mundo, tanto vitoriosas como derrotadas. Em todas elas o stalinismo desempenhou um papel negativo, para não dizer contrarrevolucionário.

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